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Aeronautas mostram força
Conclusões sobre a luta dos aeronautas após suspensão da greve
Ester Louise

Os aeronautas demonstraram uma importante vontade de lutar com aprovação da greve por 95% da categoria que se iniciaria nessa segunda-feira, dia 29. Frente à ameaça de uma greve nacional de um setor tão estratégico, como a aviação, nesta sexta-feira, o TST e o sindicato patronal fecharam uma nova proposta de acordo, que foi aprovado por 53% da assembleia da categoria nesse sábado. Uma votação dividida, que expressa como há força e disposição de luta, e teria sido possível ir por mais e conquistar a reposição da inflação dos últimos dois anos e a manutenção dos direitos, que não é nada além do mínimo, ainda mais se tratando de uma categoria que sofreu tanto com a perda de direitos e congelamento de salários durante a pandemia, enquanto os empresários continuam lucrando bilhões e vivendo no luxo.

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A possibilidade de uma greve já fez voltar ao imaginário dos trabalhadores da aviação a possibilidade de lutar. Imaginemos o impacto que seria paralisar os vôos por um dia, o noticiário cobrindo a situação nos aeroportos, uma greve como essa deixaria clara a enorme força operária, um exemplo arriscado para a patronal e a justiça permitir que acontecesse. Uma vez que provaria que não é necessário aceitar esse reajuste parcial, que na prática significa redução de salários e direitos, mostraria a força dos trabalhadores organizados e poderia ser exemplo a outras categorias. Com a reativação do turismo e outros setores da economia, a categoria se sente mais forte para lutar pelos seus direitos.

Essa nova proposta fechada rapidamente antes da data da greve mostra duas questões: o medo da patronal da greve de fato ocorrer, que a levou a atacar a greve, junto com o governo Bolsonaro, que atuou contra a greve através da Advocacia Geral da União, ao mesmo tempo que articularam uma política de desvio junto com o TST. Mas também é importante ver o papel do sindicato dos aeronautas, SNA, nesse acordo. A patronal e o judiciário, ao apresentar uma proposta que diminuiu o ataque e a redução salarial em relação à proposta inicial, atuaram para dividir a categoria entre um setor que ficou mais receoso em lutar e perder tudo, e o outro setor que, com toda razão, estava disposto a levar a luta até o final, indignado com a situação de humilhação e ataques que a categoria vem sofrendo. O sindicato, ao não defender a continuidade da greve para superar essa proposta rebaixada, contribuiu para isso, e tem responsabilidade sobre o resultado. A votação expressa essa divisão, ao mesmo tempo que expressa como havia um setor bastante massivo disposto a lutar, e que pode ser o motor para retomar a iniciativa para defender e conquistar os direitos da categoria.

Por outro lado, uma greve bem organizada poderia consolidar uma vitória objetiva, no salário e condições de trabalho, e subjetiva, na moralização da categoria e consciência da sua própria força. Nesse ponto, o papel do sindicato é fundamental. O SNA estava claramente pressionado pela base da categoria em se colocar em movimento, depois de 2 anos de perdas salariais e demissões. Por isso, convocou as assembleias e a greve – organizando de forma que também é necessário ver criticamente, uma vez que assembleias online ou sem abertura para falas e sem reuniões e organização de base, impede que os próprios trabalhadores sejam sujeitos da sua luta, podendo falar e apresentar propostas para votação. Mas o principal é no ponto decisivo do conflito, quando a patronal e o TST pressionaram por um acordo ainda bastante aquém dos 2 anos sem reajuste, a direção do sindicato, deveria ter um discurso resistente, e chamando a manter a luta, não aceitando passivamente o acordo, mas mostrando para categoria como o avanço da negociação já era uma expressão da força dos aeronautas, por isso mais do que nunca se fazia necessário manter a mobilização. Organizar a greve e se enfrentar com as limitações impostas pela justiça. Ao contrário disso, a diretoria do sindicato sequer defendeu a manutenção da greve.

Além disso, alimentou a confiança no judiciário. E uma lição muito importante dessa experiência é que o judiciário não é um "árbitro neuro", está do lado dos patrões, e interviu com o objetivo de evitar a greve. A "legalidade" das greves é sempre um instrumento para conter a luta da nossa classe, ameaçando com a repressão. Nas “lives” do sindicato, era possível ver trabalhadores questionando esse ponto, propondo que o sindicato segurasse a multa caso a justiça julgasse ilegal. Uma decisão como essa, de enfrentar os limites da justiça, que atua para impedir a luta dos trabalhadores, poderia ter mudado todo cenário do conflito. Ao mesmo tempo, ter uma política que dialogasse com toda a população mostrando o quanto a greve é justa e legitima e parte de defender o direito de greve e de trabalho e salário digno para todos.

Na prática, o acordo aceitou um reajuste de 75% referente à inflação de um ano, quando a categoria esta faz 2 anos sem aumento, ou seja, na prática os trabalhadores tiveram uma perda salarial nos últimos dois anos. Contudo, além do desfecho objetivo, uma lição subjetiva é fundamental desse processo: 1) a justiça não é imparcial, tem lado e arbitrou pela patronal; 2) a direção do sindicato não chamou os trabalhadores a manter a greve, confiando nas próprias forças, e sim manteve a confiança e submissão ao judiciário, que impediu que o movimento se fortalecesse mais, uma vez que colocava um discurso de medo para a categoria 3) a força dessa categoria é enorme e, ainda mais se unificada aos aeroviários que sofrem com a mesma situação, poderia ser um movimento explosivo e exemplo para toda a nossa classe. Por fim, é com essa força dos trabalhadores que é possível derrotar não só Bolsonaro – que já goza de grande impopularidade – mas toda a direita, e os ataques, reformar e privatizações que estão aprovando junto com o STF, o congresso e os governadores. Longe de encarar esse processo como algo isolado, essas lições são importantes para continuidade da organização dos trabalhadores, pois mesmo as experiências que não se desenvolvem completamente, ajuda a categoria a tirar lições e avançar em futuros conflitos.

A patronal que quer jogar a crise nas costas dos trabalhadores e a justiça arbitra a favor deles. A força para impedir isso e garantir salários dignos, condições de trabalho, e resolver os problemas mais sentidos pela nossa classe, que sofre com a precarização, o desemprego e a fome está na própria classe trabalhadora organizada.

 
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