No dia 22 de março comemorou-se o dia mundial da água. A utilização deste recurso natural vem sendo discutida durante os últimos anos de forma mais alarmante já que, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), aproximadamente um bilhão de pessoas não tem abastecimento de água suficiente.
Em relatório (relatório Mundial das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento de Recursos Hídricos 2015 - Água para um Mundo Sustentável), apresentado no começo do ano passado, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) também relata uma situação assustadora em forma de alerta: se não houver uma mudança dramática no uso, gerenciamento e compartilhamento do recurso, o mundo enfrentará um déficit de 40% no abastecimento de água em 2030, apesar de haver, no mundo, água suficiente para suprir as necessidades de crescimento do consumo.
Claro que este "terrorismo ambiental" usado para culpar e tornar cada cidadão como responsável pelo problema da qualidade e de abastecimento deste recurso natural não revela qual é a real causa deste problema: a exploração predatória gerada por um sistema que se mantém para privilegiar uma classe que comanda os meios de produção, para produzir em prol de seu lucro imediato, e essa é sua política vigente ao redor do mundo.
Para ficar mais palpável basta analisar a conjuntura nacional e relaciona-la com o maior crime socioambiental ocorrido no país há mais de 140 dias: a morte do Rio Doce devido ao rompimento de duas barragens feitas em Bento Rodrigues, distrito de Mariana (MG), pela mineradora Samarco, uma joint-venture da companhia Vale do Rio Doce e da anglo-australiana BHP.
Esse crime revelou, já no período, tanto o descaso do governo federal, estadual e das grandes empresas com as questões sociais e ambientais, como apresentado aqui no Esquerda Diário. Também aqui, no Esquerda Diário, apresentamos que esse crime socioambiental tomava proporções globais, colocando em risco um santuário da vida marinha do Oceano Atlântico – o arquipélago de Abrolhos – e o sustento de pessoas que dependem dos recursos naturais para sua sobrevivência.
Passados mais de quatro meses do crime é que o governo federal anunciou um acordo com a mineradora para o suposto reparo dos danos causados. Depois de inúmeros valores cotados para o acordo, decidiu-se que o aporte seria de R$ 4,4 bilhões de reais sendo liberados no decorrer dos três anos próximos. Esse valor é bem abaixo do que inicialmente planejado (R$ 24 bilhões de reais), mas é óbvio que a diminuição deste aporte influenciou nas ações da Vale do Rio Doce e a desculpa federal para a alteração do valor foi um erro no próprio comunicado federal.
A questão critica / decisiva é o gerenciamento do valor deste aporte. Estes recursos serão gerenciados por uma fundação que será criada para garantir a realização dos investimentos nos 38 programas econômicos e ambientais em toda a área atingida pelo desastre ambiental. Esta fundação será dirigida por um conselho de sete membros, com as três companhias – Samarco, Vale e BHP Billiton – nomeando dois membros cada uma, e as autoridades brasileiras nomeando um membro. Ou seja, quem julgou e quem irá determinar o destino, quantia e gerenciará a mesma serão os próprios culpados pelo crime! Mais uma vez cabe a ressalva e comparação com a conjuntura nacional: não foi e não é uma apuração independente, organizada pelo sindicato e organizações de base dos trabalhadores e moradores, de forma independente, com punição para os responsáveis e com atendimento à população e familiares das regiões afetadas.
Com este cenário, acreditava-se que a candidata Marina Silva (Rede Sustentabilidade) iria se pronunciar sobre o crime socioambiental, já que a mesma procura despertar simpatia do eleitorado por conta do cunho ambiental que tem seu discurso e sua militância em relação a sustentabilidade desde quando foi ministra do meio ambiente, no primeiro mandado do ex-presidente Lula (PT). Segundo pesquisas, Marina lidera as intenções de voto para presidente em 2018.
Entretanto, a candidata preferiu não se expressar politicamente sobre o ocorrido, pois, quando questionada, relatou que "preferia não se promover com a desgraça". A postura da candidata pode ser entendida por muitos como uma forma de conduta supostamente ética, como a mesma apresentou em seu discurso, mas, se a candidata realmente tem uma militância consequente com as questões socioambientais, este silêncio revela, na verdade, o contrário. O fato de se calar com as 17 mortes causadas pelo crime, com a devastação e morte de vários biomas, com consequências globais e em um desastre que, até o momento, continua liberando poluentes para o meio ambiente (pois a lama continua a vazar pela barragem de Mariana) realmente mostra que a candidata se preocupa mais com sua imagem para candidatar-se nas eleições de 2018, e que, também, se preocupa com o financiamento de sua campanha – já que a Vale do Rio Doce foi um dos grandes investidores de sua campanha nas últimas eleições presidenciais. Ou seja, o discurso de sustentabilidade é uma fachada para ganhar simpatia de uma parcela da população genuinamente preocupada com as questões ambientais, sendo que a verdade é que a candidata mantém seu alinhamento com um sistema que realiza a exploração predatória dos recursos naturais, valorizando, somente, o lucro dos grandes empresários em prol dos do meio ambiente e da classe trabalhadora.
Portanto, não devemos acreditar no discurso político, mesmo que supostamente progressista, de candidatos que, na verdade, defendem reformas neste sistema exploratório. É essa a forma funcional do sistema capitalista que gera os grandes problemas ambientais. Devemos é acabar com o sistema que depende, na sua base, da exploração descontrolada dos recursos ambientais, da exploração da classe trabalhadora que tudo produz e da elevação do consumismo, para o lucro de poucos. Por isso devemos ter em mente que somente com a estatização de empresas como a SAMARCO, sobre o controle dos trabalhadores e da população, teremos a real preservação e utilização sustentável dos recursos naturais. Também sobre o controle dos trabalhadores poderemos ter novas obras que garantam a exploração dos recursos de forma controlada e limpa - não como estava sendo feito, que foi a construção de uma barragem que represava dejetos químicos - garantindo, assim a manutenção e geração de novos postos de trabalhos para os moradores das regiões afetadas. Somente desta forma - com a classe trabalhadora sob o controle dos modos produtivos, do início ao fim - é que poderemos ter um desenvolvimento sustentável e uma utilização racional dos recursos naturais.
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