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A guerra na Ucrânia e as polêmicas na esquerda trotskista
Elizabeth Yang

Mais de dois meses após o início da guerra na Ucrânia, tentaremos discutir novamente com a política defendida pelos partidos com os quais construímos a FIT-U na Argentina: Esquerda Socialista (do grupo internacional ITU-CI, que no Brasil é a CST), o MST (LIS-CI), o PO, e até mesmo com o PSTU do Brasil (LIT-CI), com quem estamos construindo um Polo Revolucionário e Socialista junto com outros partidos, grupos e personalidades.

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Tradução: Gabriel Ulbricht

Trata-se de uma guerra na qual, para além das possibilidades de intervenção direta que possam existir, são postas à prova a política e a estratégia dos grupos e partidos que se dizem revolucionários. Sobretudo nesta guerra que envolve a Rússia, a OTAN e os principais países imperialistas, os EUA e a Europa, e que está ocasionando efeitos econômicos e políticos nas relações interestatais em todo o mundo.

No ato de 1º de maio, Nicolás del Caño, dirigente do PTS da Argentina, resumiu a política da Fração Trotskista – Quarta Internacional quando disse que desde o primeiro momento rejeitamos a invasão criminosa da Rússia na Ucrânia, mas também não nos alinhamos com Zelensky, que está agindo em comum e armado pela OTAN, a qual vem aumentando o número de seus estados membros e se expandindo para o Leste Europeu. E acrescentou que os Estados Unidos e seus aliados veem a Ucrânia apenas como mais uma peça de seu militarismo, e que nenhuma alternativa virá das mãos dos Estados Unidos e da OTAN, fazendo um apelo à mobilização contra esta guerra, contra a invasão da Ucrânia pela Rússia e também contra a interferência e o crescente militarismo da OTAN.

Quem comanda o bando militar por trás do governo ucraniano?

No evento de 1º de maio na Argentina, a porta-voz da Izquierda Socialista (IS) (Mónica Schlotthauer) resumiu a posição de seu grupo internacional: “É necessário que os milicianos e o exército ucraniano recebam armas para derrotar o genocídio de Putin. Opor-se ao armamento na Ucrânia é criminoso, é declarar a derrota da resistência ucraniana. Por isso, e a partir das trincheiras dessa resistência, dizemos nem um minuto de confiança em Zelensky e também fora OTAN da Europa e do mundo” [destaque nosso].

Se pedirmos armas para a resistência ucraniana, isso significaria que este lado é independente da OTAN, dos Estados Unidos e de qualquer imperialismo. Se a realidade fosse essa, estaríamos de acordo e a verdade é que a guerra seria menos complexa, muito séria, mas menos complexa.

No entanto, este não é o caso: o “lado ucraniano” liderado pelo governo Zelensky está completamente alinhado com os Estados Unidos. Basta ler as declarações do secretário da Defesa norte-americano, Lloyd Austin, na conferência de imprensa ao regressar da Ucrânia, dizendo que os Estados Unidos querem “ver a Rússia enfraquecida ao ponto de não poder fazer o tipo de coisas que fez ao invadir a Ucrânia”. Também são significativas as declarações dos porta-vozes do Conselho de Segurança Nacional: “Um de nossos objetivos tem sido limitar a capacidade da Rússia de fazer algo assim novamente, como disse o secretário Austin. É por isso que estamos armando os ucranianos com armas e equipamentos para que eles possam se defender dos ataques russos, e por isso estamos usando sanções e controles de exportação direcionados diretamente à indústria de defesa da Rússia. Procuramos minar o poder econômico e militar da Rússia para ameaçar e atacar seus vizinhos” [destaque nosso].

Se enfraquecer a Rússia é o objetivo do imperialismo norte-americano, então ele continuará armando a resistência e usando a guerra na Ucrânia até que considere que este objetivo foi cumprido. E o que mais o chefe do Pentágono disse? Ele acredita que a Ucrânia pode vencer com “o time certo” e o “apoio certo”.

A Câmara dos Deputados dos Estados Unidos aprovou esta semana, por 368 votos a favor e 57 contra, uma ajuda de 40 bilhões de dólares em assistência militar, humanitária e econômica. Não há dúvida de que a OTAN e o imperialismo europeu, liderado pelos EUA, são os que armam a resistência ucraniana. E quem coloca o dinheiro e as armas é certamente quem decide a política.

No contexto dessa realidade, o que significa “fora OTAN da Europa e do mundo”, como Schlotthauer gritou em seu discurso? Se a OTAN se retirar, o fornecimento de armas à resistência ucraniana terminará. A proposta de Mercedes Petit (IS) na Correspondência Internacional nº 49 é que digamos aos ucranianos: “lutemos juntos para expulsar os russos, sem confiar em Zelensky ou na OTAN” (p. 18). Em outras palavras, “Fora OTAN” não seria mais a tarefa, mas receber as armas, com as quais não há outra opção senão submeter-se à política imperialista, mas sim, sem confiar um minuto. Essa política é, no mínimo, incoerente e, na verdade, acaba sendo um apoio ao lado liderado pelo imperialismo, cujo objetivo não é a independência da Ucrânia, mas enfraquecer ao máximo a Rússia para um propósito mais estratégico, que seria, pelo menos, colocar limites à China, um aliado russo.

Os analistas da Rand Corporation, um think tank ianque bastante influente, por exemplo, foram uns dos que aconselharam os EUA a vencer a guerra fria. No ano passado eles publicaram um relatório, “Overextending and Unbalancing Russia”, onde diziam que a Rússia ainda seria um adversário poderoso (militar, não econômico) e que era necessário aplicar uma estratégia conjunta com a União Europeia de longo prazo, de desgaste e desequilíbrio. Algo semelhante, digamos, ao desgaste a que forçaram a União Soviética, que a levou a esgotar seus recursos econômicos em um confronto estratégico (o que ficou conhecido como Guerra nas Estrelas durante a Guerra Fria).

Em uma declaração em 24 de fevereiro, explicamos como o expansionismo da OTAN e uma política hostil em relação à Rússia aumentaram desde o fim da Guerra Fria e a interferência imperialista na Ucrânia desde o movimento Maidan de 2014.

Além de tudo, para a UIT (CI), se não há fuzileiros navais dos EUA ou tropas imperialistas no campo de batalha, na trincheira Ucrânia, então a OTAN não faz parte dessa guerra. É bem verdade que os EUA mantêm a política de não enviar tropas, o que significaria um salto na guerra. Mas isso não impede, como explicamos anteriormente, que o comando político-militar do lado ucraniano esteja nas mãos da OTAN e dos EUA.

Claudia Cinatti, em seu artigo “Uma nova fase da guerra na Ucrânia”, relata o aumento significativo no fornecimento de armas pesadas: “É um salto porque a partir de agora a OTAN fornecerá ao exército ucraniano armas ofensivas pesadas. Este arsenal inclui tanques antiaéreos Gepard da Alemanha e canhões Howitzer dos Estados Unidos e Canadá.” Além disso, explica em que consiste o “grupo de contato para a Ucrânia”, que dá status organizacional à liderança imperialista do lado ucraniano.

Esta política da UIT, que os coloca objetivamente do lado liderado pela OTAN, é compartilhada pela LIT, Neste último caso, a política avança um pouco mais e propõem mobilizar “para exigir que os governos (especialmente dos países imperialistas) entreguem armas e todos os materiais necessários (munições, alimentos, remédios) à resistência ucraniana de forma direta e sem quaisquer condições”.

É evidente que não há necessidade de exigir do imperialismo algo que já vem fazendo, e inclusive reforçou nas últimas semanas. O impressionante dessa política é pensar que o imperialismo o faria sem condições; com espírito, digamos, de solidariedade.

Imediatamente, no mesmo artigo do Correo Internacional de abril, dizem: “Reiteramos, somos totalmente contra a entrada da OTAN no conflito e exigimos sua dissolução. O que estamos dizendo é que esses governos devem ser obrigados a entregar suas armas à resistência ucraniana direta e incondicionalmente”. Sofrem do mesmo problema (inocência ou uma forma esquerdista de se cobrir de palavrões sem nenhuma consequência prática?) que a UIT (CI): acreditar que quem deposita dinheiro e armas de um lado não faz parte do conflito, nem da liderança política ou militar.

Qual é a realidade concreta?

Na mesma revista, Eduardo Almeida, histórico líder brasileiro do LIT (CI), afirma o que para ele seria “A realidade concreta da invasão russa”. Em seu artigo, ele analisa que “há ambos os polos contrarrevolucionários em ação na guerra na Ucrânia. Mas qual é a realidade concreta e como funcionam esses polos? Esta não é uma invasão militar da OTAN contra o território russo.” (p.14, CI abril).

Novamente, a mesma posição que a IS. Se as botas não estiverem em território russo, tampouco na Ucrânia, a OTAN, os EUA e o imperialismo europeu não estariam colocando suas armas e recursos milionários. Mas, na realidade, o próprio Almeida reconhece em sua análise que “há dois polos contrarrevolucionários em ação na guerra na Ucrânia”. Surpreendentemente, nos perguntamos o que leva a LIT (CI) a apoiar um dos polos contrarrevolucionários, apoiado pelo imperialismo ianque e europeu. Talvez eles vejam algum caráter progressista. E, por sua vez, em nenhum momento explica por que a invasão russa gozaria de maior parcela de “realidade concreta” do que o outro polo contrarrevolucionário. A “realidade concreta” é um pouco mais complexa.

Em prol de uma “realidade concreta”, a LIT apenas reconhece que “o que realmente existe é uma invasão militar russa da Ucrânia, para recompor sua opressão direta”.

A verdade é que a invasão russa foi usada pela OTAN e pelos EUA para fazer sua própria política, armar a resistência contra a Rússia e colocá-la sob seu comando.

Na mesma revista, Alejandro Iturbe critica os parlamentares do FIT que falaram de suas bancadas com um “Não à guerra”. E citando Lênin, afirma que “a posição contra a guerra e seu resultado não dependia do tipo de direção que a luta teve no país oprimido, mas do caráter dos países em conflito”. Foi o caso da Guerra das Malvinas (1982) em nosso continente, que completou, este ano, quarenta anos. Não era o fator determinante naquele momento que a semi-colônia argentina tivesse uma ditadura militar e seu governo fosse o que enfrentava os ingleses. O fundamental era vencer a guerra contra o imperialismo, além do fato de ser liderado por um ditador. Nem nas Malvinas nem na Guerra do Golfo a maioria do imperialismo apoiou o país “atacado” como estão todos agora depois da Ucrânia. Portanto, a política indicada por Iturbe com base em citações de Lênin não é aplicada aqui.

No que consiste a resistência ucraniana?

A Operação Solidariedade é uma rede de “voluntários anti-autoritários” da Ucrânia que organiza parte da ajuda à resistência, com quem dirigentes da UIT viajaram para o país invadido. Esta rede de voluntários se declara “crítica do imperialismo ocidental” e pede apoio ao que eles chamam de “movimento de resistência ucraniana”, propondo primeiro “apoio direto às Forças Armadas ou Defesa Territorial da Ucrânia”. Ou seja, o mesmo exército equipado e dirigido politicamente pelo imperialismo.

Na apresentação da revista do site da UIT consta na p. 1 que “milhares e milhares de homens e mulheres pegaram em armas ao lado do exército ucraniano” [destaque nosso]. A resistência a que a IS se refere é evidentemente as Forças Armadas da Ucrânia e a Defesa Territorial, e estas não são independentes do imperialismo.

O mesmo acontece com a LIT. Em entrevista a Yuri Petrovich Samoilov, presidente do Sindicato dos Mineiros Independentes Krivoy Rog, região de Dniepropetrovsk da Ucrânia, quando questionado sobre a participação dos trabalhadores ucranianos na resistência, ele respondeu que é muito ativo e que “os sindicatos acolhem os refugiados em suas sedes, e participam das Brigadas de Defesa Territorial e das Forças Armadas da Ucrânia”. Cuidar dos refugiados é um ato de solidariedade inquestionável, mas eles também se juntam às Forças Armadas da Ucrânia e à Defesa Territorial. Ele conta que os sindicatos participam principalmente como voluntários nas atividades. Ou seja, não existe uma política independente.

O MST (LIS) também propõe uma política semelhante dentro da mesma lógica que poderíamos sintetizar como “campista”, dando suporte a uma “resistência popular ucraniana”, que além do fato de existirem grupos de civis tentando se defender com coquetéis molotov caseiros, eles não conseguem superar o problema político da trincheira ucraniana subserviente ao imperialismo.

Qual é o papel da OTAN?

A Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) foi criada no início da Guerra Fria para impedir o “avanço do comunismo”, mas hoje continua a existir apesar do fato de a URSS já ter sido dissolvida. Interveio nas principais guerras de agressão imperialista, diretamente como quando desdobrou mísseis Patriot durante a Guerra do Golfo, em 2003 no Iraque e em 2012 na Síria também com os mesmos mísseis, ou colaborando com a inteligência como foi o caso da Guerra das Malvinas em 1982.

Após a Guerra Fria, teve uma política expansionista especial ao incorporar países do antigo espaço soviético e outros como os do Báltico, ampliando sua adesão de 16 para 30 estados. Desta forma, estava criando uma cerca em favor do imperialismo norte-americano e europeu.

Há vários anos, a OTAN vem enviando tropas pelos países do Leste Europeu, realizando exercícios militares com milhares de soldados junto à Ucrânia, incluindo Sea Breeze, uma manobra militar antiga, mas que em 2021 foi a maior da história. No mesmo ano, ocorreu o exercício ucraniano-americano denominado Rapid Trident, com a participação de 6 mil militares de 15 países parceiros. Vários dos exercícios táticos terrestres foram realizados no Centro Internacional de Manutenção da Paz e Segurança em Lviv, onde a Rússia, nesta guerra, lançou um ataque aéreo.

A invasão de Putin, embora reacionária, também foi provocada por essas circunstâncias belicistas que aumentaram as tensões na região.

No quadro da guerra atual, a OTAN realizará sua 40ª Cúpula em Madri nos dias 29 e 30 de junho. Será uma boa oportunidade para mobilizações contra a guerra e o rearmamento imperialista.

Uma política por “etapas” e “campista”?

A origem desta guerra na Ucrânia estaria, para a LIT (CI), na situação criada desde que “a revolução democrática chegou em 2014 e derrubou o ditador fantoche de Moscou, Yanukovych. Ele estabeleceu uma democracia burguesa. Zelensky foi eleito, um governo burguês, pró-imperialista, [...]”. (p. 6, Correo Internacional, abril de 2022). Na realidade, Zelensky ganhou a presidência em 2019 e Poroshenko esteve antes dele, após a queda de Yanukovych. Os editores da revista teriam que ser mais sérios sobre a publicação de dados muito básicos como este.

A ideia de “revolução democrática” é defendida pelos seguidores de Nahuel Moreno, que, em poucas palavras, recorrendo a uma concepção semi-etapista, dividiram a luta por uma revolução social em uma primeira fase democrática, que seria realizada por um movimento ou bloco com forças “democráticas”, ainda que burguesas, onde a classe trabalhadora não teria um papel independente. Segundo a teoria que sustenta a “revolução democrática”, as forças sociais que compõem o bloco democrático, seus objetivos políticos, seu programa e sua direção não são um grande problema, desde que visem derrubar o governo no poder. A segunda etapa chegaria uma vez conquistada a democracia, e então a luta seria por uma estratégia de independência de classe e revolucionária.

Mas, como o próprio Almeida descreve, o que veio depois da primeira fase foi um governo burguês pró-imperialista, primeiro o de Poroshenko, e depois o de Zelenski, que procurou se aliar aos EUA e ingressar na OTAN, um dos motivos importantes que desencadearam a guerra.

O movimento de 2014 conhecido como Euromaidan, além de lutar nas ruas contra o governo de Viktor Yanukovych (pró-russo), clamava pela entrada na União Europeia, daí seu nome. O legítimo sentimento anti-autoritário foi aproveitado pela direita pró-imperialista, dando ao movimento um caráter mais reacionário do que uma “revolução democrática”. São as consequências de um mau guia de ação que perde a independência de classe e a estratégia revolucionária ao longo do caminho sob qualquer liderança.

Nesse sentido, não há possibilidade de autodeterminação do povo ucraniano, muito menos independência da nação oprimida sob a subordinação imperialista. Também não há independência sob o comando da Rússia. Um programa independente de ambos os lados deveria ter como objetivo unir ucranianos e aqueles que se dizem russos, respeitando seus direitos de autodeterminação como nacionalidades oprimidas; unindo suas reivindicações socioeconômicas e enfrentando suas próprias classes dominantes, que as usam como moeda de troca dos interesses imperialistas e das oligarquias russas.

A liderança do “campo burguês da oposição” não apenas envia armas e informações através da colaboração de inteligência, mas também pune a Rússia com duras sanções econômicas que, como sabemos, afetam sobretudo os trabalhadores e o povo russo.

Pelo contrário, para o LIT (CI) as sanções são insuficientes: “Não apoiamos a fraude das falsas e hipócritas sanções imperialistas. Devemos exigir do governo imperialista o fim do comércio de petróleo e gás russo em todo o mundo […]”. Em particular, essa demanda por um governo imperialista para boicotar o comércio de petróleo e gás russo em todo o mundo coincide com uma das estratégias dos EUA para reduzir a dependência energética da Alemanha em relação à Rússia. Os EUA já conseguiram um avanço tático em sua posição global, que consiste em ter agrupado a União Europeia e outros países sob sua liderança contra a Rússia, e mais estrategicamente contra a China.

Muito pior do que coincidências na estratégia é exigir que o imperialismo seja mais duro nas sanções econômicas. Aqui a demanda que fazem vai além de pedir armas para a resistência russa “diretamente e sem quaisquer condições”, está pedindo que o imperialismo intervenha diretamente contra a Rússia, garantindo o bloqueio, colocando todos os seus recursos para boicotar a economia do país. Portanto, é falso quando dizem que “reiteramos, somos totalmente contra a entrada da OTAN no conflito e exigimos sua dissolução”.

Numa ousadia ainda mais delirante, no artigo da mesma revista sob o título “Armas para a Resistência Ucraniana!” a LIT (CI) pretende educar “as massas que, para derrubar seus próprios governos, devem participar da luta militar, ainda que por um período, sob suas ordens, pois, infelizmente, são eles [os próprios governos] que têm comando na guerra pela independência ou autodeterminação. Enquanto isso, os revolucionários devem se preparar politicamente para a derrubada desses governos; ‘esta é a única política revolucionária’”. Uma citação de Leon Trótski no escrito “Sobre a Guerra Sino-Japonesa” de 1937. Mas, como o título indica, trata-se da guerra entre a semi-colônia chinesa e seu imperialismo opressor Japão. Nessa guerra, o lado chinês foi liderado pela burguesia nacionalista do partido Kuomintang e não por um imperialismo oposto ao Japão. Mesmo naqueles anos, 1937, o Kuomintang tinha um acordo com Stálin e o Partido Comunista Chinês. Ou seja, as características dos países, as direções e a guerra sino-japonesa nada têm a ver com a discussão atual.

Da mesma forma, se a guerra na Ucrânia fosse de libertação nacional (como foi o caso da China e do Kuomintang), então seria necessário participar da trincheira ucraniana sob a liderança militar da burguesia nacional, mantendo a “independência política e organizacional, isto é, que tanto na guerra civil contra os agentes locais do imperialismo quanto na guerra nacional contra o imperialismo, a classe trabalhadora, mantendo-se na vanguarda da luta militar, prepararia a derrubada política da burguesia”, diz Trótski no mesmo texto. Segundo a teoria que sustenta a “revolução democrática”, em sua primeira etapa o movimento democrático estaria “todos juntos contra o imperialismo opressor” fora das condições de independência de classe e, portanto, sem qualquer chance de preparação ativa para a derrubada da própria burguesia.

Por um grande movimento internacional contra a guerra

Por sua vez, a política do Partido Obrero coloca os EUA, a OTAN e a União Europeia no mesmo plano histórico com a Rússia, como se fosse apenas mais um imperialismo. Uma posição ambígua, pois ao mesmo tempo em que afirmam que a Rússia faz parte do “processo de restauração capitalista nos antigos estados operários”, então não poderia ser considerada no mesmo plano do imperialismo.

Ao mesmo tempo, afirmam que existe uma “responsabilidade primordial da OTAN na guerra na Ucrânia”, que reduziria a invasão russa a uma posição predominantemente defensiva e, portanto, justificada. É por isso que criticam nosso discurso de 1º de maio, onde partimos da denúncia da invasão reacionária e capitalista russa, com métodos opressores que nada têm a invejar aos países imperialistas “clássicos”.

Além das caracterizações, o Partido Obrero não dá relevância ao direito à autodeterminação tanto dos povos oprimidos, dos ucranianos, quanto daqueles que se dizem russos no território da Ucrânia. Um direito democrático e legítimo, que também é manipulado tanto pelo imperialismo quanto por Putin. A política do PO se reduz a uma série de abstrações, “guerra à guerra e luta para derrubar todos os governos que fazem essa guerra, estabelecendo governos operários” (Discurso de Gabriel Solano, 1º de maio).

A guerra na Ucrânia tem suas complexidades, que exigem monitoramento constante e estudo além de qualquer superficialidade. Até agora, a guerra tem um caráter reacionário, sem nenhum lado progressista, para o qual a declaração da Facção Trotskista (CI) mantém total validade. É necessário um grande movimento internacional contra a guerra, contra a escalada de armas, anti-imperialista e independente de ambos os lados. A partir desta posição, é possível influenciar o desenvolvimento de tendências na Rússia e na Ucrânia. Na Ucrânia, a resistência à ocupação russa deve tomar um caminho independente da OTAN que Zelensky prega. E na Rússia, que a oposição à guerra seja o ponto de partida para acabar com o governo reacionário de Putin de maneira revolucionária.

Este artigo foi originalmente publicado aqui

 
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