Fonte: Reprodução/Twitter
A questão ambiental, em 2021, emerge em um contexto de crise política e econômica. A prática histórica do olhar para a natureza, prioritariamente, enquanto recurso, é uma verdade entre os brasileiros, no entanto, o debate sobre a relação sociedade e natureza, compreendida por muitos como forças divergentes, vem se mostrando como um assunto cada vez mais próximo da realidade nacional. Essa compreensão não decorre, a priori, da conscientização, mas das diversas situações enfrentadas, sobretudo, pelos mais pobres que evidenciam a complexidade do planejamento urbano e rural e ocupam áreas de riscos ambientais.
A ocorrência de episódios de precipitação pluviométrica em diversas cidades do Estado da Bahia vem reforçar essa discussão, tendo em vista os registros de prejuízos humanos, econômicos e sociais que provocam a necessidade de entender o que está acontecendo e a quem responsabilizar. É muito comum encontrarmos em noticiários a ênfase ou direcionamento da responsabilidade para a natureza, atribuindo, por exemplo, ao alto volume pluviométrico a consequência da situação de calamidade que hoje o estado da Bahia se encontra, sobretudo, na região sul. Esta abordagem, por sua vez, limita a compreensão da complexidade que envolve essa questão, visto que se trata de um assunto que deve ser abordado a partir de uma perspectiva integrada das relações socioambientais. Além disso, é de extrema relevância observar os impactos que a sociedade provoca na natureza, já que expressam áreas de riscos.
Segundo a United Nations International Strategy for Disaster Reduction-UNISDR (2004), o risco pode ser entendido como sendo a probabilidade de consequências prejudiciais ou perdas esperadas. Sendo assim, deve estar associado às intervenções positivas ou negativas que a sociedade produz sobre a superfície terrestre. Por isso, a leitura da natureza enquanto recurso e a busca pela modernização do Brasil potencializam transformações que agregaram aos condicionantes ambientais um caráter artificial a um sistema de leis e dinâmicas próprias, inclusive pré-existentes ao uso e ocupação dessas áreas. Dessa forma, as ocupações em vales, áreas de várzeas, próximos às margens de rios canalizados ou não, além de outros ambientes, denotam a necessidade de compreender a dinâmica da natureza. Não há como dissociar a identificação das áreas que apresentam potencialidade ao risco às ocupações de pessoas, famílias em condições precárias de reprodução da vida.
Portanto, evidencia-se que esses prejuízos associados às anomalias de precipitação têm relação direta com a vulnerabilidade social da população afetada. Locais com baixa infraestrutura, onde há população vulnerável, são significativamente impactados até mesmo sob condições de padrões climáticos habituais. A vulnerabilidade aos fenômenos meteorológicos e climáticos, amplamente discutida pela comunidade científica, está relacionada ao nível de desenvolvimento da sociedade. Depreende-se, assim, que a repercussão desses fenômenos traduz uma relação proporcional ao nível de organização e planejamento do espaço. Além disso, a situação econômica das pessoas afetadas não deve ser ignorada, uma vez que os impactos ocasionados por esses fenômenos assumem maiores proporções nas classes menos favorecidas.
Conclui-se, portanto, que a ocorrência dos recentes eventos hidrometeorológicos expressa a desigual condição social das pessoas em relação às transformações impostas pela natureza, tendo em vista que a forma como o espaço é produzido, usado e planejado denota as contradições da sociedade e revelam os diferentes níveis de vulnerabilidade.
Referências:
UN-ISDR. UNITED NATIONS OFFICE FOR DISASTER RISK. REDUCTION (2004). Living with risk: a global review of disaster reduction initiatives. Geneva: Disponível em: http://www.unisdr.org/files/657_lwr1.pdf.
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