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MOBILIZAÇÃO ESTUDANTIL
Filosofia-UFMG paralisa contra Temer golpista, seus ataques e ajustes, em dia de importante mobilização
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Para quarta-feira (8) foi votado um dia de paralisação das aulas e a realização de três “aulões” públicos na manhã, tarde e noite com o tema “Fora Temer Golpista, seus ataques e ajustes!”. A paralisação das aulas foi completa e a presença nos três “aulões” foi massiva, com mais de 100 estudantes do curso e dezenas de pessoas vindas de fora, mostrando a politização e ânsia de discussões que existe na juventude e na universidade.

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Os estudantes da filosofia se organizaram, realizaram quatro assembleias e decidiram seguir o caminho que vêm trilhando milhares de jovens nas ruas, universidades e escolas de todo país: lutar pela derrubada desse governo ilegítimo e defender nossa educação, nossos direitos e nosso futuro.

Foram dias de organização e dezenas de estudantes envolvidos nas assembleias, expressando uma importante politização e organização desde a base, que culminou numa mobilização histórica do curso, com todas as aulas da manhã e da noite paralisadas e um importante apoio dos próprios professores da filosofia.

Na atual situação nacional, com a consolidação do golpe institucional e o afastamento da presidente eleita Dilma Rousseff, cresce a compreensão da função do atual governo Temer: ataques aos direitos democráticos, ataques às mulheres, negros e LGBT, aprofundamento da impunidade dos corruptos, aceleração dos ajustes econômicos a mando dos grandes empresários e avanço de tudo que há de mais conservador e reacionário na sociedade.

Após essa importante ação do curso o desafio é aprofundar os debates e conseguir trazer cada vez mais estudantes para as assembleias e espaços de auto-organização, "contaminando" outros cursos da FAFICH e da UFMG e procurando criar as condições para formas de luta mais radicalizadas contra o governo golpista de Temer e os ataques a direitos e ajustes econômicos que vem anunciando e já executando. É preciso seguir o exemplo da UNICAMP, USP e UNESP, dos secundaristas por todo o país, e por de pé uma forte resistência que conquiste apoio de professores, funcionários e setores de fora da universidade, buscando também colocar em cena a classe trabalhadora em luta, com greves e paralisações.

Saiba como foram as dicussões:

O primeiro “aulão”: Educação e Cultura

Com a Arena da FAFICH lotada, aconteceu das 9:30 às 12:30 e teve a presença dos professores Marco Sacarassatti, da FaE, e Rodrigo Duarte, Virgínia Figueiredo e Eduardo Soares, do departamento de filosofia na FAFICH.

O professor Rodrigo Duarte falou sobre o filósofo Theodor Adorno e o papel da indústria cultural na construção de sujeitos incapazes de crítica e o papel desta alienação no crescimento de pensamentos fascistas e autoritários.

Eduardo Soares falou da crescente diversidade das universidades e desta como valor universal e mais importante das universidades; além disso discutiu o cenário de investimento em educação e o momento atual de corte de verbas, defendendo que os cursos de ciências humanas deveriam também participar das discussões sobre parcerias-público-privadas (PPPs) nas universidades, em suas diversas modalidades, que vêm se colocando como saída à falta de verbas.

O professor Marco Scarassatti fez uma fala mais política apontando o caráter golpista do atual governo que procura aprofundar os ataques à educação que o próprio PT vinha fazendo, mostrando também como os pactos do PT com a direita e a estratégia de governabilidade mostraram seus limites; também trouxe o exemplo dos secundaristas e potencial das ocupações na criação de novos modelos de escola que lutem pela liberdade dos alunos e do conhecimento e fortaleçam a autonomia e a capacidade crítica dos sujeitos.

Francisco Marques, estudante de filosofia e colaborador do Esquerda Diário interviu na discussão e disse o seguinte: “Ajudamos a construir e saudamos esse importante dia de mobilização. Intervimos nesta mesa mostrando todos grandes exemplos de luta que vêm aparecendo no Brasil, que são o ponto de apoio para lutar por educação pública, gratuita e de qualidade para todos, lutando pelo fim do vestibular com a estatização das universidades privadas e também pela democratização radical da estrutura da universidade.”

O segundo “aulão”: Minorias Sociais e Ocupações

Também na Arena da FAFICH, aconteceu das 14: às 15:30. Como convidadas estiveram na mesa a estudante de direito Helena Souza, pela Ocupação Mata Machado, a professora Renata Aspis da Faculdade de Educação e Taís da Escola de Belas Artes pela Ocupação Tina Martins.

Helena Souza contou a história da ocupação, já finalizada, que foi uma resposta ao golpe e também às atitudes repressivas da justiça, como proibir assembleias estudantis e intimidar professora também do Direito intimando-a a comparecer e explicar sua participação em movimentos políticos na condição de estrangeira; contou também que o movimento além do “Fora Temer” defendia o “Volta Dilma”.

Taís, do movimento de mulheres Olga Benário e da antiga Ocupação Tina Martins contou a história da ocupação que nasceu para reivindicar a construção de uma casa abrigo para as mulheres vítimas de violência machista e conseguiu da prefeitura um espaço legalizado chamado hoje de Casa de Referência da Mulher Tina Martins; falou também sobre como é necessária a organização das mulheres e a luta contra a sociedade capitalista, denunciando o governo Temer e o machismo que este governo perpetua e aprofunda.

A professora Renata Aspis citou Gilles Deleuze e Félix Guattari para problematizar a noção de “minoria” e defender a subversão do modelo dominante de homem branco, heterossexual, escolarizado e de classe média, apontando como na verdade a minoria é tudo que foge a esse padrão absolutamente restrito e – esse sim – totalmente minoritário. A postura das “minorias” deveria ser, ao contrário de procurar seguir o padrão, de resistir criando novas identidades positivas e orgulhosas. A professora também falou da necessidade das ocupações e da oposição ao governo Temer e ao machismo da sociedade, que com a presença dos corpos resignificam os espaços e criam novas relações.

Houve várias intervenções e até leitura de um poema lembrando o absurdo do estupro da adolescente por 33 homens no Rio de Janeiro e o assassinato de um menino de 10 anos pela polícia. Uma das falas foi de Iaci Maria, estudante de pedagogia e militante do Pão e Rosas, que dialogou com a mesa e apontou o caráter machista do governo golpista de Temer. Para ela, o machismo é parte da sociedade capitalista e é fortalecido pelo Estado, pela grande mídia, pelo justiça e pela igreja. Frente à isso é preciso organizar um forte movimento contra Temer e por todos direitos das mulheres, já que 14 anos de PT no poder, sendo 5 com uma mulher, mostraram que os direitos das mulheres não serão conquistados em negociação com a direita mas sim com a luta.

Terceiro “aulão”: Democracia, Mídia e Crise Política

A presença de mais de 60 pessoas no aulão que começou às 19:00 e durou até as 22:25 mostrou a força da mobilização e a sede de discussões políticas dos estudantes mobilizados na filosofia. Os convidados foram Marco Antônio Alves, professor do departamento de filosofia, Flavia Vale, representando este portal Esquerda Diário, Roberta Veiga, professora do departamento de Comunicação Social e Ana Paola Amorim, professora de Jornalismo na FUMEC.

Roberta Veiga citou Jacques Rancière, Walter Benjamin, Godard e Guy Debord para apontar, partindo bastante do último autor, que a sociedade do espetáculo mediada e criada por imagens cria um falso consenso onde a contradição não aparece, protegendo o status quo da sociedade capitalista. Para ela é necessário uma quebra com essa homogeneidade das imagens, e mostrou em projeções símbolos dessas quebras, como os indígenas ocupando a esplanada dos ministérios em Brasília ou as interrupções de transmissões da Rede Globo que denunciavam a própria emissora como golpista.

Ana Paola Amorim relembrou a história e o papel da grande mídia do país, apontando como a Ditadura Militar desmontou os veículos midiáticos que não haviam apoiado o golpe e como as próprias diretrizes apontadas pela constituição de 1988 em relação às comunicações nunca se tornaram leis, permitindo a inexistência de canais públicos e estatais, e por outro lado a existência de uma mídia mercadológica e dominada por monopólios. Esse é um dos fatores que permitiram que tenha havido tamanha hegemonia golpista na mídia do país. Por isso para a professora é necessário lutar pela democratização da mídia.

Flavia Vale, professora de sociologia e representante deste Esquerda Diário, contou da iniciativa da criação deste portal há um ano e da consolidação com centenas de milhares de acessos na luta contra o golpe e contra Temer. Para Flavia Vale, o PT com sua estratégia de conciliação foi quem permitiu o fortalecimento dessa direita reacionária que implementa um golpe contra os trabalhadores e a juventude, na já degradada democracia do Brasil, e por isso é preciso lutar por uma nova Assembleia Constituinte Livre e Soberana imposta pela luta, que imponha que os políticos sejam revogáveis e ganhem salários como os de uma professora, abrindo caminho para uma alternativa anticapitalista de governo dos trabalhadores.

Marco Antônio retomou a história dos golpes contra a democracia que já ocorreram no país em seus diversos tipos, mostrando a fragilidade da democracia e a condescendência quase unânime da mídia e do próprio STF em todos esses casos. Mostrou como o golpe também atropelou diversos aspectos jurídicos e presentes até na constituição. O professor afirmou que a postura frente ao atual governo não deveria ser de diálogo mas sim de resistência e oposição absoluta, e que temos que pensar na possibilidade de um movimento de greve geral que englobe também a UFMG, ligando a luta contra Temer à luta contra os cortes na educação. O professor também expressou uma preocupação com as saídas radicais que desestabilizem as instituições, pois isso poderia confluir com os interesses da própria direita, e por isso a radicalização deveria ser somente contra o governo golpista de Temer e não contra todas as instituições desta democracia e constituição, que são mesmo defeituosas e insuficientes.

Um dia histórico na Filosofia-UFMG

Os mais de 100 estudantes que participaram e todos que de alguma forma construíram a paralisação deram um grande exemplo de organização desde a base a todos cursos da FAFICH e também da UFMG. É preciso repetir, aprofundar e estender esse exemplo, colocando essa politização e sentimento de esquerda que se expressou a serviço das lutas sociais contra o governo Temer e ao lado dos trabalhadores.

 
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