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Editorial MRT
Como a esquerda revolucionária deve se posicionar em 2022?
Diana Assunção
São Paulo | @dianaassuncaoED

Começou 2022 e as discussões eleitorais estão a todo vapor. O governo Bolsonaro continua atacando os trabalhadores, mas não sem a ajuda do Congresso Nacional e do STF. Por outro lado, Lula busca cada vez mais alianças com a direita, como Alckmin, deixando ainda mais evidente sua política de conciliação de classes. Como a esquerda deve se posicionar neste cenário?

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Depois de 3 anos de governo Bolsonaro-Mourão não há nenhuma dúvida de que é necessário derrotá-lo. Este sentimento é compartilhado por milhões no país. A miséria, a fome, os ataques, as reformas anti-operárias, as privatizações, o incentivo ao machismo, à LGBTfobia em especial contra as mulheres trans e ao racismo, a degradação do meio ambiente e o negacionismo insuportável são marcas fortes deste governo. Mas deste sentimento em comum é preciso discutir: qual projeto de país pode enfrentar de forma consequente a extrema-direita e todos os ataques? Como a esquerda revolucionária deve se posicionar em 2022?

Aqui estamos falando de como batalhar pelo protagonismo da classe trabalhadora ao lado dos movimentos sociais e da juventude para derrotar este governo. Porque, diferente da maioria das forças políticas, que encaram as discussões desde um ângulo meramente institucional em torno de quem é capaz de vencer Bolsonaro na eleição, a esquerda revolucionária precisa batalhar para que a classe trabalhadora entre em cena. Entrar em cena como um sujeito político independente, e isso significa, por um lado, incentivar e ser parte ativa de cada processo parcial de luta, batalhando por Fora Bolsonaro e Mourão mas também defender um programa operário para enfrentar a crise e que se confronte com o projeto de país que aparece como alternativa de massas ao bolsonarismo, que é o projeto de país do PT, que se adapta à "miséria do possível".

O projeto de país petista abre espaço para a direita e para a extrema-direita

Não é preciso ir muito longe para entender o que programa do PT apresenta. Poderíamos retomar a experiência de seus governos que fortaleceram o agronegócio, a bancada evangélica, as forças armadas e o judiciário, não somente abrindo caminho ao golpe institucional, mas também dando combustível para setores que são ferrenhos defensores de todas as reformas e privatizações. Mas se vemos agora, por exemplo, no que diz respeito à reforma trabalhista, Lula chegou a dizer que a revisaria parcialmente para logo recuar até disso, diante da reação "dos mercados". Ou seja, mesmo nas condições anteriores, de crescimento econômico, o projeto do PT já incluía ataques, como vimos com o plano de ajustes implementado por Dilma em seu segundo mandato; mas nas condições atuais, de profunda crise econômica, o que Lula prepara são ainda mais ataques, sem as concessões feitas durante seus primeiros governos, que o ciclo internacional de crescimento econômico permitiu combinar com lucros históricos dos banqueiros e empresários. A busca por Alckmin como vice é uma consequência, e não a causa, dessa preparação para um governo mais à direita, que vai abrir espaço novamente para o bolsonarismo e a extrema-direita, como foi no governo Dilma. Como disse Lula, em coletiva com blogs digitais, a respeito da aliança com Alckmin "ganhar a eleição é fácil; mas é preciso governar". Para quem acha que uma aliança assim é necessária ou justificável para derrotar Bolsonaro na eleição, Lula deixa claro que não se trata disso, e sim do tipo de governo que pretende fazer.

Ou seja, o PT quer novamente conciliar com os mesmos interesses capitalistas que derrubaram o governo Dilma, os mesmos setores da direita que queriam muito mais ataques do que esse partido já estava fazendo, e por isso apoiaram Temer e logo Bolsonaro. Reforma trabalhista, reforma da previdência, privatizações, lei do teto de gastos, lei da terceirização, reforma administrativa. São inúmeros os ataques enquanto a fome aumenta e a precarização do trabalho atinge níveis exorbitantes. Em São Paulo a população de rua aumentou em 31% durante a pandemia. O desespero diante dessa situação não pode levar a considerar que um projeto de conciliação de classes vá resolver esses problemas da classe trabalhadora, já que é uma conciliação com os interesses por trás desses mesmos ataques, e que dá as bases para que a direita siga governando e permite que a extrema-direita siga organizada como força social, independente de estar no poder ou não. Por isso queremos debater com todos os jovens e trabalhadores, que já no começo do ano se deparam com o dilema eleitoral que lhes é imposto, a necessidade de elevar nossas aspirações políticas para uma saída realmente dos trabalhadores para que sejam os capitalistas que paguem pela crise.

Um programa para que os capitalistas paguem pela crise

Precisamos enfrentar em primeiro lugar todos os ataques e reformas, como ponto de partida de uma resposta pela esquerda para a crise. Uma bandeira central deveria ser a revogação integral da reforma trabalhista e de todas as reformas, campanha esta que poderia ser levantada por todas as organizações de esquerda que se colocam à esquerda do PT e também por suas candidaturas. Precisamos também revogar as privatizações, a lei do teto de gastos e da terceirização. Lutar pelo reajuste salarial mensal de acordo com a inflação e construir uma ampla mobilização pelo não pagamento da dívida pública. Defender a estatização sob controle operário de todas as empresas privatizadas, e levantar essa bandeira para a Eletrobrás que o governo quer privatizar em maio. Defender um plano de obras públicas sob controle dos trabalhadores para enfrentar o desemprego, as enchentes e as péssimas condições de moradia. Testes gratuitos para todos, auxílio emergencial de pelo menos um salário mínimo e contratação de trabalhadores da saúde diante da nova variante ômicron. Queremos lutar pela igualdade salarial entre negros e brancos, homens e mulheres e pelo fim da precarização do trabalho, com a efetivação de todos os terceirizados sem necessidade de concurso ou processo seletivo. No campo, uma reforma agrária radical e uma política de enfrentamento ao agronegócio, lutando também ao lado dos indígenas para enterrar de vez o PL 490. E enfrentar o corte nas universidades federais que vai atingir o conjunto da juventude, em um ano já marcado pelo menor número de inscritos no Enem e nos vestibulares e altos índices de inadimplência nas faculdades privadas, o que coloca a necessidade de defender as cotas contra a extrema-direita racista, o perdão da dívida do FIES, levantando também o fim do vestibular e a estatização dos monopólios privados da educação que o PT ajudou a engordar em seus anos de governo. Como viemos apontando nos últimos anos para derrotar todo este regime e batalhar por essas bandeiras seria fundamental lutar para impor com a força da mobilização uma nova Constituinte, que seja livre e soberana, que altere não somente os jogadores mas as regras do jogo, na perspectiva da luta por um governo de trabalhadores de ruptura com o capitalismo.

PSOL cada vez mais em crise e subordinado ao PT

Um programa operário assim para que os capitalistas paguem pela crise não será levantado pelo PT e os sindicatos que dirige, nem pela maioria do PSOL que se subordinou a Lula e enfrenta sua maior crise desde sua fundação. Uma crise “existencial” na qual quanto mais se adapta para surfar na onda lulista mais fica claro a sua perda de sentido de existência e seus próprios deputados abandonam o barco por um projeto mais “crível” do ponto de vista burguês, como por exemplo o de Ciro Gomes do PDT, novo partido de David Miranda, ex-MES/PSOL. A imagem de Marcelo Freixo (PSB) com o ajustador Armínio Fraga é emblemática desse ponto de vista. Nós, desde 2016 durante a campanha eleitoral, através de nossa candidatura por filiação democrática no PSOL de Carolina Cacau no Rio de Janeiro, alertamos todos os trabalhadores que tinham ilusões em Freixo que em seu discurso não havia uma política clara de rompimento com a Lei de Responsabilidade Fiscal que significaria mais ataques aos trabalhadores. Na realidade a política era de respeito à Lei de Responsabilidade Fiscal como o aperto de mão a Armínio Fraga deixa claro. Agora, o PSOL para sobreviver diante das restrições deste regime golpista extremamente antidemocrático estuda se aliar com Rede, PV e PCdoB para formar uma federação, o que significa muito mais do que uma aliança pontual eleitoral, que inclusive denunciamos em Santo André em 2020 com a retirada da nossa candidatura de Maíra Machado por filiação democrática no PSOL. Nossas posições no terreno eleitoral são coerentes com a batalha por uma política de independência de classes.

No PSOL agora há uma maioria fanática pela campanha de Lula onde algumas correntes definiram como eixo político uma agitação simbólica contra a aliança de Alckmin. Aquele tipo de campanha que parece sequer crer em sua capacidade de modificação da realidade e que é feita para a própria consciência poder, no dia de amanhã, embarcar em uma mesma campanha junto com Alckmin, assim tem orientado Valério Arcary sua corrente Resistência.

Um chamado à ala esquerda do PSOL à construção do Polo Socialista e Revolucionário

A ala esquerda do PSOL, especialmente a CST, precisaria ter uma política muito mais decidida diante deste desbarranque lulista do PSOL, uma vez que é uma corrente que internacionalmente integra uma experiência de independência de classes como a Frente de Esquerda e dos Trabalhadores Unidade na Argentina. Para isso, viemos chamando a que se integre ao Polo Socialista e Revolucionário, como nessa carta. Não é possível uma política na Argentina e outra no Brasil. Sua proposta, supostamente buscando reeditar a FIT no Brasil, fica cada vez mais distante do exemplo argentino: quer uma FIT no Brasil com Juliano Medeiros, que defende a mesma política que o PT? E vale dizer que o erro da ala majoritária do PSOL não se limita a ser, desde já, Lula nas eleições: se trata de que política e programaticamente estão alinhadas com o PT. Por outro lado, não basta defender uma candidatura alternativa a Lula no primeiro turno. A CST propõe seguir o exemplo da FIT com um programa como o defendido por Glauber Braga, que não é sequer anticapitalista, como debatemos aqui. E com as correntes da tradição stalinista, como a UP e PCB, que apesar de falarem contra a conciliação de classes, apoiam experiências desse tipo como a do chavismo-madurismo na Venezuela, evismo na Bolívia ou do brizolismo no Brasil. Parece no mínimo irreal, mas se implementada nesses termos, essa política não teria o conteúdo de independência de classes da FIT-U Argentina, com seu programa, mas sim um conteúdo oportunista.

Por isso, diante desta situação nós do MRT consideramos necessário lutar pela unidade dos setores de esquerda que não embarcaram no vendaval lulista. Desde o ano passado estamos construindo o Polo Socialista e Revolucionário com o objetivo de que seja um agrupamento dos setores de esquerda revolucionária que possam atuar em comum na luta de classes. Em todos os estados estamos batalhando para isso defendendo que o Polo atue ativamente em lutas como a dos trabalhadores do bandejão da USP, que estão dando um grande exemplo, ou que possam ajudar a organizar o enfrentamento ao fechamento de empresas, como é o caso dos Móveis Bartira em Santo André, que deixou centenas de famílias nas ruas. Consideramos que as discussões nas Coordenações regionais do Polo devem ser balizadas pelas necessidades concretas da luta de classes. Ao mesmo tempo esta atuação deve estar baseada em acordos programáticos comuns, por isso consideramos muito importante o processo de discussão de programa que o Polo está organizando neste momento, e apontamos um limite importante: o PSTU considera que não deve haver um programa comum do Polo, mas apenas fazer as discussões sem efetivar os acordos que tivermos em um programa comum. Dessa maneira, consideramos que o Polo vai ter mais dificuldades para se firmar como uma real alternativa. A cada pessoa que pergunte qual é o programa do Polo não teremos o que responder. Ter um programa comum expressando nossos acordos não dilui as organizações que compõe o Polo, ao contrário, deixa claramente marcado quais são os acordos e potencializa a existência do Polo, por isso, na discussão programática no Polo estamos também dialogando com os companheiros, apresentando uma proposta de programa de ação comum, valorizando nossos acordos.

Além disso, consideramos que os avanços programáticos e políticos, deixando claro todas as divergências que existem, compõe bases para que o Polo possa dar passos efetivos em aparecer também como uma alternativa eleitoral. Defendemos que o Polo tenha candidatos próprios, de forma unitária com liberdade de tendências das correntes e dos ativistas, e consideramos importante que o PSTU venha declarando a abertura de sua legenda para filiação democrática. Acreditamos que seria um passo muito importante no agrupamento da vanguarda à esquerda do PT em um ano como este onde poderíamos agitar um programa operário para enfrentar a crise e também a defesa de um governo de trabalhadores de ruptura com o capitalismo. Estas iniciativas, em nossa visão, devem permanentemente estar acompanhadas de chamados e propostas em comum com outros setores, em primeiro lugar reiteramos nosso chamado à CST e às outras correntes da Oposição de Esquerda do PSOL a integrar o Polo Socialista e Revolucionário, e no terreno da organização e luta consideramos que o Polo deveria responder favoravelmente à proposta do PCB de organizar um Encontro da Classe Trabalhadora, ao qual a CSP-Conlutas poderia cumprir um papel importante.

Estas políticas vamos defender nas estruturas operárias e de juventude que atuamos, também junto a construção do 8M para derrotar Bolsonaro, Mourão, Damares e lutar por todos os direitos das mulheres como o direito ao aborto legal, seguro e gratuito e a separação da Igreja do Estado. Ao mesmo tempo que buscamos potencializar uma série de iniciativas do Esquerda Diário e do Campus Virtual como o curso “Uma visão marxista do Brasil: política e luta de classes 1964-2022” para contribuir com a discussão sobre projeto de país em meio a esta conjuntura eleitoral resgatando as principais experiências de luta de classes e também de políticas de conciliação que impediram os trabalhadores de avançar em sua organização e luta. Por isso, chamamos todos jovens e trabalhadores a serem parte do Esquerda Diário e defender conosco estas ideias.

 
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