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INTERNACIONAL
França: Unificar as lutas numa greve geral indefinida
Damien Bernard

Nos dias 17 e 19 de maio estão convocadas jornadas de greve com mobilização. Mais que nunca é necessário unificar as lutas e endurecer os métodos, apelando às paralisações para garanti-las.

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Começou a contagem regressiva. Desde a imposição no terreno parlamentar, o governo trata de sufocar o incêndio reaquecido pelo recurso ao artigo 49.3, para passar a infame lei do trabalho. Por isso se implementou a estratégia da tensão permanente e a figura do “provocador” em um grau superior. A repressão dos manifestantes contra a reforma trabalhista, se bem mantém determinado nível, tende a conter-se preferindo as provocações cujo objetivo é instaurar a ideia de que há “perturbadores” como principais causadores da violência.

As próximas semanas serão determinantes para a abertura de uma segunda onda de mobilizações. Através de seus métodos de luta, a greve prorrogável e as paralisações de greve, o movimento operário poderia virar o jogo e pôr em perigo os planos do governo que a todo custo trata de ganhar tempo para evitar protestos durante a Eurocopa 2016.

A cidade de Rennes em estado de sítio, a manifestação contra a violência policial proibida, prisão domiciliar para militantes que participaram nas manifestações contra a reforma trabalhista por presunção de “violência futura”, tudo isso parte de uma estratégia posterior ao decreto do governo (recurso 49) que trata de extinguir a segunda onda de mobilizações. Com esse fim, o governo, ajudado pelos meios de comunicação, usa e abusa da figura do “provocador”, tentando destacá-lo para ganhar a batalha da opinião pública, em sua maioria contra a reforma trabalhista e que simpatiza com as mobilizações.

Também se trata de voltar a instaurar o estado de exceção contra o movimento contra a reforma trabalhista e o que o cerca, embora o movimento operário pudesse entrar em cena de maneira estrondosa.

Aumenta o desprestígio da polícia pela sua violência

Depois de dois meses de violência policial, a experiência vivida pela vanguarda mobilizada contra a reforma trabalhista, especialmente entre a juventude, revelou com nitidez os objetivos da repressão policial e de suas provocações.

O governo utiliza seu braço armado para dividir e isolar a juventude, que tem sido um dos elementos motores da primeira fase de mobilização. Evitar o “todos juntos”, mas também toda coordenação possível entre a mobilização da juventude e uma entrada em cena do movimento operário, que pelo momento não tem sido esmagador. Isso se deve principalmente à política das direções sindicais e sua débil determinação frente à repressão da juventude, com a exceção do exemplo da CGT da cidade de Le Havre.

Porém não se trata apenas da “gente de esquerda”, aqueles que votaram em Hollande, apesar do silêncio midiático, puderam tomar consciência através dos vídeos que circulam pelas redes sociais, os meios de comunicação independentes e militantes, nos quais se podem ver impressionantes dispositivos policiais e o nível alcançado pela repressão e violência policial.

Já fica distante o sentimento de aprovação às forças policiais que existiam depois dos atentados de janeiro de 2015. Sobre o estado de exceção “permanente”, começa a nascer um forte descrédito da polícia e sobre os golpes da repressão aumenta a possibilidade de uma união com outra juventude, frequentemente radicalizada, aquela dos bairros populares que conhece a violência do Estado de maneira cotidiana há muito tempo.

Ganhar a batalha da opinião pública: desmascarar a figura do “provocador”

Enquanto a opinião pública segue sendo favorável às mobilizações contra a reforma trabalhista e o descrédito da polícia aumenta, o governo, apesar de estar em seu nível mais baixo de popularidade, trata de reverter a opinião pública pondo em cena a figura do “provocador organizado”. Por uma parte, esta figura iniciaria a “violência” e as “desordens”, por outra, o número de detenções se converte em uma das variáveis que mostram a firmeza do governo. Mas não só ao “provocador”, ou aqueles que metem no mesmo saco, lhes é proibido ir às manifestações, quando não as proíbem diretamente, como ocorreu em Rennes. Também perseguem aos jornalistas que visibilizam essas violências, difundindo os vídeos das provocações e a violência policial.

Desde uma perspectiva mais ampla, o governo volta a legitimar a instituição policial. O sindicato policial dos mais reacionários, Alliance (CFE-CGC), está convocando para essa quarta (18) uma manifestação sobre a consigna “chega de ódio à polícia” na Praça da República. Porém, enquanto que a presença dos sindicatos do movimento operário dentro das forças policiais – braço armado do Estado capitalista – já é uma ofensa, a CGT na polícia denuncia as ordens chegadas à alta hierarquia de “deixar os provocadores atacar nossos colegas com total impunidade”. Desse modo, se trata de um passo mais além dado por esses “sindicatos” CGT e FO da polícia: por uma parte chamam a manifestar-se com o sindicato Alliance e, por outra, incriminam e jogam um papel ativo responsabilizando os “provocadores” pelas desordens. A direção confederal Força Operária e seu secretário geral, Jean-Claude Mailly, cruzou o rio Rubicão explicando que não há que “incriminar os policiais pela violência”.

Desse ponto de vista, fortalecem a batalha midiática ao redor do “provocador”, o que o governo trata de instaurar para reverter a opinião pública.

Paralisações para reforçar as greves prorrogáveis

Com as condições atuais de exacerbação da luta de classes e a escalada de provocações e da violência policiais, organizar paralisações de greve é uma condição vital para o desenvolvimento de greves prorrogáveis majoritárias e para sua generalização.

Lembremos que em 2010, em um clima de repressão muito menor que o atual e sem todas as possibilidades que oferece o estado de emergência nesse terreno, o governo de Sarkozy não duvidou em imobilizar os petroleiros e os garis com o fim de acabar com as greves que estavam no centro do movimento contra a reforma das aposentadorias.

Hoje mais que ontem, as ilusões nos métodos pacíficos e puramente legais desaparecem e, desgraçadamente, as direções sindicais aceitam, sem sequer questioná-los, que os percursos das manifestações seja imposto, e que inclusive seja marcadas pelos cordões da CRS (as forças de segurança da polícia nacional francesa).

Em um contexto em que é evidente que toda greve que incomode seriamente o funcionamento da sociedade capitalista será reprimida, as paralisações de greve são um órgão fundamental de defesa e de combate dos setores mais determinados de nossa classe. Também é o meio mais seguro de evitar as ações minoritárias e as aventuras, de canalizar a serviço da luta a cólera acumulada contra as instituições do Estado que se intensifica com a polícia repressiva do governo.

Uma atitude resolvida e combativa dos setores do mundo do trabalho que se põem em greve prorrogável poderia constituir uma perspectiva alternativa, capaz de superar o marco das manifestações folclóricas como a estratégia impotente do enfrentamento de pequenos grupos com a polícia, estratégia que se converteu em atrativa para muitos jovens devido ao ponto morto da luta sobre a direção das centrais sindicais.

Tradução: Artur Lins

 
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