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Crise do PSOL
Com a federação, votos no PSOL ajudarão a eleger os políticos burgueses e anti-aborto da REDE
Vitória Camargo

Diante do governo Bolsonaro e Mourão, apoiado nos militares, que vem aprofundando a miséria e o sofrimento da classe trabalhadora e da juventude brasileiras, é fundamental neste momento defender uma perspectiva à altura de enfrentar tudo o que a escória da extrema direita representa. Essa tarefa só é possível sem abrir espaço à direita e a seu programa que ajudaram a fortalecer Bolsonaro, ou seja, sem conciliação de classes e com a independência política dos trabalhadores. O PSOL, por sua vez, segue o caminho oposto, aprofundando imensamente sua integração à ordem. Vive uma crise histórica que se mostra no apoio à chapa Lula-Alckmin e na Federação com a Rede Sustentabilidade de Marina Silva. Na prática, fundindo estatuto e programa com a Rede por 4 anos, o PSOL faz com que todos os votos em sua legenda ajudem automaticamente a eleger os políticos burgueses da Rede.

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A Rede Sustentabilidade, ligada ao Banco Itaú, é um partido burguês que apoiou o impeachment de Dilma e também deu votos para aprovar as reformas anti-operárias que vieram com o golpe institucional. Heloísa Helena foi grande entusiasta da Lava Jato. Seu senador Fabiano Contarato votou favorável à inclusão de estados e municípios na Reforma da Previdência, enquanto a Rede votou por esse ataque em estados como São Paulo. Na Alesp, Marina Helou ainda votou contra os professores pela nova carreira, que precariza ainda mais a educação pública do estado. No Paraná, a Rede conta com Mauro Rockenbach, ex-secretário da Justiça, Família e Trabalho do reacionário e neoliberal governo de Ratinho Jr. (PSD). Além disso, sua principal figura pública nacional, Marina Silva, defende a Reforma Trabalhista e, sobre privatizações, diz “não ter uma visão dogmática quanto a isso”. Esses são alguns dos principais políticos da Rede que podem se candidatar nas eleições de 2022.

Tudo isso sendo um partido abertamente contrário à legalização do aborto, com Marina Silva também sustentando em campanha que, se eleita presidente, vetaria a descriminalização do aborto, em nome de uma “defesa da vida” que é conivente com as milhares de mortes de mulheres todos os anos por aborto clandestino. Nem mesmo algo elementar como a defesa do direito ao casamento LGBT é consensual nesse partido.

Ao mesmo tempo, vários setores da direção majoritária do PSOL e de correntes que foram decisivas para a aprovação da Federação com a Rede, como o MES de Sâmia Bomfim e Luciana Genro, cujos votos foram o fiel da balança para essa decisão, tentaram convencer sua militância de que o programa dessa união teria a “hegemonia do PSOL”. Isto é, disseram que a Federação teria muito mais a cara desse partido do que da Rede burguesa. Nessa nota, demonstramos o oposto. É um programa liberal, ao agrado do Banco Itaú e da Natura, que não apresenta nem mesmo as características reformistas, por si só bastante limitadas, do programa do PSOL. Além disso, chegam a argumentar que, com organismos de direção, estatuto e programa comuns por 4 anos, o PSOL terá “liberdade” para contrariar a Rede em votações, se necessário, quando, na realidade, o partido que definir por abandonar uma federação antes do prazo fica impedido de utilizar os recursos do fundo partidário e o estatuto deve prever punições para parlamentares que votarem diferentemente da orientação da Federação.

De todo modo, a questão é que, mesmo que esses argumentos tivessem qualquer base na realidade (e não têm), essa união em si mesma implica que o voto no PSOL nessa eleição objetivamente, pelo funcionamento da Federação, já significará ajudar a eleger os políticos burgueses da Rede, vários com trajetória de ataques contra os trabalhadores, as mulheres e a juventude. Isso significa dizer que os votos em figuras do PSOL em São Paulo fortalecerão Marina Silva, ao que tudo indica, e Marina Helou; no Rio de Janeiro, Heloísa Helena; no Paraná, Mauro Rockenbach; no Espíritio Santo, Fabiano Cantarato, e por aí em diante. Isso porque o voto em qualquer candidato(a) da Federação contribui para o quoeficiente eleitoral da Federação como um todo, e vai eleger os candidatos mais bem votados da Federação, mesmo que não seja o(a) candidato(a) em quem se vota, e nem mesmo do partido em que se vota. Inclusive, diferentemente das coligações partidárias, as federações têm abrangência nacional, valendo tanto para eleições majoritárias, quanto para proporcionais, como deputados. Diga-se de passagem, valerão inclusive nas eleições municipais de 2024, para vereador.

Nesse sentido, mesmo que as feministas do PSOL queiram seguir defensoras do direito ao aborto, o qual não consta no programa da Federação evidentemente, e digam que a formação dessa Federação é puramente “pragmática”, todas as mulheres, jovens e LGBTs que votarem no PSOL também ajudarão uma bancada conservadora nessa pauta a se eleger. Ademais, todos aqueles que acreditam na bandeira ecossocialista que o PSOL diz encampar ajudarão a fortalecer figuras ecocapitalistas, financiadas por empresas que destroem o meio ambiente, com a Rede. Todos aqueles que apoiam criticamente Lula-Alckmin, mas dizem querer fortalecer um “Congresso de esquerda” votando no PSOL, poderão, na verdade, impulsionar também políticos que possivelmente deram votos ao golpismo e a ataques do governo Bolsonaro, com a Rede.

Tudo porque a militância do PSOL se prepara para distribuir materiais em prol de uma chapa com Alckmin, ganhando votos diretamente para Marina Silva e companhia. Assim, aqueles setores que se colocam como críticos à Federação e ao atual rumo do PSOL, mas seguem dentro do PSOL, na prática, acabarão trabalhando para a Federação, como no caso da CST, com a qual compomos o Polo Socialista e Revolucionário e que viemos chamando a romper com esse partido para construir um polo independente para lutas e eleições. Ainda que a CST diga que desobedecerá a orientação do PSOL de campanha por Lula-Alckmin desde o primeiro turno, se lançar candidatos pelo PSOL, os votos para a Rede serão uma das implicações inescapáveis de sua insistência oportunista em seguir em um partido cada vez mais integrado ao regime político.

Esse debate é fundamental porque não é abrindo espaço a burgueses e ao programa dos nossos inimigos, alçando figuras que ajudaram a nos trazer até aqui e transformando as eleições em um fim em si mesmo, que poderemos enfrentar a extrema direita. Os desafios da esquerda são opostos, dizem respeito a fortalecer um programa para que os capitalistas paguem pela crise, que revogue as reformas e privatizações, e fortaleça a confiança dos trabalhadores em suas próprias forças para derrotar o bolsonarismo.

 
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