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Ideias de Esquerda
Os impactos da pandemia na vida das mulheres - entrevista com Anita Pereira
Diana Assunção
São Paulo | @dianaassuncaoED

Anita Pereira é professora da Universidade Federal da Paraíba, do Departamento de Ciências Fundamentais e Sociais-DCFS e membro do Conselho Técnico Científico do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Ação sobre Mulheres e Relações de sexo/gênero - NIPAM/ CE/UFPB. Esta entrevista foi concedida a Diana Assunção, historiadora e fundadora do grupo internacional de mulheres Pão e Rosas.

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1 - Os últimos anos de governo Bolsonaro significaram um importante retrocesso na situação das mulheres. Isso de qualquer maneira não se dá de forma homogênea, sendo necessário destacar não somente as diferenças de classe mas também as diferenças regionais. Qual sua visão sobre os impactos do governo Bolsonaro na situação das mulheres na Paraíba e nos estados da região Nordeste do país?

R: Creio que a situação das mulheres paraibanas e nordestinas, não seja muito diferente do restante do país, quando se consideram as condições de classe social e do racismo. As mulheres pobres que, são também negras, em maioria, estão passando por momentos muito difíceis, por depender das políticas sociais. Com a Pandemia, muitas perderam o emprego e diaristas ficaram sem trabalho, enquanto os alimentos e o gás de cozinha subiram de preços, exageradamente. Aqui na Paraíba, como no Brasil, a pobreza e a fome cresceram nestes últimos anos. Por outro lado, os movimentos de mulheres se intensificaram e seguem ativos nas reivindicações contra as políticas deste governo, por comida, por vacina e pelo fim da violência.

2 - Sabemos que um dos alvos importantes do governo é a educação, categoria majoritariamente feminina. Você tem estudado essa área, poderia nos contar como os impactos do governo atingem as professoras e as estudantes mães, assim corroborando com a perpetuação da opressão e da chamada "divisão sexual do trabalho"?

R: Com a suspensão das aulas, por causa da Pandemia, muitas professoras de escolas privadas perderam o emprego e outras tantas jovens mães ficaram cuidando dos filhos em casa, interrompendo estudos e até trabalhos.
As professoras ainda precisaram trabalhar dentro de casa, com aulas online, aulas em vídeo, aumentando o problema da "divisão sexual do trabalho", uma vez que estavam sempre no ambiente da carga doméstica e dos cuidados, desenvolvendo o trabalho docente. Com os cortes no orçamento da educação pública, a falta de investimento para novas creches e escolas em tempo integral, as mães continuam a depender de outras mulheres da família ou de mulheres babás e empregadas domésticas, para colaborar no cuidado com as crianças. Quando elas não conseguem este aparato, pago ou não, ficam impedidas de estudar e a perpetuação da desigualdade no tocante ao trabalho se perpetua com muita força, infelizmente. De outro modo, o crescimentos dos cursos à distância, online, gerou grande profusão de conhecimento e poderá ter contribuído para a educação sobre temas diversos, inclusive, sobre os direitos das mulheres.

3 - Recentemente foi aprovada a Lei Mari Ferrer, em meio a este governo. Qual sua visão sobre a aprovação dessa lei?

R: A aprovação desta Lei comprova a intensificação dos movimentos de mulheres e que as lutas por respeito às mulheres são tão justas, que mesmo um congresso majoritariamente conservador a aprovou, como também reconheceu o machismo da justiça brasileira. Em momentos de retrocesso, também há possibilidades de avanços. Na verdade, não podemos desistir de lutar por uma sociedade melhor!

4 - Por fim, qual sua opinião sobre os entraves que impedem o desenvolvimento da luta das mulheres na atualidade? Desde os próprios impactos do patriarcado, até o papel das direções burocráticas, como você essa articulação entre luta contra a violência de gênero e contra o capitalismo?

R: A luta das mulheres na atualidade, mesmo reforçada pela presença de mulheres jovens, padece da carência de estudos e também da dificuldade para identificar os pontos de reivindicação para a derrubada das estruturas do patriarcado e do capitalismo. É verdade que são muitas frentes de luta, que todas são importantes e urgentes, a exemplo da luta contra a violência de gênero que agride e mata mulheres no Brasil em números assustadores e crescentes. É preciso destacar que esta violência também é institucional, perpetrada pelo Estado patriarcal e neoliberal, e cobrar políticas públicas que viabilizem às mulheres, que ainda estão confinadas no mundo privado, o direito a ter um projeto de vida para além deste universo de resignação e, assim, passem a fragmentar na origem a dominação machista e capitalista, já que livres das atribuições domésticas poderão participar da vida política do país e defender um novo projeto de sociedade.

 
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