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Indígenas
“A Abin foi na Funai atrás de mim” conta indigenista exilado há três anos
Redação

Com a repercussão do assassinato de Bruno Pereira e Dom Philips, se escancara a ligação profunda do estado brasileiro na perseguição criminosa a povos indígenas na região da Amazônia. Em entrevista, Ricardo Rao conta como seu ativismo na região culminou em seu pedido de exílio para evitar a própria morte.

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Ricardo Henrique Rao, indigenista especializado da Funai, trabalhou durante dez anos na Fundação combatendo milícias e grupos organizados que realizam exploração ilegal de madeira, narcotráfico e assassinato de indígenas e ativistas no estado do Maranhão. Ricardo contou, em entrevista para o Sul21, que após elaborar um dossiê a respeito, passou a sofrer perseguição inclusive de órgãos oficiais do governo brasileiro.

O dossiê, entregue à Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados no dia 25 de novembro de 2019, denunciava o envolvimento de policiais com as organizações criminosas da região. Ricardo conta que a partir do governo Temer e depois do governo Bolsonaro a situação de trabalho na Funai se transformou em um risco de vida muito mais profundo do que estava colocado anteriormente.

Ele conta que depois de apreender uma moto usada para transportar suprimentos aos madeireiros, sua casa foi invadida pelo subcomandante do batalhão da polícia militar de Imperatriz, o que para ele foi um salto na relação da PM com o crime organizado, que até então acontecia de maneira mais velada.

A partir disso, Ricardo conta que começou a sofrer assédio e perseguição cada vez mais intensos, chegando até a visita de um destacamento da Agência Brasileira de Inteligência em seu local de trabalho na Funai, sucedida pela abertura de um processo administrativo-disciplinar em seu nome, o que fez com que ele percebesse que a Funai não o protegeria contra a perseguição que vinha sofrendo.

“Eu sabia, depois de cinco anos lá, que a Polícia Federal e o Ministério Público Federal do Maranhão estavam completamente contaminados. Eu sempre preparei denúncias muito substanciosas. Nunca vi nenhuma prosperar.” Ricardo tomou a decisão de escrever um dossiê e pedir exílio à Noruega depois da morte de seu amigo Paulo Paulino Guajajara, que havia descoberto dias antes a ligação de um policial carioca com uma plantação de maconha muito grande.

Para Ricardo, sua morte seria a próxima, e por isso ele preparou o dossiê, apesar de não ter visto qualquer resultado com a denúncia. “ Eu preparei um dossiê relatando todos esses atos criminosos e encaminhei para a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, na época presidida por um deputado do PT que era padre (não lembro o nome agora). Até onde eu sei, não fizeram nada”.

Este relato só escancara a relação intrínseca do estado com o genocídio de povos indígenas, agravados pelo governo de Jair Bolsonaro que desde o início disse que “se eu assumir, índio não vai ter 1cm de terra”. Ricardo conta ainda que conheceu pessoalmente Bruno Pereira e admirava o ativismo do colega, disse que a situação tem repercutido na Itália, onde está exilado atualmente por conta de sua cidadania italiana, mas segundo ele, a repercussão se deve em boa parte ao fato de que Dom Philips estava junto. Ricardo demonstrou ainda sua indignação com a declaração do vice-presidente Mourão que disse que “lá é perigoso mesmo”.

A situação de autoritarismo é tamanha, que Ricardo foi exonerado de seu cargo de maneira completamente ilegal, a partir de uma reversão de seu estágio probatório mesmo depois de dez anos trabalhando na Funai, a justiça aida determinou que ele devolvesse todo seu salário posterior ao período probatório.

É necessário ressaltar que, assim como Ricardo falou, a repercussão do caso Bruno e Dom é um acontecimento específico, mas todos os dias centenas de indígenas e ativistas são assassinados e perseguidos por milicianos e até agentes diretos do governo em nome do lucro do agronegócio que nada em dinheiro exportando comida para o exterior enquanto a população brasileira amarga a fome e a inflação, comendo alimentos de baixa qualidade por preços exorbitantes.

Frente a repercussão das mortes de Bruno e Dom, os trabalhadores da Funai aprovaram greve na última terça-feira, o que escancara o nível de revolta por parte dos trabalhadores com tamanha escalada no brutalidade e entrelaçamento do estado com o genocídio indígena.

Fica escancarado como não é possível esperar da justiça burguesa a solução para assassinatos e até execução de aldeias inteiras, realizados por milicianos ligados a órgãos oficiais do governo. É extremamente importante que as centrais sindicais fortaleçam o processo de greve buscando que uma comissão independente seja conformada, Somente uma investigação independente arrancada nas ruas pode garantir justiça a cada um dos mortos.

 
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