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Conferência
França: um passo importante na fundação de uma nova organização revolucionária
Comitê de Redação - Révolution Permanente

No fim de semana passado, os camaradas do Révolution Permanente (da mesma rede internacional a qual pertence o Esquerda Diário) realizaram em Saint Denis e Sarcelles, duas cidades dos arredores de Paris, uma Conferência Nacional que lançou um chamado à constituição de uma nova organização revolucionária. Mais de cem delegados participaram, representando mais de 300 participantes do processo de discussão, que se deu através de pelo menos duas assembléias comuns por zona ou região nas semanas anteriores.

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A Conferência teve um alto nível de discussão e nos diferentes pontos (internacional, nacional e de lançamento da nova organização), com inúmeras intervenções e, especialmente no último ponto, que trata do problema central que queria tratar a Conferência: como construir uma nova organização revolucionária na França.

Votou-se um chamado pela constituição de uma nova organização revolucionária sobre as bases de uma política independente em relação ao neorreformismo de Mélenchon, a centralidade da luta de classes, a luta pela aliança e pela hegemonia operária em relação aos movimentos de luta antirracista, feminista, LGBT, etc. Temas esses que foram centrais na campanha pela candidatura de Anasse Kazib e são parte da política cotidiana do Révolution Permanente (RP). Votou-se também a conformação de um Comitê de Direção Provisório de 34 membros, que é a instância que organizará e redigirá os documentos fundadores da nova organização que se realizará durante o outono europeu.

Essa Conferência Nacional também mostrou o alcance da política impulsionada a partir do Révolution Permanente junto a companheires que acordam em construir uma nova organização revolucionária. Além de suas tradicionais regionais na região de Paris, Toulouse e Bordeaux, participaram militantes de Le Mans, Nantes, Rennes e Brest no Oeste da França; Le Havre, Lille, Mulhouse e Moselle no Norte e Leste, Chambéry, Grenoble e Lyon na região dos Alpes e por último Montpellier e Marselha na região Sul e Mediterrânea

Participaram trabalhadores do transporte sindicalizados na CGT e na Sud-Rail, assim como as principais dirigentes da greve de 2017 dos trabalhadores da limpeza ferroviária da ONET, terceirizada da SNCF.

Também foi muito significativa a presença de vários secundaristas, de Paris, Bordeaux, Rennes e Le Havre, com os quais se propuseram a desenvolver em comum a política revolucionária no movimento estudantil, para além da universidade, onde as agrupações Le Poing Levé (LPL) vem se transformando na principal organização estudantil de esquerda no marco de um novo clima de avidez pelas ideias marxistas e contestatórias na juventude. Também participou Sasha Yaropolskaya, uma das principais referentes do movimento LGBT na França e que foi uma das porta-vozes da campanha eleitoral de Anasse.

A emergência de uma nova corrente política da extrema-esquerda

Em um contexto em que boa parte da extrema-esquerda abandona seus posicionamentos classistas e se agrupa com Mélenchon ou o apoia desde fora, o reagrupamento que está sendo levado à frente significa a emergência pela primeira vez em décadas de uma corrente política de extrema esquerda com uma certa massa crítica, assim como um jornal digital que vai completou sete anos, inserção em diversos locais de trabalho e estudo e Anasse Kazib como referente político nacional.

Está avançando, ainda que em pequena escala, naquilo que o Novo Partido Anticapitalista (sucessor da antiga LCR mandelista) fracassou, que agora se aproxima cada vez mais a Mélenchon, mas sem integrar organicamente seu espaço. Como escreveu recentemente em um artigo Antoine Larrache, da direção do NPA:

"Após a campanha presidencial, havia também o risco de ficarmos presos a uma lógica de autoconstrução que já provou sua inutilidade: Com relação à LCR, experimentamos um forte retrocesso na integração do partido nas massas, perdendo um grande número de militantes inseridos nas organizações de massa - sindicatos, associações como a DAL, a FCPE, Act Up ou a Agir Contra o Desemprego, estruturas de apoio aos imigrantes sem documentos e todas as demais estruturas de bairros, estruturas de solidariedade internacional, etc., se enfraqueceram - em detrimento de um conhecimento real das lutas dirigidas pelo proletariado. Nossa atividade muitas vezes se limita à propaganda e à participação - às vezes até de fora - das lutas sindicais. Nossa implementação corre o risco de seguir uma tendência de intervenção de ativistas dos estratos médios ou superiores da sociedade, intervindo de fora e dando lições que eles mesmos não praticam na luta de classes, seja nas empresas ou nos bairros operários. É então que se desenvolve uma visão ideológica da política, que consiste em discutir política a partir de uma análise teórica muito distante da realidade da consciência, fomentando uma linguagem militante reservada aos iniciados, incapaz de se ligar com as massas e de responder às grandes questões políticas. Precisamos de um abalo para nos reconectarmos com as verdadeiras preocupações e modos de ação das classes trabalhadoras".

Este diagnóstico é compartilhado pelos militantes dessa nova organização que surge, mas a solução da dissolução política na NUPES (a nova coalisão de Mélenchon que inclui partidos burgueses como o Partido Socialista ou os Verdes) só pode agravar os problemas porque, no momento, a NUPES, como todas as tendências neo-reformistas do século 21, está longe de ter bastiões sociais, privilegiando o desenvolvimento da influência sobre votantes dispersos.

Por sua vez, a Lutte Ouvrière (LO), o outro setor tradicional do trotskismo francês, embora continue sendo uma organização independente, também está com problemas, perdendo implantações no movimento operário, como consequência de ataques da burocracia sindical, contra os quais a LO não vem lutado muito, ao mesmo tempo em que rechaça qualquer unidade com o resto da esquerda, o que piora seu sectarismo histórico e torna o grupo ainda mais estéril.

Por último, nunca houve na extrema-esquerda francesa uma organização revolucionária com uma política de estruturação e dirigentes no movimento operário, que se propusesse a desenvolver uma política hegemônica com uma forte atividade e participação nos movimentos feministas, anti-racistas, LGBT, de juventude, trabalhadores imigrantes, etc. Esta diversidade desta nova organização em formação é distinta das práticas históricas dos distintos setores do trotskismo francês que, em linhas gerais foram ou movimentistas (ex-LCR) ou sindicalistas (LO), sem mencionar o lambertismo integrado à burocracia sindical da Force Ouvrière (FO).

Por isso, o chamado da Conferência assinala:

"(...) Lançamos hoje um chamado à construção de uma nova organização revolucionária, à altura da urgência de acabar com o sistema capitalista e lançar as bases de uma sociedade comunista. (...) Este chamado é dirigido a todos aqueles que compartilham este projeto e não se identificam com a extrema esquerda atual, e em particular aos trabalhadores que participaram das lutas operárias dos últimos anos, às e aos ativistas antirracistas, antifascistas, LGBT, feministas e ambientalistas convencidos da necessidade da revolução, aos jovens que sabem que esta sociedade não tem nada para lhes oferecer. Também é dirigido aos revolucionários que querem tirar as lições do fracasso da extrema-esquerda, sejam eles militantes do NPA e que rejeitam o giro tomado pela direção deste partido, ou da Lutte Ouvrière."

É esta construção revolucionária não apenas programática, mas também como uma pequena força material que faz com que a política impulsionada pelo RP seja atrativa para trabalhadores e ativistas dos movimentos em luta, assim como para artistas e intelectuais de renome como a atriz Adele Haenel ou a escritora Sandra Lucbert.

Expressa também que o radicalismo autonomista que acompanhou o ciclo de luta de classes aberto em 2016 vem se apagando e que à esquerda de Mélenchon, existe um espaço social e político que necessita ser organizado. O cenário político que se tornará mais claro após as eleições legislativas de 12 e 19 de junho, mas já podemos dizer que o segundo mandato de Macron se anuncia mais problemático que o primeiro e se abrirão possibilidades de maior desenvolvimento da luta de classes e da intervenção da esquerda revolucionária.

Aqueles que lançam hoje a convocação por uma nova organização revolucionária tiveram um papel ativo no ciclo anterior da luta de classes, como a vitória da greve Onet, a experiência da assembléia interestadual (intergares) durante a greve contra o reforma ferroviária, o polo Saint-Lazare construído junto com movimento antirracista do Comitê Adama para cercar de solidariedade o movimento dos Coletes Amarelos, a coordenação dos trabalhadores do transporte durante a greve contra a reforma da previdência, a greve dos petroleiros da Total Grandpuits, além de inúmeras mobilizações de jovens e diversos movimentos. Desse processo, nosso camarada Anasse Kazib emergiu como a principal figura combativa da classe trabalhadora e, posteriormente, através de sua campanha pré-eleitoral, como a terceira figura da extrema-esquerda francesa. Apostamos que esta nova organização pode desempenhar um papel ainda mais importante no desenvolvimento das lutas operárias e na construção de um partido revolucionário na França no próximo período.

Tradução: Lina Hamdan. O artigo original pode ser lido aqui.

 
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