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MÉXICO / CASAMENTO IGUALITÁRIO
O que há por trás da traição de Peña Nieto à Igreja Católica?
Pablo Oprinari

Novamente, a Igreja católica saiu em cruzada, condenando a iniciativa relativa ao matrimônio igualitário. Hugo Valdemar, responsável pelo semanário “Desde la fe” – publicação informativa dos arquidioceses de México-, sustentou que Enrique Peña Nieto “traiu” a Igreja com essa iniciativa que legaliza os matrimônios entre pessoas do mesmo sexo.

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Peña Nieto, questionado pela cúria
O matrimônio igualitário é uma demanda sentida por amplos setores da população e em particular pela comunidade homossexual. A iniciativa apresentada por Peña, no dia 17 de março para reformar o artigo 4 da Constituição, pretendia dar ao governo um perfil democrático em um contexto de crescente desprestígio, ocasionado por suas políticas autoritárias e repressivas.

Entretanto, estas medidas – como aquelas referentes a legalização parcial da maconha – não foram suficientes para frear a queda de popularidade do governo, tal como se expressou nas urnas no dia 5 de junho, quando o Partido Revolucionário Institucional sofreu uma importante derrota e se converteu na segunda força eleitoral nacional. Na cidade de México, um dos epicentros da luta pelos direitos das mulheres e da comunidade LGBT, o PRI sofreu uma de suas piores derrotas.

Juntamente com isso, desde que tomaram conhecimento dos resultados desfavoráveis do partido do governo, escancarou-se que a hierarquia eclesiástica realizou uma campanha ativa para promover o voto “anti-PRI”, convocando em distintas entidades seus fiéis para que votassem em particular pelo Partido Ação Nacional (PAN).

Isso entortou o panorama político a tal ponto que a presidência do tricolor, apelido para o PRI, tentou nesse momento desmentir que foi esse um fator decisivo para a derrota.

Porém, mais do que determinar qual foi a incidência real da campanha que mencionamos, o PRI perdeu em vários estados para o PAN e sua aliança com o Partido da Revolução Democrática (PRD). Setores que antes apoiavam ao tricolor passaram à oposição e votaram esta vez por um partido que conta com o aval explícito da hierarquia católica, um voto de castigo ao PRI mas conservador, no qual podem ter calado os discurso da cúria.

As causas da Igreja
Se existe aqueles que pensavam que as rusgas entre a igreja e o governo iriam terminar na exposição da campanha para promover um voto contra o PRI, hoje vemos uma escalada midiática. “Não havia ocorrido um choque tão forte entre o governo e a Igreja desde que se promulgaram as leis anticlericais de Plutarco de Elías Calles e desde que o general Lázaro Cárdenas introduziu a educação socialista”. Hugo Valdemar chegou a afirmar que repudiava “introduzir a ideologia de gênero nos livros didáticos; dizer as crianças que podem mudar de sexo sem a permissão de seus pais é algo totalmente abominável, é impor uma ideologia totalitária e retirar a autoridade dos pais de família.

Falta pouco para que acusem de “comunista” o neoliberal Peña Nieto, o mesmo que pediu a benção papal para se casar com Angélica Rivera.

“Não havia ocorrido uma colisão tão forte entre o governo e a Igreja desde que se promulgaram as leis anticlericais de Plutarco de Elías Calles e desde que o general Lázaro Cárdenas introduziu a educação socialista” Hugo Valdemar

Para além do histrionismo evidente da cúpula eclesiástica, se evidencia que se quer tirar proveito de uma situação de debilidade da imagem presidencial, para pressionar abertamente e impor sua agenda, ou pelo menos atacar aspectos específicos da agenda de Peña.

O lobby eclesiástico busca por sua vez fortalecer sua imagem em suas próprias fileiras: não devemos nos esquecer que muito se disse a respeito da baixa afiliação à ideologia da Igreja Católica. E para isso se desencadeia uma ofensiva reacionária contra as liberdades democráticas. Em particular, contra o direito da comunidade homossexual ao matrimônio igualitário e o conjunto de suas demandas.

Não é casual que, nesse mesmo tom, o direitista Partido Encuentro Social (PES) organizou na Câmara de Deputados, o foro Pela vida e pela família, com representantes das igrejas cristãs, no qual se questionou essa iniciativa. Ainda que o PES seja uma pequena força, essas igrejas cresceram em importância nos últimos anos.

O panorama para Peña Nieto não é fácil. Do descontentamento de amplas camadas de trabalhadores e outros setores populares, à possível emergência de alianças opositoras para o 2018 entre os outros partidos ao serviço dos empresários (o PAN e o PRD) e inclusive entre este último e o Morena, se acrescentam as rusgas com a Igreja Católica, uma instituição reacionária com grande influência política e social no país.

Sem dúvida, a defesa das liberdades democráticas e dos direitos dos setores mais oprimidos da sociedade, não passa por nenhum dos partidos e instituições desta democracia dos ricos. A ofensiva reacionária da Igreja contra as aspirações democráticas deve ser respondida pelas organizações operárias, sociais, populares e de esquerda, incorporando como sua bandeira as demandas da comunidade LGBT.

 
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