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TROTSKI E GRAMSCI
Seminário debate as democracias capitalistas a partir do pensamento de Trotski e Gramsci
Iuri Tonelo
Recife

Nos dias 12, 13 e 14 de fevereiro o Movimento Revolucionário de Trabalhadores realizou um seminário de formação reunindo cerca de 60 dirigentes e quadros de diversas categorias de trabalhadores e também de juventude de 5 estados. O seminário foi baseado na última elaboração teórica da Fração Trotskista (organização internacional da qual o MRT faz parte) publicada na Revista Estratégia Internacional (que sairá em breve em português), com o título “Gramsci, Trotski e a democracia capitalista”, elaborada por Emilio Albamonte e Matias Maiello, o qual esteve presente para coordenar o seminário no Brasil.

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O estudo se insere no marco geral da apropriação revolucionária que a Fração Trotskista vem fazendo sobre o pensamento de Carl von Clausewitz, clássico do pensamento militar moderno, como Trotsky e Lenin também fizeram. O intuito é reler os clássicos do marxismo à luz da articulação entre programa, estratégia e tática, como parte fundamental da tarefa de criar partidos revolucionários na atualidade.

A revolução no “ocidente”

O conceito de “ocidente” é utilizado por distintas correntes do marxismo, sobretudo pelo pensamento gramsciano, mas também foi debatido já antes de Gramsci nas teses da III Internacional do começo dos anos 1920. Os países de tipo “ocidental” têm, entre outros elementos, a formação mais desenvolvida de instituições e organismos sócio-políticos que permitem o desenvolvimento da chamada democracia burguesa e dificultam a ação política dos trabalhadores contra a dominação de classe da burguesia.

Nesse sentido, partindo de compreender diferenças entre a Rússia de 1917 e países de capitalismo avançado da década de 1920, buscou-se perguntar: como levar a experiência da Revolução Russa, o principal triunfo histórico da classe operária, para o terreno dos países capitalistas com tradições “democráticas” mais arraigadas?

Esse debate, extremamente atual para o Brasil e para a maioria dos países no mundo hoje, foi o tema central de discussão, na qual buscamos utilizar o pensamento de Antonio Gramsci e Leon Trotski para decifrar quais são as bases materiais da manutenção da hegemonia burguesa, ou seja, quais mecanismos e bases materiais se utiliza o regime político burguês para manter a sua dominação de classe, e quais as formas de combater essas ilusões.

As bases materiais da hegemonia burguesa

Leon Trotski em “Aonde vai a Inglaterra?”, de 1925, sintetizava o problema da hegemonia burguesa e o caráter mais ou menos “ocidental” dos países dizendo que “quanto mais rico e cultivado um país, mais antigas suas tradições parlamentares e democráticas, mas difícil é o partido comunista tomar o poder”, ou seja, quanto mais consolidada a “democracia” burguesa, mais fácil a classe dominante criar mecanismos de se manter no poder baseando-se nas ilusões que as massas tem nessa democracia, que nada mais é na realidade, como dizia Marx, uma ditadura do capital disfarçada.

Uma das confusões que se faz ao analisar esse tema é acreditar que a questão da hegemonia era apenas uma questão de ideologia das massas; no entanto, no seminário foi debatido que é necessário enxergar que essa hegemonia não se dá “no ar”, mas está baseada em forças materiais. Nesse sentido, entender como a formação de burocracias sindicais (setores privilegiados dos trabalhadores que atuam contra a massa) é fundamental em conter qualquer anseio político dos trabalhadores e manter a divisão ideologicamente histórica da dominação burguesa de separar o econômico e o político, ou seja, manter os trabalhadores em torno de lutas econômicas, mas os impedindo de tornarem-se sujeitos políticos, reservando esse espaço exclusivamente às instituições burguesas. Daí decorre o papel das burocracias como agentes materiais da hegemonia burguesa e das ilusões “democráticas e parlamentares”.

O mesmo se poderia dizer dos partidos democráticos da burguesia ou de setores da pequena-burguesia, que servem muitas vezes como base fundamental para desviar qualquer projeto político independente dos trabalhadores e mantê-los sob a égide das ilusões democráticas. Assim, as ilusões democráticas são forças morais a favor da burguesia, bem como as burocracias políticas e sindicais são forças materiais agindo contra os interesses do proletariado.

Como minar as bases dessas ilusões na democracia dos ricos?

Debateu-se como, partindo de uma estratégia revolucionária, é decisivo levantar consignas democrático-radicais como parte de um programa transicional na luta, ainda dentro da democracia burguesa, com o objetivo de um governo de trabalhadores (ditadura do proletariado).

A importância disso é a partir do anseio democrático das massas, para convoca-la a defender os elementos da democracia burguesa, quando forem postos sob ameaça, mas com os métodos dos trabalhadores e sua luta de classes, o que deve ter como objetivo constituir frentes-únicas operárias, que permitam criar as vias para a construção de sovietes, ou organismos equivalentes de auto-organização das massas. Essa é dinâmica da passagem de uma fase de acumulação de forças para ir disseminando “golpes habilidosos” (termo de Clausewitz) no regime democrático-burguês, enquanto acumulam forças com o intuito de passar a ofensiva, ou seja, ganhar a maioria do proletariado e construir as condições para a insurreição dos trabalhadores.

Partindo da perspectiva estratégica de um governo operário, saber lutar contra os ataques bonapartistas ou fascistas ao regime democrático-burguês (aspecto defensivo), mas também levantar as consignas democrático-radicais como fim da presidência, fim do senado, câmara única, que todo os políticos ganhem o mesmo que um trabalhador, revogabilidade dos mandatos, assembleia constituinte para que possam ir minando as ilusões na farsa da democracia burguesa (aprofundando a experiência) e criando condições mais favoráveis para o proletariado tomar o poder. Essa articulação deve vir conjuntamente ao combate fundamental contra as forças materiais dessa dominação, como a burocracia sindical ou as tentativas de articulação do proletariado com organizações da burguesia, que podem culminar em frentes populares, que são também são desvios estratégicos.

Em síntese, debateu-se os fundamentos ideológico e materiais das democracias capitalistas, a hegemonia burguesa no interior dessas democracias e como os revolucionários devem atuar, articulando consignas democrático-radicais com um programa transicional, para minar essa hegemonia, criando as condições para ganhar a maioria dos trabalhadores e passar a ofensiva, ou seja, a insurreição proletária.

 
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