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De abraços com o fujimorismo
Governo de Pedro Castillo diz que “trabalhará junto” com a extrema-direita no parlamento peruano
Rosa Linh
Estudante de Relações Internacionais na UnB

Se já não bastasse o encontro com Bolsonaro, para permanecer no governo e preservar seus privilégios, o partido governante Peru Livre e o novo gabinete ministerial presidido por Aníbal Torres, com direito a abraços e declarações de que “trabalhariam juntos”, pactuaram com a extrema-direita parlamentar de María del Carmen Alva Prieto, o fujimorismo e a Renovação Popular.

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A presidente ultradireitista do Parlamento peruano, María del Carmen Alva Prieto, presidiu uma entrevista coletiva na qual compareceram porta-vozes de quase todas as forças políticas presentes no Congresso. Representantes dos partidos conservadores e de extrema direita Força Popular de Keiko Fujimori, Renovação Popular do protofascista Rafael López Aliaga e representantes do partido governista Peru Libre liderado por Vladimir e Waldemar Cerrón se destacaram neste evento. Todos se abraçaram simbolicamente e deram a entender que, a partir de agora, “trabalhariam juntos” para superar os "impasses" entre Executivo e Legislativo.

Aparentemente não bastaram os abraços a Jair Bolsonaro, representante mais destacado do trumpismo na América Latina, episódio em que Castillo atuou como um salva-vidas para um governo em descrédito e isolado internacionalmente. Agora o partido de Castillo abraça e pactua com os mesmos representantes da extrema-direita fujimorista e aliada à Bolsonaro que ameaçavam não reconhecer o resultado eleitoral e promover um golpe. São essas forças burguesas que dão sustentação para o modelo neoliberal falido do país, sustentado pela Constituição fujimorista de 1993 e que hoje, diante do desemprego e da carestia de vida das massas, servem para descarregar ainda mais a crise nas costas do povo pobre e trabalhador.

Essa movimentação política se situa diante de um aumento significativo no descrédito do Legislativo e Executivo, a tal ponto que nas últimas pesquisas apresentadas no último domingo na mídia foi mostrado que a reprovação do Congresso ultrapassou 70%, enquanto 65% desaprovaram a gestão de Pedro Castillo em nível nacional. Em Lima a reprovação do presidente atingiu nada menos que 79%.

Desde que tomou posse, três gabinetes ministeriais caíram e Castillo foi mais à direita. Longe de ser algo absolutamente inusitado, o professor já dava indicações de que iria governar junto com a direita e com os grandes empresários; suas declarações homofóbicas e machistas também não deixam dúvida de que ele estava disposto à conciliação de classes como fosse necessário para gerir o capitalismo peruano. Isso se expressa no novo gabinete ministerial, formado principalmente por figuras que garantiram o aprofundamento das políticas neoliberais e a manutenção do regime fujimorista de 1993. Exemplos são Héctor Valer Pinto, Alfonso Gilberto Chavarri Estrada, que é vinculado ao narcotráfico, e o novo ministro da economia, o neoliberal Oscar Miguel Graham Yamahuchi, que serviu distintos governos direitistas.

Nesse sentido, o que estamos vendo no Peru é uma crise de legitimidade dos poderes do Estado e dos partidos políticos, mas que, no entanto, não é nova; basta recordarmos a forma como caíram os últimos presidentes – de PPK a Vizcarra, incluindo o suicídio de Alan García e a judicialização de Toledo, Ollanta e Alberto Fujimori –, sem falar da enorme perda de prestígio do Parlamento, que a maioria da população vê como uma caixa de ressonância de interesses económicos empresariais e pessoais, completamente alheios às necessidades da grande maioria. Essa profunda crise, como explica o revolucionário Antonio Gramsci, que chamamos de crise orgânica, tem suas causas estruturais no esgotamento do modelo neoliberal e das instituições políticas impostas por Alberto Fujimori na década de 1990, legalmente respaldadas pela Constituição de 1993.

A guinada à direita de Castillo é o sintoma latino-americano do que esse novo ciclo de governos ditos “progressistas”, o que se comprova com as declarações de Boric no Chile, de que as elites “não precisam temê-lo”, e Alberto Fernandez, que está pactuando um acordo com o imperialismo por meio do FMI, o que irá descarregar a crise ainda mais nas costas do povo pobre e trabalhador. Isso é um indicativo do que seria um futuro governo Lula, que também de antemão costura alianças com o capital financeiro com Alckmin, o imperialismo e o conjunto da direita que deu o golpe institucional em 2016 e deu passagem para Bolsonaro.

Nesse sentido, a tarefa da esquerda revolucionária é batalhar pela independência de classe, não embarcar nas ilusões nacionalistas e reformistas de variantes burguesas “democráticas”, como fizeram distintas correntes do PSOL como a Resistência e o MES, mas também os stalinistas do PCB, UP - todos apoiaram Castillo como mal menor, cada um a seu modo. As batalhas da FT, aqui no Brasil com o MRT e no Peru com a CST, vão no sentido de apostar na mobilização e na auto-organização dos trabalhadores e oprimidos atuando para reagrupar a vanguarda revolucionária e avançar para que sejam os capitalistas que paguem pela crise.

Leia mais: Tirando o chapéu para Bolsonaro: como fica a esquerda que apoiou Pedro Castillo?

 
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