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Pernambuco
A passagem de Lula por Pernambuco
Gabriel Girão

Durante a passagem de Lula por Pernambuco, várias coisas podem ser ressaltadas, mas a principal foi a dificuldade de fazer seus apoiadores engolirem a aliança regional com o PSB.

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O evento era para Lula, mas talvez um desavisado pudesse, pelas falas, confundir com uma convenção regional do PSB. Essa foi a tônica dos palanque de Lula em Garanhuns, Serra Talhada e Recife, em sua passagem pelo estado. Além disso, Lula chegou “em boa hora”, porque o PSB se encontra numa situação difícil nas eleições, sem conseguir alavancar Danilo Cabral. Os palanques junto ao candidato psdbista servem para mostrar que ele é o candidato de Lula em Pernambuco, algo decisivo na corrida eleitoral. Marília que lidera nas intenções de voto, vincula sua campanha a imagem de Lula, a aparição de Lula junto a Danilo também serve para desvincular a imagem de Marília a do ex-presidente.

O tempo de fala foi, com exceção da fala de Lula, praticamente igual entre integrantes do PSB e do PT. E todas elas bateram na tecla de ressaltar a “importância” da aliança entre o PT e o PSB no âmbito regional e nacional e que é necessário colocar projetos “políticos” acima dos pessoais. Além disso, atacaram Bolsonaro que tem uma alta rejeição em Pernambuco. Pouco se falou, no entanto, do projeto “político” do PSB quando este deu apoio à Aécio em 2014 e também ao golpe institucional de 2016. O candidato a governador Danilo Cabral tentou se apresentar como “defensor dos trabalhadores" ressaltando seus votos contra a reforma da previdência e trabalhista. No entanto, o candidato aparentemente se esqueceu que outros integrantes do PSB votaram nessas reformas e que o atual governador Paulo Câmara foi um dos primeiros a aplicar a reforma no âmbito estadual. João Campos também aprovou a reforma da previdência em Recife. Outro momento que o Danilo talvez tenha esquecido foi seu voto apoiando o impeachment de Dilma em 2016. Mas não seja por isso, estamos aqui para refrescar sua memória:

Se não bastasse tamanha hipocrisia, os integrantes desse partido golpista ainda vieram posar de defensores da democracia. E ainda foram além, dizendo que não se pode falar em democracia enquanto há fome, desemprego, discriminação e violência contra mulheres e LGBTs e racismo. Bom, talvez devesse ser bom para o PSB olhar para seu próprio estado, que há tempos vem aparecendo nos primeiros lugares nacionalmente nos índices de desemprego, em que assiste a casos brutais de feminicídios e ataques à população LGBT, onde 97% dos mortos pela polícia são negros e que possui uma das maiores taxas de pobreza do país. É bom também lembrar que Sérgio Hacker, marido de Sari Corte Real, assassina de Miguel, até hoje está na fileiras do partido. Apesar disso, foi marcante na fala das lideranças do PT o fato de terem parabenizado Paulo Câmara por ter mantido Pernambuco “de pé” apesar de todas as dificuldades. Pelo visto, esse cenário hoje é que o PT considera “de pé”.

No entanto, a plateia parecia não estar em sintonia. Mesmo com todos os esforços do PSB, que chegou a colocar funcionários comissionados no ato, esses não foram tão barulhentos quanto às vaias a Danilo e ao PSB. Muitas vezes essas vaias eram acompanhadas de gritos por Marília. Como já mostramos no Esquerda Diário, ela não é nenhuma alternativa de esquerda ao PSB. No entanto, isso mostra a dificuldade do PSB de manter a hegemonia em seu principal reduto.

Outros aspectos também merecem destaque. Em seus discursos, a destruição dos direitos trabalhistas teve menos destaque que a tentativa de Lula de ressaltar que seu governo foi o que permitiu ascensão social para as camadas mais pobres. Usando exemplos como o filho do pedreiro que virou médico ou a empregada doméstica que virou empresária, o ex presidente oculta que durante seu governo – apesar da expansão precária do ensino superior – a maior parte da classe trabalhadora não viu tal ascensão. Pelo contrário, as taxas de desemprego caíram a custo de um aumento até então nunca antes visto da terceirização. Outro aspecto que se ressaltou foi que teria sido o presidente que mais fez pelo desenvolvimento do Nordeste, usando como exemplos a Jeep, o Porto de Suape. Por trás desse discurso se esconde quem foram os reais ganhadores desse desenvolvimento: os empresários que lucram com a superexploração da mão-de-obra local. Promete até mesmo acabar com a hegemonia do Sul-Sudeste pelo Nordeste, algo que – ainda que as desigualdades regionais tenham se ampliado desde o golpe de 2016 – nunca foi feito durante os governos petistas.

Esse discurso onde a questão trabalhista aparece secundarizada não é à toa. Enquanto apela para uma suposta possibilidade de ascensão social e um desenvolvimento que “seria bom para todos”, empresários e trabalhadores, Lula não fala nada dos planos de manter a reforma trabalhista e da previdência e de legalizar a uberização, ou seja, manter o fundamental da precarização laboral dos últimos anos. É por isso que a chapa Lula-Alckmin estende as mãos para os grandes empresários brasileiros que fingem esquecer seu passado golpista e hoje supostamente defendem a “democracia”, como desenvolvemos aqui e aqui

Mostrando o tamanho do seu projeto de conciliação, Lula coloca que “não quer tirar dinheiro de ninguém” e que inclusive beneficiou mais o agronegócio do que Bolsonaro, além de diversos outros grupos econômicos, que depois vieram apoiar o golpe de 2016 e depois Bolsonaro. Justifica que o real problema desses setores seria o ódio de classe de não conseguir ver o pobre nas universidades e no aeroporto. Sem duvidar do ódio de classe da burguesia e de setores reacionários da classe média, ao atribuir ao golpe de 2016 e ao bolsonarismo uma questão puramente moral e não uma questão de interesses materiais da burguesia em aumentar a exploração contra os trabalhadores e o entreguismo do país ao imperialismo – que se materializou nas reformas trabalhistas e da previdência, no desmonte da Petrobrás e no seu atrelamento ao mercado externo etc – Lula tem 2 objetivos: se mostrar como garantidor desses interesses dos grandes grupos capitalistas, como os que estão hoje na FIESP e a FEBRABAN ao mesmo tempo que vende a falsa ideia que seria possível conciliar isso com uma melhora na vida dos trabalhadores, apelando a uma ‘racionalidade’ de algum setor da burguesia.

Esses aspectos vão se expressar de forma ainda mais evidente no encontro com artistas no Recife, ao contar como forjou sua aliança com José de Alencar, cujo partido - o mesmo onde atualmente está Bolsonaro - ele “esqueceu de citar”. Nas palavras de Lula: “Na época do PT a gente já não gostava nem de quem tinha um bar, mas eu fui lá e chamei o Zé de Alencar, que tinha fábrica com 17 mil trabalhadores, para ser meu vice”, apresentando isso como se fosse uma jogada de mestre. Usa isso justamente para justificar sua aliança agora com o reacionário Geraldo Alckmin.

Apesar de criticar os atuais massacres promovidos pelas polícias no país a fora – ignorando que os governos do PT promoveram as ocupações das favelas durante a Copa do Mundo e que através da lei de drogas apresentada pelo governo Lula o encarceramento da população negra aumentou exponencialmente – seu plano para a segurança pública vai justamente no sentido contrário. Disse que, quando eleito, irá buscar os governadores para discutir as políticas que “deram certo”. No país com uma das polícias mais assassinas do mundo, o plano de Lula é pedir conselhos justamente aos chefes direto dessas polícia. Talvez comece pelo próprio Alckmin, que foi responsável por recordes de letalidade na polícia paulista e pela maior chacina da história do país do país.

Por último, também é importante notar o comentário de Lula sobre o governo argentino de Alberto Fernandez. Vendo a imensa crise que passa o governo – foram 2 trocas de Ministro da Economia em menos de um mês – Lula coloca justamente que Alberto foi eleito depois da imensa dívida que Macri contraiu com o FMI, mas que escolheu seguir o caminho ao lado do FMI. Bom Lula, que ao que tudo indica vai se eleger em base ao desgaste de Bolsonaro, não parece trilhar um caminho diferente. Como já apontamos, é possível ver, em algum nível, o futuro de Lula no espelho de Alberto.

 
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