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NETFLIX APRESENTA SÉRGIO MORO
José Padilha e Netflix farão série sobre a Lava-Jato
Fernando Pardal

O diretor brasileiro José Padilha, que fez sucesso no cinema com Tropa de Elite 1 e 2, e depois com a série Narcos, na Netflix, agora irá se dedicar a projeto sobre a Operação Lava-Jato, que, segundo ele, “é uma investigação policial, e não um instrumento político”.

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Não se poderia dizer que o novo projeto de Padilha seja uma guinada à direita em sua carreira de diretor. Seu primeiro filme de grande sucesso, “Tropa de Elite”, era um louvor à polícia mais assassina do mundo, e fez do Capitão Nascimento e do BOPE heróis nacionais, com direito à fantasia para crianças no carnaval dos assassinos fardados do estado.

Também não é novidade que o diretor se diga, como vem fazendo frente ao tema de sua nova série, uma pessoa que “não é de esquerda, nem de direita”. Também não assumia a evidente apologia da tortura e da polícia “linha dura” do BOPE em seu primeiro filme. A suposta polícia “incorruptível” apresentada por Padilha em oposição aos corruptos policiais ordinários, a firmeza de caráter de seu Capitão Nacimento, a absurda conclusão traçada por seu filme de que os responsáveis pelas mortes e torturas cometidas pelo BOPE para combater o tráfico e a violência desde seriam responsabilidade, no fim das contas, dos estudantes maconheiros de classe média da PUC, são, para o discurso de Padilha, questões “não ideológicas”.

Na visão do diretor ele estava apenas mostrando os “fatos”, diz ele que estava “investigando o funcionamento da polícia carioca”. Assim como não considerou seu primeiro filme uma apologia ao BOPE, certamente não considerou o segundo – ou pelo menos não o assume publicamente – um elogio deslavado à política reformista do deputado do PSOL Marcelo Freixo, cujo alter ego, o deputado Fraga, um dos personagens centrais de “Tropa de Elite 2”, é evidente para qualquer um que conheça minimamente a política carioca. Nessa mescla de um elogio ao incorruptível policial linha dura com uma proposta política de um incorruptível político honesto que quer uma polícia democrática, certamente Padilha foi influenciado pelo seu eterno parceiro e amigo, o ator Wagner Moura, esse sim assumidamente apoiador de Freixo.

Contudo, como Padilha declarou em entrevista ao Globo, ele e Moura divergem radicalmente na avaliação política do que ocorre no Brasil nesse momento. Morando há dois anos nos EUA, Padilha disse ao Globo não apoiar o impeachment, mas também não considerá-lo um golpe. Criticou ainda a dificuldade de financiamento ao cinema no Brasil, mas em nenhum momento a privatização da cultura que se faz pela Lei Rouanet e os incentivos fiscais dos quais o cinema e outras produções culturais dependem. E, por fim, dando uma exibição ímpar de que é, na melhor das hipóteses, de um senso comum em política que o aproxima das posições da classe média apoiadora do golpe, e o transforma em um cineasta perfeito para o seu novo projeto reacionário, Padilha disse que a crise econômica no país, e em particular da Petrobrás, pode até ter algo a ver com a crise econômica mundial, mas que é fundamentalmente um problema de má administração e planejamento.

Não que uma série sobre a Operação Lava-Jato deva ser necessariamente um elogio a Sergio Moro; pelo contrário, poderia enfiar o dedo na ferida e denunciar A Polícia Federal e o judiciário, e o papel político que cumprem no golpe institucional da direita. Contudo, dada a declaração de Padilha de que não há nada de político na operação, certamente podemos esperar um espetáculo hollywoodiano que irá deixar Narcos no chinelo.

Outra questão, também fundamental para ter uma previsão do direcionamento ideológico da série, é, afinal, quem paga a conta: qualquer empresa capaz de financiar um empreendimento desse calibre não endossaria nenhum tipo de teor crítico à Lava-Jato. Já as empresas interessadas em endossar o papel de “novo capitão Nascimento” de Moro como herói nacional, isso não faltam. Não à toa, quando questionado sobre seus financiadores, Padilha se manteve em segredo, revelando apenas que é uma “plataforma mundial” e que é dos EUA (como todos já sabiam, logo foi revelado ser a Netflix, o novo monopólio mundial da indústria cinematográfica). E acrescenta – cinicamente – que “como o dinheiro vem de fora, não traz viés político”. Sim, o imperialismo e seu braço da indústria cultural não tem nenhum interesse na política brasileira... será que Padilha acredita realmente nisso? A inocência seria nossa em pensar isso.

Esperemos para ver o show de reacionarismo em estilo espetacular que será a nova série de Padilha “desvendando os meandros da Lava-Jato”.

 
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