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USP
Arrancaram os nossos salários mas não a nossa dignidade: a greve da USP na visão dos trabalhadores.
Marcello Pablito
Trabalhador da USP e membro da Secretaria de Negras, Negros e Combate ao Racismo do Sintusp.

Em meio à crise politica e econômica que resultou na ascensão do governo golpista de Temer, os trabalhadores, estudantes e professores da USP realizaram este ano mais uma importante greve conjunta com trabalhadores, estudantes e professores da Unesp e Unicamp contra o desmonte da universidade publica e em defesa da educação. Foram 68 dias de luta onde se enfrentaram duas trincheiras opostas que decidem o destino da universidade e do conhecimento produzido nesta.

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Um dos campos em combate é composto pela burocracia universitária, representada na figura do reitor Marco Antonio Zago, integrada também por diretores de unidade, conhecidos por comandar a produção de conhecimento destinado a otimizar os lucros e dar melhores condições de concorrência ao capital privado nacional e imperialista no mercado. É integrada por ilustres dirigentes doutorados nos lobbies, conchavos e negociatas belamente maquiadas e mantidas sob o sigilo que guarda sob sete chaves o comércio de cargos, favores, pesquisas e os escândalos de corrupção que estamparam nas capas dos jornais algumas personalidades. Doutores como o senhor José Sidnei Martinez Colombo (envolvido nos desvios de verbas das obras do Metro de São Paulo) e José Roberto Cardoso envolvido nos escândalos de corrupção da Petrobras, para não falar em Oswaldo Nakao que, em nome da legalidade e do saneamento das contas da USP, levou a bagatela de R$ 571 mil reais em demissão no PIDV e continuou trabalhando na USP. Como se vê, a USP não forma apenas figuras como Temer, Maluf, FHC, Serra, Haddad, Henrique Meirelles mas tem um cardápio variado de parasitas.

Uma das espécies que tem rastejado nas salas da reitoria é Marco Antonio Zago, um médico-burocrata representante da máfia de branco que negocia a transferência do Hospital Universitário da USP para as mãos de empresas dos próprios amigos do círculo meritocrático, como o senhor Giovani Guido Cerri um medico-empresário que comanda os lucros milionários e ocultos das fundações privadas ligadas à área da saúde. O objetivo comum das variadas frações: avançar na privatização da universidade através da entrega de seu patrimônio, do trabalho, das pesquisas feitas ao longo de décadas e degradação e fechamento de unidades inteiras como as creches, terceirização dos restaurantes, demissões de trabalhadores efetivos e terceirizados, fechamento da Escola de Aplicação, e lutam fervorosamente contra a implementação das cotas raciais na USP

Do outro lado do campo, trabalhadoras e trabalhadores, seres humanos que vivem da venda de sua força de trabalho. Não tem grandes posses, muitas vezes pouco estudo, mas uma convicção inquebrável de defender através da luta a educação, mesmo sabendo que boa parte deles e de seus filhos se quer consiga ter acesso a uma parte dessa educação. São técnicas de informática, auxiliares administrativos, auxiliares de cozinha, pedreiros, carpinteiros, auxiliares de enfermagem, mecânicos de ar condicionado, eletricistas que deixam anonimamente todos os anos parte do tempo de suas vidas, seu trabalho, seu suor para dar a sua parcela de contribuição para que a USP seja conhecida como um gigante na produção de conhecimento. Entre esses muito poucos tem titulo de doutor, mas carregam no currículo experiência e uma fibra criada durante a vida construída nas privações e pequenas derrotas individuais que somente o capitalismo brasileiro pode oferecer. Olham a sociedade não com a felicidade artificial dos banquetes e comemorações honorárias que gozam sua hipocrisia de costas para a miséria e mazelas do povo, ao contrário, aprenderam a ver o mundo por dentro, decifrar suas engrenagens e por trás de cada coisa que se move conseguem ver com seus olhos de raio-x, braços e mãos como os seus que movimentam tudo. Descobriram que a força desses braços não carrega apenas o mundo nas costas mas pode paralisar suas atividades e se erguer de punho fechado alterando a ordem das coisas. Apesar dos descontos dos salários que deixaram na privação centenas de trabalhadores que se levantaram para defender a universidade a greve deixou mais do que cicatrizes: as mãos cansadas também aprenderam que às vezes podem deixar por alguns segundos a enorme mangueira de água usada para lavar as ruas da Cidade Universitária para percorrer o aparelho tecnológico e deixar algumas linhas:

“Pisaram hoje em nosso jardim e tentaram destruir nossas flores (famílias), resistimos o quanto pudemos nesse sentido tenho muito orgulho de todos vocês, independente de nossas divergências, pois foi com todos vocês que sustentei minhas pernas, braços e mente nessa luta. De verdade, mesmo triste com a situação que hoje se apresenta para nós, para futuro não sinto um pessimismo, simplesmente porque a água gelada que nos banhou hoje, irá afetar também os funcionários que não estiveram ombro a ombro conosco. E aprendi uma coisa em casa aprendo por amor ou aprendo pela dor.
Sem vocês eu não consigo nada.”

Poucos minutos depois, no Hospital Universitário onde a população sofre com a falta de atendimento uma injeção atrasou, não pela falta de materiais, mas porque uma das mãos da greve largou a seringa para responder:

“Perdemos uma batalha, e guerra ainda está sendo travada, não devemos nos entregar e entristecer nossa alma, ainda temos uma árdua caminhada, poderemos perder essa guerra talvez, mas não será tão fácil assim nos derrubar, poderemos cair talvez, mas tenho a certeza que cada um que está nessa batalha Vai sentir orgulho de dizer, eu lutei nessa guerra.”

E quase que simultaneamente no fundo de uma das cozinhas em meio ao vapor e as dores as vozes da greve continuam ecoando silenciosamente:

“Queridos companheiros e companheiras, perdemos uma batalha sim, não a nossa vontade de lutar e vencer tantas outras que compõe essa guerra. São as lições que certamente tiramos de cada dia dessa luta que nos fortalecerá para enfrentar muitas batalhas que a gente sabe que virá. Hoje o resultado com certeza não saiu ao nosso contento, mas isso de forma alguma nos diminui ou enfraquece, pois em momento nenhum infligimos o nosso caráter e deixamos de lado a nossa dignidade. Tenho certeza que continuaremos a buscar através das lutas as necessárias mudanças que hoje são negadas por muitos malfeitores que ali se alojaram para destruir e privatizar o que lhes convém. Somos aguerridos de forças e vontade de transformar pela igualdade, portanto vamos permanecer unidos em busca de novos resultados.
A luta continua e jamais devemos esquecer que "Juntos somos mais fortes ",e que sem luta não há vitórias que nos apeteça a alma. Boa noite!”

Mesmo com mais essa tentativa da reitoria e do governo Alckmin de desmoralizar e impedir os trabalhadores de lutar, impondo privações as suas famílias com o desconto dos seus salários na greve da USP, esse golpe não foi suficiente para “acabar com a dinâmica de sindicalismo no ambiente universitário”. Estas linhas e este site estão a serviço de preparar e organizar nossas próximas batalhas de classe.

 
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