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Greve no RN
Professoras de Natal relatam condições precárias nas escolas, por descaso de Álvaro Dias
Redação Esquerda Diário Nordeste

Nessa segunda-feira (18), os professores municipais de Natal entraram na terceira semana de greve com acampamento em frente a câmara municipal, reivindicando a implementação do Piso Salarial de 33,24%, a necessidade de concurso público e repudiando o sucateamento da infraestrutura nas unidades de ensino e CMEIs. A categoria se enfrenta contra os ataques do prefeito Álvaro Dias (PSDB), e da secretária de Educação, Cristina Diniz, que enviou um projeto de lei (PL) que visa destruir o Plano de Carreira dos professores. A prefeitura de Natal busca por meio do judiciário criminalizar o movimento grevista.

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Uma professora em anônimo sobre a situação da greve, das escolas em meio a pandemia e por que é necessário o apoio dos estudantes e da população:

A greve acontece em função do não cumprimento de uma lei municipal que o município de Natal tem uma lei que ela está em consonância com a lei federal, mas que infelizmente o prefeito de Natal não reconhece. Ele justifica que os professores já ganham o piso nacional e, por isso, considera que a gente não precisa que essa lei seja cumprida. Mas o que de fato ocorre é que [...] independente de ganhar ou não o piso, existe a lei que determina que o reajuste seja todo mês de janeiro de cada ano.

Sobre a pandemia foi a pior experiência possível. A gente trabalhou sem apoio nenhum. A Prefeitura Municipal de Natal não deu suporte algum, nem mesmo em termos de orientação para os professores. Nós passamos mais de um ano aguardando alguma movimentação da secretaria e funcionando sozinhos. A gente precisou trabalhar, obviamente, como a maioria das pessoas on line, sem suporte técnico nenhum, e os alunos menos ainda. O que piorou a situação porque, embora a gente tenha corrido atrás de um prejuízo que a prefeitura não deu conta, a gente não podia fazer além da nossa parte, porque o aluno ele não tem acesso.

Então a gente tem aluno que não fez nada esses dois anos. Ficou literalmente parado por não ter celular, por não ter o celular, não tem acesso. O celular não comportava o que a gente encaminhava. Fora isso, quando a gente percebeu essa falha com as crianças e os adolescentes, a gente começou a preparar material impresso. A secretaria também não deu suporte, que não tinha papel, não tinha tinta. Então, assim a gente ficou de mãos atadas, né? Bem complicado.

A greve merece todo apoio, porque quando a gente entra em greve, por mais que a falácia seja, entra se em função de salário e é em função de salário. Também não tem problema nenhum em ser. Mas isso reflete em toda uma conjuntura. Quando você consegue ser bem remunerado e ser reconhecido pelo que você faz, obviamente que o que você faz vai ser bem feito, vai ser de melhor qualidade e a gente passa por isso. O que a gente tenta o tempo todo explicar para as crianças, adolescentes, os pais, que uma greve dessa não é unicamente por questões salariais, são questões estruturais e são questões, acima de tudo, de organização da própria educação, que passa pelo salário do professor, da valorização do professor.

É terrível você trabalhar, além da estrutura ruim que a prefeitura oferece, você não ter reconhecimento da uma secretaria, que seria o órgão que deveria costurar toda a educação no município, mas que parece que serve para rasgar o que o pouco que a gente já tem".

Sobre a unificação da luta dos professores com a greve da saúde e a mobilização pelo pelo retorno das linhas de ônibus e contra Álvaro Dias, a professora opina:

Eu acho que todas as categorias, todas os grupos reunidos, passa para a população a má gestão que ele faz, porque se você observar, é em vários pontos que ele falha. Não é somente com a educação, não é com a saúde, é em vários pontos. Eu acho que se a gente se articular, se movimentar pra trabalhar junto, a população vai entender que a gente não está, não está isoladamente. Quem usa transporte, quem usa a educação pública, quem usa a saúde pública".

Uma outra professora também deixou seu relato sobre a luta dos professores municipais:

Eu acho que professor não precisaria, se tivesse um Estado que acreditasse na educação, realmente, o professor não precisaria passar por essa humilhação e todo ano tem que bater de frente com o Estado entrando em greve todo ano, quase todo ano é a mesma coisa. Ele está lutando não só pelos nossos direitos, mas pelos direitos há muito tempo, não só na questão salarial, mas condição de trabalho, reposições da educação melhor, um futuro melhor para essas crianças, principalmente crianças, alunos de periferia. Então, a maioria dessas crianças de periferia só tem a escola como base para o futuro".

A terceira professora relatou o sucateamento das escolas municipais de Natal:

Tem a questão da estrutura das escolas, por exemplo, a escola que eu trabalho com ela desde 2020, quando iniciou a pandemia, que começou um processo de reforma. Não é uma reforma grande, não, mas uma reforma mais estrutural para mudar as condições. Uma reforma que vale salientar. Ela veio por questão de recursos federais e acessibilidade, porque a escola não tem acessibilidade adequada. Então, o MEC enviou recurso para fazer essa reforma. Então a gente lá na escola está tendo essa reforma por causa desses recursos que vieram da prefeitura. Mas o que é que acontece? A prefeitura recebe recursos e vai segurando, segurando. Então, desde 2020 que a escola está numa reforma. A gente estava em aula remota. Poderiam ter concluído essa reforma. Não concluíram porque o prefeito não pagava a empresa, a empresa parava. Aí depois voltava três, quatro meses depois voltava e ficou nesse lengalenga. Terminou ano 2020. Deu se início o ano 2021 e existiu a mesma situação, conclui o ano 2021. Na mesma situação, começamos o ano de 2022. A gente iria retornar à aula presencial. As escolas voltaram o presencial. A minha não voltou presencial. Voltou remotamente porque ainda está em reforma. E hoje, dia 18 de abril. Ela está voltando presencialmente, com a condição de que ela ainda está em reforma, com a condição de que os alunos não participem de intervalo porque como está em reforma, para não colocar em risco ele. Então eles ficam sem o intervalo e a escola tem que ficar com esses alunos na sala. A secretaria não permitiu que fosse dado o horário. Então, os professores têm que dar horário às 4h. Porém, os alunos não podem participar de intervalo, não pode sair da sala. O lanche tem que ser na sala, sim, sem lanche, viu? Por quê? Porque não estava havendo recurso a pra os alunos não terem meio período.

O que é que a secretaria fez? Não. A gente manda o lanche, mas é aquele lanche básico. Só o iogurte, o biscoito e o leite, o biscoito, que não pode ser uma coisa que precise cozinhar porque está em reforma. Então, essa é uma situação. Outra situação, eu trabalho nessa escola há 13 anos, se você for na escola, os armários, nossa porta caindo, armário enferrujado, armário que você tem que lutar, tijolos para se sustentar. Quer dizer, não tem onde a gente guardar material. Ventiladores quebrados. Há dois anos atrás, a gente dava aula no maior sufoco porque não tinha ventilador e mandaram os ventiladores. Pensávamos que os ventiladores eram novos, só que eram ventiladores, que logo em seguida começaram a quebrar e pronto. Ventiladores quebrados, armários quebrados, cadeiras que não estão mais em condições. Quer dizer, não é só a caixa de instalar, é a estrutura da escola. Eu vou entrar agora na questão pessoal de que são recursos humanos e [..] o pessoal tem aula, mas falta professor de ensino religioso. Falta a professor de educação física nos dois horários que falta professor de artes. Então, quer dizer, é uma meia boca. Ele diz para a sociedade que está dando aula o que a escola não tá tendo aula. Os alunos ontem não eram mais a meia boca porque falta pessoa. Falta pessoas no quadro para fazer aquela função. Aí o professor tem que fingir que está dando aula, porque tem que cobrar o horário do outro professor como sala, entendeu? Ou segurar aluno na sala para não ter que mandar para casa? Para não mostrar para os pais que ele está contratando profissionais para dar aula. Então são vários fatores".

A categoria tem mostrado sua força na greve e a unificação das lutas da educação com a saúde municipal e a juventude pelo retorno das linhas de ônibus cortadas durante a pandemia, e convocando a população para cercar de apoio às categorias em luta no ato do dia 20 de abril é um importante passo para avançar contra Álvaro Dias e seus ataques, a serviço dos interesses dos capitalistas, mas também é parte de se enfrentar com Bolsonaro e Mourão que são responsáveis por implementar as reformas e todos os ataques que levaram ao aumento da fome, filas do osso, aumento do custo de vida e o preço dos alimentos e combustíveis. Somente com a força da mobilização podemos derrotar a direita e a extrema-direita.

Segue abaixo depoimento de Marie, coordenadora do Centro Acadêmico de Ciências Sociais UFRN:

Para nós é muito importante cada medida de solidariedade aos trabalhadores que se colocam em luta. Álvaro Dias está usando todas as suas forças para precarizar a educação, saúde e o transporte público junto à SETURN. Os ataques dele aos trabalhadores, junto a todas as medidas que Bolsonaro já vem implementando, precarizam a vida dos trabalhadores e ao mesmo tempo destroem as condições de ensino, afetando também os estudantes. Por isso nos colocamos lado a lado de vocês e defendemos que as lutas em curso se unifiquem para fortalecer as mobilizações que é a única força capaz de arrancar as demandas dos professores, dos trabalhadores da saúde e de todos que necessitam usar os ônibus e derrotar Álvaro Dias, Bolsonaro e seus ataques".

 
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