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Greve Geral
Coreia do Sul: meio milhão de trabalhadores aderiram à Greve
KS Mehta

Meio milhão trabalhadores aderiram à greve e milhares realizaram manifestações em Seul e em outras cidades na quinta-feira, muitos fantasiados fazendo referência à série sombria “Round 6” que foi inspirada nas terríveis condições econômicas enfrentadas por muitos sul-coreanos.

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Pelo menos meio milhão de trabalhadores na Coreia do Sul dos setores de construção, transporte, serviços e outros deixaram seus empregos para aderir à greve geral de 20 de outubro de 2021. A Confederação Coreana de Sindicatos (KCTU), a maior organização de trabalhadores do país com mais de um milhão de membros, realizou um comício nacional para alcançar melhores condições para os trabalhadores. Cerca de 80.000 trabalhadores participaram de manifestações em 13 cidades em todo o país, sendo 27.000 trabalhadores apenas em Seul.

Além disso, havia uma peculiaridade: nas mobilizações foram utilizados os figurinos e máscaras da popular série da Netflix "Round 6". A série é sobre centenas de sul-coreanos com problemas financeiros atraídos para competir em um jogo dividido por fases em que o prêmio é uma grande quantidade de dinheiro, mas a pena por perder qualquer uma das seis fases é a morte instantânea e brutal.

As demandas de greve podem ser classificadas em três grandes categorias: abolir o "trabalho irregular" (trabalho em meio período, temporário ou contrato com poucos ou sem benefícios), estender as proteções trabalhistas a todos os trabalhadores, dando aos trabalhadores mais poder de decisão em torno da reestruturação econômica e a nacionalização de indústrias-chave, como da saúde e de serviços básicos, como educação e habitação. Os trabalhadores em greve estão exigindo que a habitação pública que corresponde a 5% das habitações, seja expandida para 50%, que o governo contrate um milhão de trabalhadores para fornecer cuidados gratuitos para crianças e idosos, que expanda a assistência à saúde pública, forneça preparação gratuita para o ingresso na faculdade e acabar com o sistema de classificação universitária. Eles também lutam pelo fim das brechas nas leis trabalhistas que permitem aos patrões privar os trabalhadores de direitos básicos, como o direito de organização sindical, bem como seu acesso a benefícios e indenização por lesões ocorridas no trabalho.
A Coreia do Sul ocupa o terceiro lugar no mundo entre as maiores jornadas anuais de trabalho, e em 2015, ficou em terceiro lugar em número de mortes no local de trabalho, entre os países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Estima-se que cerca de 40% se considerem "trabalhadores irregulares" e estão principalmente na economia do trabalho temporário ou precário. Esses trabalhadores informais incluem trabalhadores temporários e subcontratados que não recebem todos os benefícios prometidos na legislação trabalhista vigente.

Os trabalhadores mobilizados vem cada vez mais trazendo à tona as terríveis condições de trabalho que muitos têm sofrido. A equipe de limpeza da LG Towers compartilhou que a LG contratou capachos para despejar água nas tendas dos trabalhadores enquanto dormiam por terem protestado contra demissões e a exploração no local de trabalho durante os meses frios de inverno. Mineiros de carvão da Korea Coal, empresa de propriedade do Governo, denunciaram que muitos trabalhadores estão sofrendo problemas de saúde por causa da respiração de pó de carvão e excesso de trabalho. Trabalhadores irregulares nas minas fazem exatamente o mesmo trabalho que os trabalhadores em tempo integral e sofrem com as mesmas doenças, mas não recebem nem metade do mesmo salário que seus colegas.

Conglomerados corporativos controlados por famílias, como a Samsung, Hyundai e LG criaram e fomentaram problemas sociais e econômicos. Esses conglomerados são responsáveis pela crise financeira asiática de 1997, bem como pela concentração econômica e consolidação industrial que se acelerou após a crise, que culminou em demissões e aumento da insegurança no emprego em indústrias-chave, como a automotiva. Sessenta e quatro corporações são responsáveis por 84% do PIB, mas fornecem apenas 10% dos empregos. À medida que os grandes conglomerados empresariais reduzem as contratações, os trabalhadores têm cada vez mais que assumir um segundo e terceiro emprego para pagar suas contas devido à instabilidade inerente aos trabalhos de curto prazo, contrato limitado ou sem carteira assinada.

O protesto foi reprimido pelo aparato policial que chegou a fazer “barreiras” composta por vários ônibus para bloquear a movimentação, o que promoveu confrontos com manifestantes em postos de controle. O presidente da KCTU, Yang Kyung-soo, e pelo menos outros 30 militantes do sindicato foram presos, de acordo com o diretor de política da KCTU. Autoridades citaram as medidas de prevenção do coronavírus como a razão para evitar protestos, com o ministro do Interior e Segurança Jeon Hae-cheol chegando ao ponto de dizer que os protestos destruiriam as expectativas de normalidade neste ponto crítico de inflexão da pandemia.

Mas não deveria haver nenhuma expectativa de normalidade. Embora a Coreia do Sul tenha sido anunciada em todo o mundo como um modelo em termos de medidas de prevenção de doenças em saúde pública, a crise do coronavírus também expôs a verdadeira precariedade dos trabalhadores. As indústrias aereoviárias, de fabricação de automóveis e construção naval estão demitindo trabalhadores em massa, enquanto os preços médios dos apartamentos em todo o país subiram mais de 70% nos últimos cinco anos. Todos os passos que o presidente Moon tomou desde 2017 para tentar reduzir os preços dos imóveis, como medidas regulatórias, aumentar os impostos sobre ganhos de capital sobre a mudança de casas e os impostos sobre a propriedade de vários proprietários, foram, em última análise, mal sucedidos. Somente de julho de 2020 a julho de 2021, os preços das casas subiram 14,3%. O endividamento das famílias na Coreia do Sul é quase o dobro da renda média das famílias mas a resposta do governo ao aumento da dívida e da inflação das famílias é aumentar as taxas de juros para tentar reduzir a inflação.

Entre outras demandas, a greve também exige a nacionalização das indústrias essenciais e maior participação dos trabalhadores nas decisões. Muitos trabalhadores de diversos setores se mobilizaram, como da educação, serviço público, manufatura, logística e setores da construção civil. Os governos capitalistas sempre tentarão dificultar a autonomia dos trabalhadores e a nacionalização dos serviços sob controle operário. O governo coreano poderia ceder à pressão social e oferecer algumas concessões aos trabalhadores, como o aumento de mecanismos para que os trabalhadores deem opiniões na tomada de decisões econômicas (sem implementar mudanças críticas) ou invistam algum dinheiro em serviços sociais. No entanto, os trabalhadores merecem muito mais do que as concessões que podem ser dadas ou não.

É inspirador que os trabalhadores estejam lutando contra a ofensiva neoliberal que dizimou completamente a rede de segurança social, e estejam lutando também por melhores condições de trabalho e de vida. Devemos apoiar a luta dos trabalhadores coreanos para acabar com o trabalho informal e precário, por melhores condições de trabalho, mais poder de decisão e a nacionalização das indústrias.

Para que os trabalhadores coreanos conquistem suas demandas, eles devem continuar a lutar, estendendo a greve de um dia para uma greve geral indefinida até que obtenham o que merecem por direito. Somente exercendo todo o poder da classe trabalhadora, através de seus métodos, os trabalhadores poderão conquistar suas reivindicações.

 
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