É revoltante e não é natural que famílias estejam perdendo suas casas e bens materiais, bem como em situação de grave risco por conta das chuvas. Isso é fruto da ganância capitalista que prioriza o lucro acima de tudo, inclusive das vidas da população. A responsabilidade dessas tragédias está nas mãos do Prefeito Álvaro Dias (PSDB) e de prefeitos da região metropolitana, do Governo Bolsonaro, que em 2021 cortou 75% das verbas de orçamento de ações destinadas à prevenção de desastres naturais, assim como de Fátima Bezerra e da conciliação petista que governa o Estado hoje.
Frente a isso, o Esquerda Diário se propôs a cobrir a situação dos bairros, ocupações e das famílias atingidas pela chuva, se solidarizando e colhendo depoimentos, mas também denunciando os responsáveis por essa situação. Tendo isso em vista, uma moradora de Felipe Camarão foi entrevistada hoje pela manhã:
— Você mora nas casas que estão mais atingidas, lá embaixo?
— Sim.
— E o que que aconteceu lá?
— Assim, eu tava em casa aí o meu vizinho me chamou e mostrou um buraco, muito pequeno, só que em questão de segundo começou a se abrir muito rápido e a gente se assustou, né? Parou. Chovendo muito. Enquanto tava chovendo, tava caindo. Depois que parou de chover, parou de cair a…
— A areia?
— A areia. Aí tudo bem. Quando foi na… eles vieram, taparam o buraco, isso no sábado. Eles vieram, taparam o buraco, tiraram até um carro que tava na garagem, conseguiu. Quando foi no domingo de manhã, pronto. A gente já não conseguia mais porque era muita água. Estourou lá as pedras e questão também de tempo aquela água, muita água vindo pedra de paralelepípedo, vinha carregando, muito forte. Aí meu vizinho tirou o carro. Assim que meu vizinho tirou o carro, aí começou a cair e foi até lá embaixo, caindo num buraco, sabe? Fazendo uma cratera.
— Sim.
— Caindo, e foi isso e eu consegui sair de dentro de casa, tirei minha filha, meu filho, todo mundo saiu de dentro de casa e aí foi começando a cair, as pedras, calçada, até chegar o ponto de hoje, a gente sem poder entrar dentro de casa, não consegui tirar nada, algumas peças na hora do momento da queda a gente pegou algumas roupas e saiu, mas tudo meu lá, não consegui tirar… sim, um homem pediu que eu tirasse os botijões, o fogão, a televisão [?] consegui tirar minha família, né, ninguém consegue mais entrar lá. Tô na casa de um sobrinho. Pediram que eu fosse pra um abrigo mas um sobrinho acolheu e pronto, aí tamo aí.
— E o que vocês estão mais precisando agora e como está sendo a ajuda do Estado?
— Assim, a gente teve ajuda do pessoal do CRAS deram cesta básica, colchão. Eu recebi dois colchões e cesta básica do CRAS. Aí eu não tirei nada né, algumas roupas, aí o mais necessitado pra mim é o alimento, por quê? Porque eu tô na casa de um parente que já tem lá 5 pessoas, com mais 5 minhas, 10. Então a dificuldade é essa né? Que todo dia você tem que ter… quer dizer, aquele pão que você dava pra 5, agora é pra 10. Aí a dificuldade é essa. A minha dificuldade é o alimento e pra dormir, porque eu ganhei dois colchões e tem 5, são 5. Mas graças a deus [?].
Amanhã, 07 de julho, às 15h, ocorrerá uma plenária aberta no Sindsaúde para construir uma campanha de solidariedade e mobilizar trabalhadores, estudantes e os movimentos sociais, bem como uma arrecadação de bens como panelas, roupas, itens de higiene pessoal e alimentos para as famílias e ocupações, como a Emanuel Bezerra, que já estava em uma situação de grande vulnerabilidade e ontem à noite ainda sofreu uma repressão brutal por parte da Polícia Militar de Fátima Bezerra. Nesse sentido, é urgente impor pela força da mobilização um plano de emergência para resolver essa tragédia capitalista, coordenado e controlado por representantes das famílias atingidas, junto aos trabalhadores da construção civil e saneamento, aos sindicatos e entidades estudantis. Um plano de socorro com brigadas de trabalhadores e populares, que mobilize recursos para gerar abrigo e alimento às famílias, socializando salas de hotéis e resorts de luxo e a expropriação de imóveis ociosos para ocupar as famílias desocupadas. Que imponha um plano de obras públicas controlado pelos trabalhadores e controle popular, que reconstrua as casas destruídas, aprimore as existentes e construa moradias populares seguras e de qualidade; promova um sistema de armazenamento e drenagem nas vias e lagoas de captação para prevenção das áreas afetadas e as que sofrem possibilidade de inundação, e também melhorias e ampliação do saneamento urbano para bairros, sobretudo da ZO e ZN, que dê dignidade às famílias e despolua as praias e rios, também gerando emprego e renda frente a essa crise. Que preserve e revitalize as zonas de proteção ambiental, as comunidades tradicionais pesqueiras, ribeirinhas e indígenas, contra a proposta de Porto de Natal do Senador Jean-Paul Prates.
Todo corpo técnico e científico das universidades e institutos federais do estado e de outras regiões devem se colocar a serviço monitorar as chuvas e locais de risco e de construir esse plano ao lado dos trabalhadores e população, envolvendo arquitetos, engenheiros, cientistas sociais, invertendo as prioridades do conhecimento produzido hoje voltado ao desenvolvimento de patentes e tecnologia para dar lucro pros empresários. A luta das ocupações e dos trabalhadores por um plano de emergência precisa se unificar, considerando que só a classe trabalhadora, junto com os estudantes, os setores oprimidos e o conjunto do povo pobre pode dar uma saída para crise batalhando por uma reforma urbana radical.
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