Esquerda Diário: Flavia, o assassinato de Bárbara Vitória, de apenas 10 anos de idade, tem causado bastante comoção. Esse caso acontece em MG, que é o estado com mais feminicídios no país. O que você tem a dizer desses fatos?
Flavia Valle: Lembrar disso embrulha o estomâgo, diante da dor, estupro e assassinato de uma menina de 10 anos, não é uma infeliz coincidência, é um retrato revoltante do que esses governos e esse regime malditos têm a oferecer pras mulheres e meninas. Bolsonaro e os setores mais reacionários da política nacional certamente vibram com “a moral e os bons costumes” da “tradicional família mineira”. Aliás, quem não se lembra que o governador Romeu Zema disse que a violência contra as mulheres é um instinto natural dos homens?. Embrulha o estômago lembrar disso diante da dor pelo estupro e assassinato de uma criança, uma menina de 10 anos que só saiu para comprar um pão! Zema é responsável por MG estar no ranking de feminicídios no país. Por isso é preciso arrancar justiça para Bárbara Vitória com nossa luta contra os ataques às mulheres, a todos, todas e todes oprimides e aos trabalhadores. Afinal, a classe trabalhadora é majoritariamente feminina e sofre dia a dia com essas expressões mais reacionárias do que significa o capitalismo e o patriarcado para as mulheres e também para LGBTQIAP+.
ED: Os parentes e vizinhos de Bárbara acabam de protagonizar uma manifestação de última hora clamando por justiça. Isso é o que você chama de “arrancar justiça com a luta”, Flávia?
FV: É um ponto de apoio fundamental para isso, é um importante exemplo. Como estava dizendo, certamente a ampla maioria das 154 famílias que no ano passado choraram a perda de uma mulher pelo simples fato de ser mulher são famílias trabalhadoras. A violência contra as mulheres tem que ser assunto não só das famílias das vítimas ou do movimento de mulheres, deve ser assunto dos sindicatos! Isso é fundamental porque sabemos que não podemos contar com políticos, patrões, empresas, nem mesmo com a justiça burguesa, menos ainda com a polícia racista, que há 2 semanas matou a sangue frio um morador da Vila Barraginha, gerando revolta e protesto da população. Nunca nos deram nada, sempre tivemos que arrancar, e para fazer justiça por Bárbara e cada uma das nossas mulheres e meninas precisamos reunir todas as nossas forças. Imaginem se, por exemplo, o sindicato da minha categoria, que mobiliza milhares e milhares de professores e trabalhadores da educação em toda MG, levantasse a bandeira de justiça por Bárbara junto com as bandeiras para responder à crise política e social que vivemos? Seria uma força incomensuravelmente maior, e valiosa, pois precisamos enfrentar o golpismo de Bolsonaro e dos militares, assim como levantar respostas para a crise como a divisão das horas de trabalho sem rebaixar os salários e a revogação da reforma trabalhista. Faremos isso com banqueiros e a FIESP, como apontam não só Lula e o PT, mas inclusive setores da esquerda? Jamais, a dita “frente ampla” é uma armadilha, pois onde cabem nossos inimigos de classe, não cabem as demandas dos trabalhadores, do conjunto das mulheres, negros, indígenas, LGBTQIAP+.
ED: Em MG, frente a uma situação extrema, com o estado sendo aquele com maior índice de feminicídio, Alexandre Kalil seria uma alternativa às políticas de Romeu Zema para as mulheres?
FV: De forma alguma. Como pode ser uma alternativa um político de direita, que é de um partido do centrão que ajudou a aprovar os ataques do Bolsonaro até aqui? Como pode ser que o prefeito que atacou as mulheres não só com declarações machistas mas inclusive com a destruição de uma das principais maternidades de Belo Horizonte seja aliado das mulheres? Não vai ser trocando o governador que vamos resolver o problema da violência contra as mulheres em MG, mas sim conquistando com a nossa luta um plano de emergência contra a violência às mulheres. A candidatura que mais representa a luta por um programa feminista e socialista é a de Vanessa Portugal do PSTU, que compartilha comigo o Polo Socialista Revolucionário.
|