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Violência policial
Base policial bolsonarista manda recado de sangue com Chacina na Vila Cruzeiro
Yuri Capadócia

Após a execução de 23 pessoas na Vila Cruzeiro, Bolsonaro celebrou e parabenizou os policiais pela “operação”, sendo seguido pela declaração do coronel da PMERJ que responsabilizou o STF e a medida demagógica de limitar as operações pela concentração de “bandidos” nas favelas. Fica evidente que a chacina foi mais uma mostra da politização da base policial bolsonarista.

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Foto: Eduardo Anizelli

A selvageria policial, marca intrínseca do Estado racista brasileiro, foi potencializada ao longo de todo o governo Bolsonaro, que endossa o discurso truculento em sua base. Ainda assim, nos últimos dias, assistimos a um novo incremento dos níveis de brutalidade empregues por essa instituição reacionária com dois fatos marcantes: a Chacina na Vila Cruzeiro e o assassinato bárbaro de Genilson, que diante da brutalidade das imagens tem repercutido no mundo inteiro.

Na Chacina da Vila Cruzeiro, a polícia militar transformou a região do Complexo da Penha em cenário de guerra, com moradores relatando tiroteios desde a madrugada no local. O banho de sangue produzido na comunidade resultou em 26 mortes - um boletim da polícia reconheceu 18 mortes, enquanto outros 8 corpos foram levados aos hospitais pelos próprios moradores, que tiveram que entrar na mata, próxima a comunidade, para resgatá-los. A operação, verdadeiro massacre, foi levada a cabo pela Polícia Militar, pelo Bope, e contou até com a participação da Polícia Rodoviária Federal.

A brutalidade e letalidade das operações militares nas comunidades cariocas são uma constante da realidade da classe trabalhadora fluminense, mas a mera constatação dos números do governo Claudio Castro, que acumula o assombroso recorde de 2 das maiores chacinas da história do estado - Jacarezinho com 28 mortes, em 2021, em primeiro lugar seguida por essa na Vila Cruzeiro-, mostram um processo de recrudescimento.

Para Claudio Castro, governador bolsonarista de extrema direita, a chacina tem um componente eleitoral. Como é praxe no Rio de Janeiro, em ano de eleições, políticos reacionários miram e metralham o discurso de segurança, ecoando a criminalização da pobreza e propagandeando a contínua guerra às drogas, que só faz incrementar o aparato repressivo empregado e as cifras de mortos contabilizados. Com Wilson Witzel, antecessor de Castro que sofreu impeachment, esse processo parecia ter atingido o ápice, chegando ao uso de snipers e helicópteros contra a população, Castro porém vem superando sua letalidade.

🎙️ESQUERDA DIARIO COMENTA | A Chacina eleitoreira de Claudio Castro na Vila Cruzeiro

Um recado escrito em sangue pela extrema direita

Entretanto, existe um componente inédito nessa chacina em particular. Após o massacre, o coronel Luiz Henrique Marinho, à frente da PMERJ, mostrou que uma das intenções com o banho de sangue foi mandar um recado dessa base policial bolsonarista nas disputas autoritárias entre Bolsonaro e o STF. O coronel responsabilizou o Supremo, dizendo que a restrição do tribunal às operações policiais nas favelas cariocas, permitiu a migração de líderes criminosos para esses locais. Da mesma forma, que Claudio Castro busca capitalizar eleitoralmente a questão da segurança pública, a base policial busca atiçar essa pauta contra o regime em seu enfrentamento ao STF.

Logo após o massacre, Bolsonaro parabenizou os policiais, celebrando a morte dos 23 - segundo os números da polícia - “bandidos”. Segundo levantamento da agência .MAP, nas redes sociais (Twitter e Facebook), a ação teve aprovação em 65% dos comentários. Dentro deste recorte, 68% das postagens foram de apoiadores do presidente, mostrando tanto o ativismo bolsonarista no tema, quanto a penetração desse discurso reacionário na segurança.

Esse recado da PMERJ vem na esteira da escalada retórica golpista de Bolsonaro, mostrando o corpo que esse discurso bolsonarista movimenta. É preciso lembrar que essa não é a primeira sinalização da politização das forças policiais em prol do “capitão”. Desde o motim policial reacionário no Ceará, em 2019, foram várias demonstrações de ativação dessa base, como a tentativa frustrada de outro motim na Bahia e a convocação ostensiva às tropas policiais de participação nos atos de 7 de setembro. Porém, essas mesmas movimentações mostram os limites dessa adesão, em nenhum desses momentos se confirmando uma quebra de comando dentro das corporações estaduais.

Outro fato novo nessa chacina policial, foi a injustificável participação da Polícia Rodoviária Federal, subordinada diretamente a Bolsonaro. A PRF, que pela sua atribuição constitucional deveria limitar-se “ao patrulhamento ostensivo das rodovias federais", já esteve envolvida outras 2 vezes em operações junto com o Bope, a tropa de elite da PM fluminense, este ano. Em fevereiro, as duas corporações atuaram na mesma Vila Cruzeiro, em ação que gerou oito mortes. Em abril, foram seis mortes no Chapadão. Além disso, essa mesma PRF protagonizou, em Sergipe, uma das recentes cenas de violência policial mais bárbara, ao submeter Genivaldo Santos à tortura, improvisando uma “câmara de gás” na viatura, que levou o homem, portador de transtorno mental, a morte por asfixia.

Em nossas análises, reiteramos que a correlação de forças no atual regime brasileiro não apresenta condições para um golpe militar , dada a falta de unificação da burguesia nacional em torno dessa aventura autoritária, além da falta de apoio do imperialismo, porém, o que não excluiria movimentações violentas desse tipo pela base bolsonarista, parte da estratégia de Bolsonaro para manter sua base social coesa e ativa. A demagogia reacionária da segurança pública e a violência de sua base policial são duas armas que Bolsonaro deixa claro que irá empregar.

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O outro lado da demagogia do regime e a falta de uma saída da classe trabalhadora

O STF foi o alvo do recado dado pela base policial bolsonarista, por, de forma demagógica, restringir a realização de operações policiais sem o consentimento do Ministério Público, desde de maio de 2021. O caráter demagógico da medida se revela uma vez que, em 2021, 1.356 civis morreram em ações policiais no estado, alta de 8,9% em relação a 2020. Ou seja, não apenas operações policiais em favelas continuaram ocorrendo, como os massacres produzidos por elas persistiram, até cresceram, mesmo sob as vistas grossas do judiciário.

Antes de tudo, é importante ressaltar isso, nenhum dos dois lados está preocupado em verdadeiramente combater nem o extermínio da população negra e favelada pela violência policial ou mesmo a criminalidade. Para isso, como programa, seria necessário o fim imediato de todas as tropas especiais como o BOPE, a Tática e a Força Nacional, assim como da política das UPPs, tendo como perspectiva o desmantelamento completo do aparato de repressão estatal e o fim de todas as policias; a legalização das drogas; exigência pelo fim dos tribunais militares e que os crimes policiais sejam julgados por júri popular composto pelas comunidades, organismos de direitos humanos e sindicatos, pelo fim dos privilégios dos juízes e que todo juiz ganhe igual a um professor e sejam eleitos pelo povo.

Ademais, são os ataques econômicos e a degradação das condições de vida da classe trabalhadora - com o desemprego, a carestia de vida e a fome -, que produzem o aumento da violência. Por isso, uma resposta para a demanda por segurança precisa partir de responder a fundo a crise econômica, colocando uma saída anticapitalista, que ofereça emprego, saúde e educação ao conjunto da população. Portanto, seria necessário uma reforma urbana radical, para transformar as condições de vida precárias dessa parcela da população, com um plano de obras públicas que criasse empregos dignos para seu sustento.

Nesse sentido, Lula se contrapõe a Bolsonaro, dizendo agora que “a solução não está em mais polícia”, mas os anos de governo petista afirmam o contrário. O PT foi parte não só da implementação das UPPs no Rio de Janeiro, que abriram caminho para a crescente militarização do estado, como tinha como projeto sua extensão por todo o país, tendo ao longo de seus anos dobrado o investimento no aparato repressivo e intensificado o encarceramento em massa da população. Aliás, a chapa Lula-Alckmin, em encontro no dia de ontem, se posicionou sobre o caso pedindo justiça por Genivaldo. A denúncia da violência policial é um ato cínico da parte do ex-governador tucano, responsável direto por crimes como a Operação Castelinho, emboscada que terminou com a morte de 12 pessoas em 2002, e a reintegração de posse do Pinheirinho, em 2012, ou o fortalecimento da tropa de elite e uma das mais assassinas do país, Rota, já disse que terá como prioridade na formulação do programa a área de segurança pública, prometendo intensificar o combate ao tráfico de armas e drogas.

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O enfrentamento à política racista e assassina de Bolsonaro e Claudio Castro deve se dar de forma independente de todas as outras variantes burguesas que, com uma cara mais democrática, buscam manter uma ordem social onde os assassinatos e a violência policial encontram seu lugar. É preciso lutar por justiça através da mobilização para cada uma das vítimas na chacina da Vila Cruzeiro, assim como por Genivaldo Santos. Somente confiando na auto-organização dos trabalhadores nos seus locais de trabalho, da população pobre nos bairros, do movimento estudantil nas escolas e universidades é que poderemos avançar para enfrentar essa situação agoniante e de desespero cotidiano para cada uma das famílias que vivem com medo permanente de que seus filhos não voltem mais das escolas.

 
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