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JUIZ DE FORA
Grito de uma operária têxtil na Manchester brasileira
Douglas Silva
Professor de Sociologia
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Uma mulher, que assim como várias outras enfrentam em Juiz de Fora e no Brasil todo o peso da dupla exploração que sofrem pelas mãos do capitalismo. Por um lado, no trabalho pesado de um fábrica têxtil, onde canta o barulho infernal das máquinas, e por outro, o trabalho pesado de quem carrega nos ombros o cuidado da casa e do filho.

Essa mulher é minha mãe, minha vó, minha tia e minha irmã. Ela é em Juiz de Fora o que várias mulheres são Brasil à fora. Enfrentam nas fábricas o que o capitalismo impõe de mais cruel. São oito horas onde até a ida ao banheiro é supervisionada. A hora do almoço, uma hora contada. O barulho ensurdecedor das máquinas e o movimento contínuo dos braços para costurar e arrematar cada camisa são a receita das doenças que se desenvolvem dentro da fábrica têxtil.

Depois de alguns anos enfrentando dores nos braços e nas costas, procura um médico – outra coisa nada fácil para uma trabalhadora – e depois de vários enxames demorados o resultado é a tendinite e problemas na coluna. Enfim, consegue “encostar”.

Os dias seguiram e aquela mulher agora não estava na fábrica, mas todos os dias ainda trabalhava. A casa ainda era sua “fábrica”, o barulho da cozinha e da água que batia no box do banheiro era as atividades de um trabalho sem carteira assinada.

Depois de uns 3 anos encostada e de várias sessões de fisioterapia e perícias constrangedoras - onde muitas das vezes o simples fato de ainda respirar é para o Estado condições suficientes de trabalhar - ela recebeu a carta para comparecer à outra perícia, o coração quase parou. Já tinha ouvido suas amigas comentando que várias companheiras da fábrica estavam tendo que voltar à trabalhar, mesmo com exames médicos comprovando os vários casos de doenças fruto do trabalho.

Hoje, após alguns dias de espera pelo resultado, ela recebe a carta onde diz estar apta à voltar ao trabalho. Ela chora, liga para o filho com a voz fraca e desesperada de quem sente nos braços e nas costas o contrário do que diz a carta. Essa mulher, assim como muitas outras é o retrato de cada fábrica, de cada operária que tem suas vidas sugadas pelo patrão e pelo patriarcado. Ela segue tentando provar o que seu corpo grita: não posso voltar para a fábrica! Afinal, para os capitalistas, seus gritos são em vão. Mas para os trabalhadores, seu grito é um grito de revolta.

 
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