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Anasse Kazib, o pesadelo da extrema direita na França

Na quarta-feira, 20 de outubro, foi lançada em Paris, com mais de 450 pessoas, a campanha para conseguir que Anasse Kazib, trabalhador ferroviário e filho de imigrantes, seja candidato a presidente nas eleições francesas. A candidatura vem recebendo importantes apoios por parte de ativistas dos direitos humanos, jornalistas, artistas, trabalhadores e delegados sindicais. E do outro lado da barricada, despertou a fúria da extrema direita francesa que lançou ameaças de morte no twitter e a hashtag racista #AnasseKazibRemigration. Para viabilizar sua candidatura, é preciso reunir 500 assinaturas de prefeitos e outros funcionários eleitos que o “apadrinhem” - um requerimento antidemocrático da lei eleitoral francesa [1]. O ato de lançamento foi organizado pelo Révolution Permanente, organização integrante da Rede de Jornais Internacional de La Izquierda Diario (do qual o Esquerda Diário no Brasil faz parte). Participaram importantes figuras da luta contra o racismo institucional e trabalhadores das principais lutas do evento. Após o anúncio da campanha pela sua candidatura, Kazib participou na sexta-feira do programa de TV TPMP onde debateu sobre as presidenciais e a ofensiva da extrema direita contra sua candidatura, e teve duros enfrentamentos com vários membros do programa que fizeram questionamentos direitistas à sua campanha, que incomoda aos jornalistas do establishment. A seguir, reproduzimos o discurso completo de Anasse Kazib no ato de lançamento da sua candidatura.

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Queridos amigos, queridos camaradas, antes de começar minha intervenção quero agradecer a todos os participantes dessa reunião, aos que já intervieram antes do que eu, mas também aos camaradas do comitê de apoio e a todos vocês que estão presentes neste salão. Também quero aproveitar essa oportunidade para agradecer todos os ativistas que possibilitaram esse ato e que estão trabalhando duro percorrendo o país todo para conseguir os padrinhos, e o resto do tempo para manter viva essa campanha.

Porque participar de uma eleição tão antidemocrática como a presidencial é um grande desafio para uma organização nova como a nossa. Com humildade, mas também com grande determinação, assumiremos esse enorme desafio. Estamos decididos a levar a voz de nossas lutas, a voz dos que não têm voz, a voz desse lado, a dos jovens e trabalhadores, a voz dos explorados e oprimidos desta sociedade.

Em eleições presidenciais especialmente marcadas pelos discursos racistas e xenófobos, o fato de que me apresente como candidato presidencial, um jovem proletário racializado como eu, pode parecer subversivo demais. Mas é coerente com nossas convicções mais profundas de que os trabalhadores temos interesses comuns para além das nossas origens, nossa cor de pele, nossas crenças. Nossa França não é a França dos reis e dos grandes homens idealizados por Zemmour [jornalista de extrema direita, candidato presidencial; NdT], mas a França dos sans-culottes, dos communards, dos escravos insurgentes de São Domingos [2], das grandes greves de 1936 ou da greve geral de 1968, dos processos de luta que Sarkozy ou Zemmour tentaram apagar da história.

Sessenta anos após o massacre de argelinos afogados no Sena pela polícia [3], nossa França é também internacionalista, anti-imperialista e solidária com as lutas de todos os povos contra a opressão das grandes potências. Querem nos fazer acreditar que o internacionalismo está fora de moda, inclusive essa esquerda institucional que tantas vezes nos traiu nos explica que é preciso lutar pela pátria, pelo protecionismo econômico e contra a imigração. Montebourg [candidato presidencial do Partido Socialista] explicou, por exemplo, que os franceses têm direito a um país, Jadot [candidato presidencial do Polo Ecologista] e Roussel [candidato presidencial do Partido Comunista] manifestaram-se com Zemmour e os sindicatos da polícia, ou Mélenchon que questionou a presença da comunidade chechena em território francês após o terrível assassinato de Samuel Paty e evoca em ocasiões a grandiosidade de uma França cujos territórios se espalham pelos 5 oceanos.

Mas a realidade é que tudo o que estamos vivendo mostra exatamente o contrário: que a solução para os principais problemas que enfrentamos não pode ser encontrada em terreno nacional. Para que servem suas fronteiras e seu protecionismo, frente à crise sanitária do Covid? Para que serviu o G20 quando havia necessidade de respiradores artificiais ou máscaras em todo o mundo? Esse sistema é o dos mais fortes contra os mais fracos. Enquanto povos morriam agonizando, reforçaram todo o arsenal autoritário, fechando as fronteiras, comprando todos os estoques de máscaras ou de oxigênio disponíveis, às custas dos mais pobres. Basta ver como procederam da mesma forma com a vacina, que tem permitido o surgimento de novas variantes nos países do Sul, e isso pode seguir acontecendo.

A violência com a qual Covid subitamente atingiu e paralisou toda a humanidade nos obriga a refletir sobre o sistema em que vivemos. Um sistema em que são sempre os mesmos que sofrem desastres e crises, enquanto os que estão no topo sempre se safam, como o dono da Amazon cuja riqueza aumentou 80 bilhões durante a crise, permitindo-lhe viajar para o espaço, ou ainda na França com as 500 famílias mais ricas do país cuja riqueza aumentou em 30% durante a crise, tornando que sua riqueza seja equivalente à metade do PIB na França.

Enquanto víamos como nossos familiares, e eu penso nesta noite em meu padrasto e minha sobrinha que faleceram pela Covid 19 e todas as pessoas que perdemos, e eu penso que neste salão somos muitos que perderam pessoas próximas, vimos amigos teminando nas salas de terapia intensiva e às vezes morrendo, enquanto nós e nossos colegas continuávamos a trabalhar para manter a humanidade, muitas vezes com uma sensação de naufrágio no estômago, por medo de pegarmos a Covid ou de transmiti-la aos nossos entes queridos. Enquanto isso, eles se escondiam e acumulavam riqueza sem mexer um dedo. Lembro-me como, nos primeiros dias de março, meus colegas e eu puxávamos a gola de nossos uniformes, de nossas blusas por medo de infectar uns aos outros no trabalho. Na época, lembre-se, não havia testes e Olivier Véran [ministro da saúde] nos explicou que as máscaras eram inúteis.

Mas a crise sanitária não é a única em nossas vidas, há também a crise climática. Neste verão, assistimos a graves episódios climáticos. Adrien falou agora mesmo da seca em Madagascar, incêndios na Argélia e no Canadá, terremotos no Haiti, ondas de calor na Sibéria, chuva e enchentes na Turquia e na Bélgica, a cada ano os fenômenos climáticos se multiplicam com níveis cada vez mais alarmantes. Para que servem suas fronteiras quando a tempestade Alex atinge o Var [departamento do sudeste da França] ou quando as reservas de água estão diminuindo devido à seca? Para que servem suas fronteiras quando as pedras de granizo do tamanho de uma bola de golfe destroem plantações inteiras de nossos agricultores, forçando alguns a acabar com suas vidas presas entre a crise climática e a pressão dos bancos? Para que serve o nacionalismo diante da crise climática, quando, como Adrien explicou, a mesma petroleira Total que faz a greenwashing [política de transição ecológica] de suas refinarias na França está destruindo vilas e a biodiversidade na África?

Infelizmente, isso não é tudo. Falei sobre a crise sanitária, a crise climática e não há dúvidas de que hoje está de volta, ainda que eu duvide que em algum momento ela foi embora, a crise econômica. Para nós, a crise sanitária só acelerou esta crise econômica que estava à espreita antes. Temos visto o aumento do desemprego, a desestruturação e os planos de demissões das empresas. Estou pensando particularmente em nossos camaradas do SKF, que estão presentes hoje, uma salva de palmas para eles, a nossos camaradas da Bridgestone, Tui, da refinaria de Grandpuits, da Alinea e da Orchestra e de todas outras empresas que aplicaram planos de demissões. Vou contar-lhes a história de Pierre Mestre, o dono da Orquestra, são lojas de roupas para crianças. Vou chamá-lo hoje de Pierre, o humanista, que declarou no microfone da France Bleue: "Eu gosto de viajar, gosto de arte, sim, compramos algumas pinturas, mas nada de significativo, tenho dois ou três carros bonitos, mas nada de extraordinário. Não, eu gosto de edificar, eu quero me divertir no caminho". No caminho do prazer, Pierre Mestre encontrou uma lei durante a crise da Covid em maio de 2020, uma lei que os economistas chamaram de "efeito da barganha" para as empresas. Esta lei do governo Macron, permitiu às empresas liquidar sua sociedade endividada e de ser o único comprador podendo cancelar todas as dívidas. Assim, Pierre, o humanista, que gosta de edificar com seus dois ou três belos carros, liquidou Orchestra com 650 milhões de euros em dívidas e Pierre, o humanista, frente ao tribunal do comércio se apresentou para ser o único comprador da Orchestra, recuperando a empresa, sem 650 milhões de euros de dívidas e, como isso não é nada para os patrões, com 300 empregados que ficaram desempregados. A história de Pierre Mestre é também a de Alexis Mulliez, da família Mulliez (grupo Auchan), que também é um grande humanista, que mandou liquidar judicialmente a Alinéa, cancelando 300 milhões de euros de dívidas, se apresentando como comprador de sua empresa, recuperando-a com uma dívida de zero euros e de quebra despedindo 960 pessoas e fechando diversas lojas. Este é o sistema deles, os esquemas e os pacotes de estímulo com os quais os chefes se empanturram, mas no final são sempre aqueles que estão embaixo que são obrigados a pagar pela crise. Estávamos na linha de frente de muitas dessas empresas, como Wynessa e os camaradas da Transdev [companhia de transporte], a quem foram prometidos aumentos de salário e bônus e que agora estão sendo atacados pelos poucos ganhos sociais que tinham.

Enquanto os maquinistas da Transdev não podem beber água porque não têm um intervalo para fazer xixi. Eu não escrevi isso no meu discurso, mas vocês precisam saber que a direção da Transdev, quando camaradas da Transdev reclamaram por banheiros e por poderem descansar, a direção de um centro disse aos agentes "tem um carrefour ali, tem um kebab, você pode pedir pra eles para fazer xixi”. É assim que são tratados os ferroviários da Transdev. Os capitalistas estão escondendo os bilhões que fizeram nas nossas costas, como mostra o escândalo Pandora Papers. Este sistema só produz desigualdades sociais e raciais e crises repetidas, ao ponto de colocar em perigo o planeta e toda a humanidade.

Muitas vezes nos é dito que são os revolucionários que são utópicos, que sonham com a grande noite e que seu projeto não é realista. Não precisamos sonhar com a grande noite, estamos convencidos de que ela vai acontecer e a preparamos com nossas lutas diárias. Porque o que não é realista é pensar que ainda é possível viver durante anos em um sistema no qual 26 bilionários detêm metade da riqueza da humanidade. Pelo contrário. Diante da crise econômica, da crise sanitária, da crise climática, o único projeto realista é o da revolução e da derrubada do capitalismo!

Felizmente, a gravidade da situação não deixou nossa classe indiferente. As crises trazem consigo sua quota de revoltas e mobilizações. Como dizia Marx, "a história de cada sociedade até os dias de hoje é a história da luta de classes".

Durante vários anos vimos este vento de luta de classes retornar a escala internacional com uma força incrível, e já após a crise de 2008 notamos o surgimento de um novo ciclo de luta de classes, cuja ponta de lança foi sem dúvida a Primavera Árabe, e a revolta dos povos oprimidos do Magrebe e do Oriente Médio contra os ditadores. Vimos no último período importantes mobilizações em escala internacional, em Myanmar contra a junta militar, em Hong Kong contra o governo chinês, na Argélia contra Bouteflika, nos Estados Unidos após a morte de George Floyd, e penso também nas importantes mobilizações em países latino-americanos como Chile, Equador e Colômbia, na Palestina para defender o Sheikh Jarah, no Sudão e no Líbano ou as consequências da crise sanitária e da corrupção. E eu peço que façam barulho por todos os camaradas à escala internacional que lutam todos os dias. A estas revoltas foram acrescentadas mobilizações juvenis pela emergência climática, a nova onda de lutas feministas e o despertar antirracista em torno do movimento "Black Lives Matters", mas também, e pudemos ver hoje, em torno do comitê Justiça e Verdade por Adama e ao redor da figura de Assa Traoré. E já que estamos falando dos Estados Unidos, como não mencionar a onda de greves que agora está varrendo a maior potência capitalista do mundo, um país onde a morte dos sindicatos e da luta de classes supostamente haviam sido decretadas? Bem, hoje são milhões de trabalhadores que estão saindo e se recusando a retornar aos seus empregos de lixo após a pandemia. Este processo espontâneo tem incentivado greves em grandes empresas como Kellog’s e Nabisco, no que alguns já estão descrevendo como a maior onda de greves desde os anos 70. Façam barulho para os camaradas nos Estados Unidos. Contra todos aqueles que haviam decretado que a classe trabalhadora estava morta ou tinha se tornado definitivamente de direita, aqui ela está levantando a cabeça novamente no próprio coração da máquina capitalista!

Na França, afinal de contas as presidenciais são na França, vamos falar dela um pouco, também vivemos um período intenso de luta, que começou em 2016 com toda uma nova geração lutando contra a Reforma Trabalhista, da qual eu mesmo faço parte. Foi a minha experiência nesta luta que me fez querer ser um militante político. Compreendi em 2016 o papel nefasto da socialdemocracia para nossa classe. Mas também experimentei a passividade e a cumplicidade da burocracia sindical ao nunca propor nenhuma outra estratégia a não ser dias de greve isolada e sem perspectivas.

Apesar disso, nossa classe saiu para enfrentar a classe dominante durante estes 5 anos. Em 2016 com os jovens nas ruas ao lado de setores importantes do setor privado como as refinarias e os estivadores, que fizeram de uma cidade como Le Havre a "capital da luta". Na primavera de 2018, os trabalhadores ferroviários protestamos contra o desmembramento da ferrovia pública, apesar da greve "perolada", que foi a pior estratégia possível. Em 17 de novembro de 2018, aconteceu uma coisa nesse dia, a classe trabalhadora empobrecida e a classe média decadente, como a gente fala, desta França peri-urbana, vieram virar a mesa do presidente dos ricos, aquele que diz para as pessoas atravessarem que tem trabalho do outro lado da rua, e isso deu origem a um movimento sem precedentes na história da V República. Obviamente eu falo dos Coletes Amarelos. Aos insultos das autoridades, que os chamavam de "fumantes de cigarro que poluem com diesel", para usar as palavras de Benjamin Griveaux [então porta-voz oficial do governo, NdT], os Coletes Amarelos responderam ao contrário, que eles estavam lá, mesmo que Macron não os quisesse, pela honra dos trabalhadores e por um mundo melhor. E eles semearam com seu movimento espontâneo tal pânico no poder que, durante o ato 4 [o quarto dia consecutivo de mobilização dos Coletes Amarelos, em 8/12/2018, NdT], ficamos sabendo que o general da inteligência temia uma invasão do Elysée pelos esgotos, que Brigitte Macron tinha mandado limpar e preparar o Posto de Comando Júpiter, que é o bunker do Elysée e se isso não fosse suficiente um helicóptero estava pronto para decolar do pátio do Elysée para o presidente fugir! Vejam o medo da burguesia que acharam que os manifestantes iriam invadir o palácio do presidente pelo esgoto.
E quando vemos a situação hoje, o aumento da gasolina, da eletricidade, do gás e das necessidades básicas, todos dizemos a nós mesmos que precisamos de um retorno dos Coletes Amarelos, e que desta vez eles sejam acompanhados por todos os setores que lutaram em distintos momentos, para ir em direção a uma verdadeira greve geral e terminar com este poder. Assa Traoré falou agora mesmo que a gente fez muitas coisas junto com o Comitê Adama, e acho que um dos sucessos que realizamos foi estar ao lado das trabalhadoras e trabalhadores da ONET, em 2018 com o que chamamos de coletivo Intergare de cerca de 300 ferroviários. E nós ferroviários junto com o comitê Adama a gente se comunicou e falamos que quanto ao movimento dos Coletes Amarelos, que todo mundo critica, nós, visto que todo mundo nos critica também, vamos apoiá-los. E nessa época a gente chamou essa unidade de Polo Saint-Lazare em apoio aos Coletes Amarelos, mas também durante o movimento contra a reforma da previdência, nós lutamos para que os trabalhadores dos transportes fossem dirigentes de seu próprio movimento, assim como para ampliar a luta para outros setores, como o incrível encontro que organizamos na véspera do primeiro confinamento em março de 2020.

Como terão compreendido, nosso projeto político não passa primeiramente e antes de tudo pelas urnas, estamos profundamente convencidos de que é através da luta de classes, da greve geral e do levantamento das classes populares que conseguiremos mudar o sistema. Não estou aqui para mentir às pessoas e dizer "vote em mim, eu sou o homem certo para fazê-lo". Somos bombardeados com demasiada frequência e não terá escapado a ninguém que este sistema que chama a votar pelo mal menor e a ser traído convence cada vez menos pessoas. Querem nos fazer acreditar que nosso futuro deveria ser aceitar um duelo Macron/Le pen ou Macron/Zemmour ou que a esquerda institucional deveria se unir atrás do candidato mais bem colocado. Um belo projeto para os explorados e oprimidos, aqueles que lutam diariamente, que a unidade entre Jadot, o macronista, Hidalgo do Partido Socialista [atual prefeita de Paris, NdT], um Montebourg cada vez mais à direita, Roussel que se manifesta com a polícia, Zemmour e Philippot [chefe do partido de extrema direita Os Patriotas; NdT] e finalmente Mélenchon, que apesar de ser o mais à esquerda entre esses, continua sendo um "mitterandiano" que explica que, diante do capitalismo, a correlação de forças é ele e que a república é ele também.

Mas nós camaradas do Révolution Permanente, pensamos totalmente ao contrário, pensamos que a correlação de forças é vocês, é a rua!

Não, este não é nosso futuro, merecemos ter uma campanha presidencial que vire a mesa, capaz de enfrentar Macron, Le pen e Zemmour. Uma campanha que carregue nossas lutas e ouse enfrentar os discursos reacionários, racistas e xenófobos. Com meus camaradas, não esperamos as eleições presidenciais para lutar pela unidade de nossa classe sem distinção e pela organização de nossas lutas. Precisamos renovar um discurso ofensivo e determinado, não uma campanha para pedir desculpas por estar ali. Não lhes devemos nada, se a burguesia existe e se alimenta de lucros, é porque ela nos explora todos os dias. Como disse no outro dia em uma piquete da Transdev na frente de trabalhadores, homens e mulheres de todas as idades, origens e cores de pele, todos juntos enfrentando um inimigo comum que quer fazê-los trabalhar mais pagando-lhes menos: os patrões não são nada sem os trabalhadores e quando um trabalhador está em greve, os patrões são incapazes de fazer girar qualquer empresa. Eles precisam de nós, não o contrário!

É para dividir a força que nós representamos que reacionários como Macron, Le pen e Zemmour estão aqui, porque sabem que o rosto da juventude e da classe trabalhadora hoje é composto de trabalhadores brancos, mas também de trabalhadores com uma origem imigrante como eu. E lhes dói pensar que uma mulher nascida na Argélia chamada Wynessa esteja lutando pelas condições de trabalho e salário de todos seus colegas. Lhes dói ver que uma mulher chamada Assa Traoré chamou a lutar junto aos Coletes Amarelos e aos ferroviários e que ela mobiliza os jovens para se levantarem contra o sistema para que não haja outro Adama Traoré. Isso lhes dói quando um ferroviário chamado Anasse, que cresceu em Sarcelles, que é neto de um soldado marroquino, filho de um chibani [4] ferroviário da SNCF [empresa nacional ferroviária, NdT], defende os jovens e proletários de toda a França que são explorados por Emmanuel, Edouard, Gérard ou Marlène.

Esta determinação que eu e meus camaradas colocamos em todas as lutas contra o governo e os patrões, também colocarei nesta campanha presidencial, para colocar nossas idéias em primeiro plano. Também quero convencer uma parte dos abstencionistas, a maioria dos quais está entre os mais explorados e oprimidos. Nossas vidas, nossas lutas, nossas vozes e nosso futuro nos foram tirados. Queremos que esta campanha, como disse um camarada da Infrapôle Paris Nord que estão em greve há 9 meses, façamos barulho por eles, queremos que essa campanha dê esperança às pessoas que perderam a esperança, perderam a esperança na possibilidade de militar e lutar pela emancipação de todas e todos, sem colocar falsas esperanças nas urnas. Isto é o que viemos carregar como um projeto nesta eleição presidencial, o projeto de nossa classe, para a emancipação de todos os explorados e oprimidos.

Sofremos muito com este sistema e com aqueles que nos governam, os profissionais da política, tanto da direita como da esquerda. Aqueles que continuam tentando convencer as classes populares quanto à possibilidade de unidade nacional - eles amam esses termos a unidade nacional, o pacto republicano, os valores republicanos, etc, vocês ouviram, isso eu não coloquei no discurso, porque não tinha visto antes, mas Blanquer falou que os professores precisam transmitir os valores republicanos. Os valores de uma república burguesa, coercitiva, racista, xenofóbica, é esse o projeto deles. Estes que querem a unidade da nação, a unidade de Patrick Pouyané, o chefe da Total, com os refinadores de Grandpuits, Pierre Mestre com os 300 funcionários despedidos da Orquestra. Nesta campanha, vamos defender um programa que é inconciliável com os interesses dos patrões e do imperialismo francês, e estamos orgulhosos disso!

É inaceitável que os trabalhadores sejam privados de empregos ou condenados à precariedade enquanto outros são exauridos por longos dias e grandes cargas de trabalho. As demissões devem ser proibidas imediatamente, inclusive para trabalhadores temporários e de duração determinada, que devem ter acesso a um contrato permanente. Para dar trabalho aos que já estão desempregados, a jornada de trabalho dos que têm um emprego deve ser reduzido, sem qualquer redução no salário.

Outra maneira simples de criar empregos é deixar os idosos se aposentarem. A expectativa de vida com boa saúde, ou seja, sem sequelas relacionadas ao trabalho ou doenças ocupacionais, é de 59 anos para um trabalhador, dez anos a menos do que para os gerentes. A exploração capitalista marca o corpo e a mente dos trabalhadores. Mas nenhum dos candidatos burgueses fala sobre isso. Defendemos o restabelecimento da aposentadoria completa aos 60 anos com 37,5 anos de contribuição, e o direito de antecipar para os 55 anos, à taxa plena, para todos os trabalhos árduos.

Todos os políticos, Macronistas e oposição, estão fazendo demagogia eleitoral em torno da questão do poder de compra. É um dos assuntos que mais preocupa a população, como mostrou a crise dos Coletes Amarelos em 2018. Mas este ano, mais uma vez, os salários devem aumentar em média apenas 0,6%, bem abaixo da inflação. A crise sanitária revelou como as funções mais úteis para a sociedade são também, na maioria das vezes, as piores remuneradas. Vimos também que muitas vezes estas funções são desempenhadas por mulheres, com salários 17% mais baixos, em média, do que os dos homens. É urgente pôr um fim a esta situação através de um aumento geral de salário de 300 euros líquidos para todos, o que permitiria unificar as exigências de todo o mundo do trabalho. Precisamos de um aumento imediato do salário mínimo para 1800 euros líquidos e da igualdade salarial entre homens e mulheres trabalhadores, nos setores público e privado. E claramente a gente vai tirar esse dinheiro... não preciso explicar, estava falando justamente dos 3 trilhões, e essa nem é mesmo toda a riqueza, essa é a declarada, então como fazer? Tirando dos lucros que não param de aumentar e até quebraram recordes durante a crise sanitária, como falei agora sobre as 500 famílias mais ricas.

Nos bairros populares, onde a grande maioria da população trabalhadora e, em particular, de origem imigrante, o Estado utiliza todas as justificativas possíveis - tráfico de drogas, insegurança e, mais recentemente, confinamentos sucessivos - para reforçar seu arsenal repressivo. Quando lhe convém, durante uma campanha eleitoral ou para fazer demagogia de segurança barata, o Estado se concentra no crime de rua, naqueles que, em uma situação de vulnerabilidade social, são o último elo das verdadeiras redes criminosas.

Porque na França a legislação sobre cannabis, em particular, é uma das mais retrógradas da Europa e um pretexto para todo tipo de violência policial, e para desmantelar as máfias, grandes e pequenas, é preciso LE-GA-LI-ZAR sobre controle estatal e com acompanhamento médico, quando necessário, todas as substâncias narcóticas e viciantes, a começar pela cannabis, como já é o caso do tabaco, do álcool e de certos medicamentos. É claro que isto não pode ser feito sem o reforço da prevenção e da educação no dia-a-dia, o que também significaria pôr um fim à destruição da educação e saúde. Barulho para os professores e trabalhadores da saúde que estão presentes, por favor.

De Macron a Zemmour, passando por Le Pen e por boa parte da esquerda, todos os políticos concordam em dar mais poder à polícia para patrulhar, controlar e espancar, tudo em nome da luta contra a insegurança. Para a esquerda revolucionária, a polícia, a justiça, o sistema penitenciário e aqueles que neles trabalham não fazem parte dos serviços públicos. Eles pertencem à mesma estrutura punitiva encarregada de impor a violência das classes dirigentes e manter uma ordem social capitalista, ou seja, intrinsecamente autoritária, desigual, racista e patriarcal.

Esta função implica, além disso, na repressão sistemática das lutas operárias e populares (como vimos durante o movimento dos Coletes Amarelos ou da reforma previdenciária), a criminalização da pobreza e uma pressão constante contra os bairros da classe trabalhadora. É por todas estas razões que exigimos a dissolução imediata de seu corpo especial (BAC, BRAV, CRS, gendarmerie, etc.), bem como a proibição de todas as armas chamadas "não letais" utilizadas contra as e os manifestantes. No mesmo sentido, exigimos a retirada total das leis de "segurança global" e de "responsabilidade penal", que acedem às exigências históricas dos "sindicatos" policiais: reconhecimento facial, drones, câmeras de bordo com policiais, criação de delitos específicos relativos à polícia. Todas estas são ferramentas que reforçam a impunidade policial e a repressão dos movimentos e bairros populares. Estamos convencidos de que a segurança deve e pode, em última instância, ser proporcionada pela própria população e não por uma corporação de homens armados, separados do resto da sociedade, a serviço do Estado capitalista e racista e da ordem dos patrões e que mata os jovens dos bairros populares. Façam o máximo de barulho, companheiros, para o conjunto de coletivos e todas as pessoas que são assassinadas pela polícia. Lembramos de Adama, de Igo, de Lamindien, Gay Camara, Claude Jean Pierre e a todos que são mortos pela polícia.

Então, porque as pessoas só deixam suas casas quando são obrigadas a fazê-lo, pela ausência completa de um futuro, pela miséria e pela guerra que assola os países mais pobres, defendemos a abertura das fronteiras, a liberdade de circulação e o direito de se estabelecerem aqui, para todos aqueles que assim o desejarem. Exigimos a regularização imediata de todos os imigrantes sem documentos e o fechamento dos centros de detenção. A introdução do direito de voto em todas as eleições para todos os imigrantes, a defesa do direito ao reagrupamento familiar e a suspensão imediata das expulsões.

Não posso desenvolver aqui todo o nosso programa, o encontro foi muito rico e eu os convido a seguir a atualização do programa que vai sair, mas posso lhes dizer que também faremos fortes exigências como a retirada das tropas de ocupação francesas, o fechamento de todas as bases militares e o fim de todas as intervenções militares francesas no exterior.
O direito à autodeterminação dos povos dominados e colonizados pela burguesia francesa e seu Estado.

Vamos lutar por um verdadeiro plano contra toda violência contra as mulheres. Por um feminismo anticapitalista, antirracista e internacionalista! Para a autodeterminação LGBTI e pela liberdade sexual.

Diante deste sistema de justiça para os ricos, exigimos, em contraste, a eleição direta de juízes, a generalização de julgamentos com júris populares capazes de proferir veredictos e que os magistrados ou funcionários públicos dependentes do Ministério da Justiça recebam um salário equivalente ao salário mediano. Também exigimos alto e claro, hoje mais do que nunca, a libertação imediata de Georges Ibrahim Abdallah, em condições de liberação desde 1999 e que ainda segue preso.

Liberdade a George Abdallah!

Segue preso enquanto os grandes criminosos que lavam, defraudam e fazem bilhões não se preocupam.

Exigimos a revogação de todas as leis e medidas de segurança e liberticidas, a começar pela Lei de Segurança Global, o estado de emergência sanitária que hoje permite que Macron governe a partir de seu Conselho de Defesa, a revogação imediata do passe sanitário que o governo anunciou que irá estender, assim como o acesso livre e gratuito a testes PCR e antigênicos.

Finalmente, no imediato, defendemos, ao lado de todos aqueles que não suportam mais o verticalismo da Quinta República, uma transformação democrática radical das instituições, que passa pela liquidação das instituições atuais e que se inspira nas experiências democráticas mais radicais da Convenção de 1793 ou da Comuna de Paris.

Isto significaria, por exemplo, que todos os deputados deveriam ser eleitos por um máximo de dois anos, com a possibilidade de serem revogados a qualquer momento e sem receberem mais do que o salário mediano.

A política deixaria assim de ser uma profissão, ou mesmo uma fonte de enriquecimento pessoal. Em vez disso, ela servirá aos interesses coletivos. A votação será algo diferente de um cheque em branco dado a um candidato burguês que encarna o "mal menor". Somente os trabalhadores são capazes de realmente representar os interesses de seus colegas de classe porque, como disseram os comunnards em 1871, eles "vivem suas próprias vidas e sofrem os mesmos males".

De modo mais geral, queremos transmitir a ideia de que somente a derrubada deste sistema e sua substituição por um governo dos próprios trabalhadores, baseado em novas instituições nascidas de nossas lutas, pode reorganizar toda a sociedade a serviço do bem-estar da maioria, sem distinção de gênero, etnia, origem ou orientação sexual, e da salvaguarda do planeta e do meio ambiente.

Eu concluo dizendo que nosso objetivo é que essa campanha não seja somente do Anasse Kazib e do Révolution Permanente. Mas que ela seja também de vocês. Estamos determinados a marcar essas eleições presidenciais. A participar, a dar uma saída política à juventude, aos trabalhadores, diferente do reformismo e da direita e extrema-direita.

Mas para que tudo isso aconteça, precisamos de sua força e apoio.

Como você sabe, a coleta de 500 assinaturas é um enorme obstáculo, e mesmo que façamos bons progressos não conseguiremos fazê-lo sozinhos. Não somos profissionais da política, não vivemos de nenhuma ajuda do Estado, da ajuda de qualquer bilionário como Zemmour e Macron. Enquanto passamos dias inteiros procurando assinaturas, os grandes partidos só têm que enviar e-mails para obter as assinaturas de seus prefeitos. Por enquanto, tudo isso se baseia na vontade e determinação dos militantes da Révolution Permanente e de simpatizantes que, quando não estão na universidade ou no trabalho, cruzam a França em seu descanso e férias, façamos barulho para os camaradas que estão mobilizados desde o início. Tudo isso depende principalmente de pequenas doações de nossos parentes e militantes para pagar a gasolina (que continua subindo) e, às vezes, alugar veículos ou pagar pela hospedagem. Tenho certeza que vamos conseguir, mas isso não vai acontecer sem você. Convidamos você a tornar esta campanha uma realidade, a criar um comitê de campanha onde você está, a organizar reuniões públicas, a participar da busca de assinaturas, fazendo uma doação, ou qualquer outra ajuda que você acha que pode oferecer. Ninguém espera que sejamos bem sucedidos, vamos surpreendê-los!

E como os que vieram antes de nós disseram em 1968, "isto é apenas o começo, vamos continuar lutando!" justiça e verdade por Adama, por todos!

 
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