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ATO DE MULHERES TRABALHADORAS
Na Espanha, grande ato do Pão e Rosas: “A luta contra a precarização tem rosto de mulher”
Cynthia Lub
Barcelona | @LubCynthia

Cerca de 70 trabalhadoras e estudantes reuniram-se em Barcelona para trocar experiências da luta contra a precarização. Estiveram presentes mulheres da Movistar [operadora de telefonia móvel espanhola, NT], Telefônica, Panrico [indústria alimentícia, NT], Eulen [multinacional prestadora de serviços terceirizados, NT], da educação, limpeza e cuidados.

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Foto: Izquierda Diario

Neste grande ato de trabalhadoras e estudantes, realizado para fechar a semana de luta do 8 de março na Faculdade de Geografia e História da Universidade de Barcelona, estiveram presentes as trabalhadoras das principais greve e protestos durante o último ano. Também da Panrico, que seguem nos ensinando com sua grande experiência da greve de 8 meses em 2013.

Lutam em seus locais de trabalho contra a precarização, os abusos sexuais, a patronal e a pobreza a que são jogadas pelas demissões e os cortes. Trabalhadoras que lutam para criar seus filhos todos os dias, para “levar adiante a família”, como elas dizem. Algumas são mães solteiras, outras sofreram maltratos, outras lutam junto a seus companheiros levando às greves e às manifestações seus filhos e filhas nas costas.

Contaram suas experiências na Aula Magna da faculdade cheia de jovens estudantes, inspirando e emocionando com seus testemunhos. “Suas experiências nos fortalecem para seguir lutando”, dizia um jovem estudante.

“Como mulheres nos sentimos muito orgulhosas de nossa luta, sabendo que é difícil”, diziam as trabalhadoras da Movistar explicando sua experiência de quase três meses de greve contra a precarização e, como elas mesmas dizem, “contra as condições de escravidão” que impõe a multinacional Telefônica. “E agora fizemos o Correscales, uma corrida contra a precarização que tem sido uma grande experiência para nós, por cada povo que passamos, nos recebiam com muita solidariedade”.

Esteve presente Asun, trabalhadora efetiva da Telefônica e protagonista da greve em solidariedade aos contratados da Movistar, que anos atrás havia saído em importantes jornais com a seguinte manchete: “Suspensa por trabalhar”. Com o sorriso e a força que a caracterizam, nos contava que tudo começou quando havia solicitado entrar na oficina com seu filho pequeno, já que não podia contar com nenhuma ajuda para o seu cuidado, e não apenas não permitiram, como a suspenderam obrigando-a a retirar-se do seu local de trabalho.

“Se está grávida começa uma sequência de obstáculos. Primeiro para que não descubram que está grávida, já que é suscetível que te mandem embora. E nos processos de seleção é o mesmo, se está grávida te mudam de trabalho ou nem tem contratam”. Deste modo contou também casos de mulheres demitidas pela gravidez ou propondo-lhes um acordo de demissão com o seguro-desemprego para “economizar” os meses da licença-maternidade, questão que faz com que muitas mulheres não tirem a licença.

Nos falou Luisi, demitida da Panrico. Um depoimento comovente chegando a emocionar até as lágrimas as dezenas de jovens que a aplaudiam. “Quando eu estava na greve, tinha também que manter meus quatro filhos e minha mãe, levar-lhes comida. Eu vim de Extremadura no ano de 1999, separada de meu companheiro que me maltratava e chegou a me provocar uma fratura na mandíbula. Sozinha, com quatro filhos, consegui trabalho na fábrica e pude construir minha casa e minha família. Para as mulheres tudo é mais duro, por isso somos tão fortes quando vamos à luta”.

E não faltou seu relato sobre a valentia das trabalhadoras da Panrico em seus oito meses de greve. “Fizemos tudo, paramos caminhões, nos enfrentávamos com os carregadores, fazíamos mercado para a caixa de resistência. E graças ao Pão e Rosas fomos às universidades dar palestras e passar nas aulas para explicar nossa luta. Nunca tivemos medo de nada. Nos enfrentamos com os patrões, mas também com os traidores das Comissões de Fábrica que nos venderam”.

As trabalhadoras da empresa de telemarketing Eulen falaram de como vivenciaram a greve enquanto mulheres. “O setor do telemarketing tem cara e voz de mulher, neste sentido foi muito dura a greve de um mês enquanto mulher, porque mesmo tendo apoio da família, significava estar fora o dia todo, comendo mal e tentando participar de tudo, a pressão psicológica foi muito dura como mulher”, explicou Charo.

E nos falou também de um dos principais problemas das mulheres trabalhadoras, “Entende que tem que lutar para chegar a uns direitos mínimos, a dificuldade que temos as mulheres no setor do telemarketing é conciliar a vida no trabalho com a familiar e pessoal. As vezes temos que reduzir a jornada ou até mesmo renunciar aos nossos postos de trabalho, como no meu caso”.

Outro dos depoimentos mais duros foi o de Otilia, cuidadora de pessoas dependentes de Serviços Sociais, cuja empresa é subcontratada pela prefeitura e as condições de precarização são muito graves. “É muito difícil lutar juntas, não nos conhecemos, estamos muito sozinhas e nosso trabalho e a empresa nos divide. Por isso formamos uma plataforma de luta”.

E nos contou uma comovente experiência, “Antes trabalhava em uma fábrica, e quando me trouxeram uma máquina nova eu estava muito contente, sempre quis usar essa máquina. Mas quando a máquina sofria danos, vinha um gerente consertar. E nos tocava. Eu rezava para que a máquina nunca quebrasse, porque vinha esse gerente e abusava de nós”.

Laura, professora primária, explicou sua situação de precariedade enquanto mulher imigrante. “Na Argentina eu era professora, quando cheguei aqui estive anos trabalhando em locais muito duros. Agora sou professora primária substituta, as condições são cada vez mais precárias, nunca sei onde nem durante quanto tempo terei contrato”.

Como mãe, imigrante e trabalhadora, transmitiu um grande ensinamento às jovens e trabalhadoras presentes: “Nossa luta enquanto mulheres é diária, todos os dias estamos cuidando de nossa família, nossos filhos. E o mesmo em nossos trabalhos. Por isso nossa luta contra a opressão e a exploração não pode ser individual, tem que ser coletiva e com nossas próprias organizações”.

Contamos com a presença de Patrícia, coordenadora de Gênero e História e uma das impulsionadoras deste ato. Nos explicou como vive a precarização como professora associada, com baixos salários e contratos precários. E emocionado com os depoimentos tambpem nos falou de suas experiências “Sou mãe de família monoparental, tenho uma filha de 10 anos e há 8 anos tive um processo de um ano e meio de moobing e ao final tive que renunciar, no processo de moobing do agressor fui a oitava vítima. Tudo sempre se acobertou e eu fui a primeira que denunciou. Está claro que há algo nesses processos por ser mulher”.

Patricia é uma firme lutadora para que a questão de gênero seja introduzida nas disciplinas das universidades, questionando o machismo e a misoginia na academia. “Eu acredito, e digo sem vaidade, que tenho transformado muitas vidas nesta faculdade, e isso ninguém valoriza, ninguém me paga”. E animou a todas as estudantes para que não abandonem seus estudos e reivindicou emocionada os depoimentos das trabalhadoras.

Marta Clar, militante do Pão e Rosas e membra da comissão feminista da faculdade encerrou o ato dizendo “Saímos com uma enorme emoção do ato de hoje na UB-Raval, com a firme decisão de transformar toda a coragem, a ousadia e a valentia dessas mulheres em novos polos de organização para desenvolver com mais firmeza que nunca esta grande batalha que nos une a todas: a luta contra a miséria, a exploração e pela emancipação de todas as mulheres no mundo. E sabemos que é uma batalha que tem aberta numerosas frentes: a burocracia sindical que nos vende e nos divide, o mandato patriarcal que nos engole, despreza e esconde, a exploração capitalista que nos arranca até a última gota de suor e de energia. Mas também somos conscientes de que somos milhares, milhões de mulheres as que saímos às ruas para conquistar nossos direitos nas universidades, nas ruas, nos nossos locais de trabalho”.

 
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