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Eleições
Argentina: Frente de Esquerda Unidade ganhou debate contra candidatos do ajuste e da repressão
Redação

As eleições legislativas argentinas estão se aproximando e ontem ocorreu o debate entre as candidaturas da província de Buenos Aires. O candidato da Frente de Esquerda desmascarou a demagogia do reacionário Espert, questionou a candidata da Frente de Todos, Tolosa Paz, pelo ajuste neoliberal que dá continuidade ao de Macri, e foi o único que repudiou a mão dura que todos os outros candidatos pediram para criminalizar os protestos e a pobreza.

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Na quarta-feira, poucos minutos após as 22 horas, na província de Buenos Aires começava o debate entre os candidatos e candidatas à câmara nacional pela província.Diego Santilli (do Juntos macrista), Victoria Tolosa Paz (da Frente de Todos de Alberto Fernández), Nicolás del Caño (Frente de Esquerda), Luis Espert (Da coalizão de Milei, amigo de Bolsonaro), Florencio Randazzo (Partido Judicialista) e Cynthia Hotton (+Valores) debateram durante quase duas horas os temas “Qualidade institucional, segurança e justiça”, “Economia, trabalho e educação”, e “Políticas sanitárias durante a pandemia”.

Desde o início, ficou claro que seria um debate em que a única voz clara contra a criminalização dos protestos e da pobreza (sob o mote da “insegurança”) viria da Frente de Esquerda Unidade, na voz de Nicolás del Caño - dirigente do PTS, partido irmão do MRT na Argentina e que impulsiona a rede Esquerda Diário nesse país. Também a única proposta contra os planos de ajuste que o povo trabalhador vem sofrendo há anos e que golpeiam violentamente a vida de milhões, descarregando a crise nos de baixo.

Falando sem rodeios, sem a presença do candidato da Frente de Esquerda, o debate teria deixado de fora a denúncia contra o ajuste do governo de Alberto e Cristina em nome do FMI, bem como a situação da juventude trabalhadora, que é submetida à forte precarização do trabalho, e também a reivindicação do massivo movimento de mulheres argentino, que conquistou o direito ao aborto lá. Foi Del Caño quem contestou as constantes direitadas que vieram de Hotton, Santilli e Espert. O mesmo pode se dizer sobre a luta em defesa do meio ambiente e contra as políticas extrativistas.

Ao longo do debate, Santilli e Tolosa Paz apostaram nas rixas e na polarização entre eles, evitando responder às críticas que vinham do resto dos candidatos. Espert apelou à demagogia de direita falsamente libertária, enquanto Randazzo e Hotton tiveram um papel menor.

A primeira rodada do debate mostrou uma concentração furiosa da maioria dos candidatos no objetivo de fazer as propostas mais reacionárias no tema da mão dura repressiva e da insegurança. O fantasma de Ruckauf “meter bala nos delinquentes” sobrevoou mais uma vez a agenda da província de Buenos Aires. Expressões como “delinquentes presos”, “lei de excarceragem”, “penas mais duras” ou “redução da maioridade penal” preencheram o debate. Espert chegou a falar de reduzir a maioridade penal para os 12 anos. Um verdadeiro despropósito reacionário. Mas não foram só os candidatos da direita: Victoria Tolosa Paz defendeu ter cedido à chantagem armada da Polícia Bonaerense em 2020 e reivindicou a construção de prisões e de mais financiamento para as forças de repressão. Buscando um voto direitista, escolheu esse eixo para confrontar com Diego Santilli na hora do embate entre ambos.

A voz dissonante veio de Nicolás del Caño, que denunciou que os grandes crimes são geridos por uma estrutura mafiosa que inclui setores da Polícia Bonaerense, do Poder Judicial e do poder político, que se aproveitam da situação de vulnerabilidade e ausência de perspectiva de futuro que sofrem milhões. “Os que querem que você acredite que o problema da insegurança se resolve com a polícia metendo bala e baixando a maioridade penal estão acobertando essa estrutura mafiosa e admitindo que nunca vão resolver os problemas de desigualdade e pobreza em que se apoiam. O narcotráfico está baseado na ilegalidade de um negócio bilionário”, disse. Nessa parte do debate, também reivindicou a legalização da maconha junto a campanhas de prevenção do consumo problemático, e a liberdade de todos os presos por cultivar.

Foi nesse capítulo também que Del Caño relembrou a repressão realizada ano passado em Guernica pelo Governo da Província de Buenos Aires e em Villa 31 pelo Governo de Larreta. Repressões desatadas contra famílias humildes que exigiam moradia.

Durante o bloco destinado a debater Economia, trabalho e educação, assim como no de Políticas sanitárias durante a pandemia, se entrecruzaram debates nos quais cada candidato escolheu um terreno onde se enfiar.

Na oposição de direita, todos optaram por questionar o manejo da pandemia que fez o governo da Frente de Todos, denunciando os resultados ruins tanto em economia quanto saúde. Com pequenos matizes, criticaram a “quarentena eterna”, as escolas fechadas, as atividades laborais interrompidas. Na hora das propostas, os benefícios aos empresários foram praticamente a única saída apresentada.

No terreno da economia, o mais incomodado foi Santilli, que vem com o peso dos quatro anos de Macri. Tolosa Paz, no entanto, não conseguiu esquivar das críticas de Del Caño quando se falou do ajuste. Foi o candidato da esquerda o que relembrou a eliminação do auxílio social do IFE em plena pandemia e o ajuste contra milhões de aposentados na reforma previdenciária antes mesmo do início da pandemia.

Recém ouvia Tolosa Paz falando dos aposentados e do descontentamento. Hoje a aposentadoria mínima é uma aposentadoria de indigência e antes da pandemia o Governo retirou a mobilidade de aposentados e aposentadas que pela primeira vez iram receber um aumento acima da inflação”, disparou Del Caño. A candidata governista escolheu desviar da resposta.

Durante esse ponto, ficou em evidência o completo alinhamento do conjunto dos candidatos com as políticas de ajuste levadas adiante e com o acordo com o FMI que será discutido até mesmo depois das eleições. Espert foi o único que diretamente se referiu a ele, mas só para afirmar a intenção de pagá-lo. Foi Del Caño quem criticou o acordo e destacou que só traria mais ajuste.

No campo do governismo, Tolosa Paz buscou sair das críticas sobre a pandemia se justificando não só sobre a dificuldade da situação, como apelando também a dizer que as decisões não foram tomadas em conjunto com os governadores das províncias e com o prefeito Larreta. Com empatia forçada, quis falar aos que não passam bem, mas só conseguiu falar da herança recebida de Macri como argumento, ou à contraposição de modelos, pedindo um Estado mais presente que colabore com “empresários e pessoas” (sic).

Com uma perspectiva completamente oposta, Nicolás del Caño enfatizou: “Agora te fazem promessas de campanha. Mas uns governaram quatro anos e os outros já dois anos. Seguiram te ajustando. Que peculiar que Santilli não fala do projeto de Lousteau de eliminar as indenizações, e Tolosa Paz não disse nada do acordo flexibilizador na Toyota que tira direitos dos trabalhadores e que o governo aprova. Falta trabalho e a única proposta de saída é a da Frente de Esquerda: reduzir a jornada de trabalho para 6 horas, dividindo o trabalho entre empregados e desempregados com um salário mínimo que cubra a cesta básica familiar. Aplicando essa medida, só nas grandes empresas se criariam 900.000 novos postos de trabalho. Quase a metade do desemprego informado pelo INDEC.

O desenvolvimento da tecnologia poderia aliviar a carga de trabalho de quem faz jornadas de 10, 12 horas, e criar emprego genuíno para os que estão desempregados ou os informais. A tecnologia nas mãos dos capitalistas está a serviço de explorar mais o trabalhador. Basta de salários e aposentadorias que perdem com a inflação há 4 anos. Propomos um aumento emergencial para recuperar o poder de compra perdido com Macri e Fernández. Por um salário mínimo que cubra o custo da cesta básica familiar e que se atualize automaticamente segundo a inflação”.

O candidato da esquerda foi também o único a destacar a furiosa ofensiva das patronais das gigantes alimentícias para garantir seguir aumentando os preços livremente. “É preciso parar o que vem fazendo as corporações que controlam a produção de alimentos e que seguem aumentando os preços. Vêm ganhando como nunca na pandemia e até se dão o luxo de dizer que vão nos desabastecer e não respeitar o controle de preços”, lançou.

Na parte final do debate, os candidatos e candidatas debateram acerca das políticas levadas adiante na pandemia. Como não podia ser de outra forma, Santilli e Tolosa Paz apostaram na polarização entre eles, com críticas mútuas e acusações. Del Caño destacou que a Frente de Esquerda havia levantado uma série de medidas urgentes que nenhuma das duas alas aceitou colocar em discussão.

Foi nesse bloco também que o candidato de esquerda denunciou que a pandemia é também um resultado da destruição do meio ambiente, e denunciou também a ausência de diferenças entre o Juntos e a Frente de Todos no que concerne às políticas extrativistas.

Nas perguntas entre candidatos, Santilli e Tolosa Paz se elegeram mutuamente, reforçando a intenção de usar o embate a seu favor eleitoralmente. Ao mesmo tempo, com isso, garantiram que mais ninguém os pudesse incomodar entre os outros candidatos.

O debate seguinte foi protagonizado por Del Caño e Espert, onde o candidato da Frente de Esquerda expôs o rival. O mostrou como o que é, um defensor aberto dos interesses das grandes patronais que chegou a dizer “as empresas, por mim, façam o que quiserem. Que contratem em relação de dependência, monotributo”. A resposta de Del Caño foi contundente: “Defende que os empresários escondam o dinheiro que falta na saúde, educação e moradia”.

Um pouco antes, no mesmo sentido, Espert havia se colocado como um firme defensor das grandes patronais do campo, quando as apresentou como “vítimas” das políticas do Estado nacional.

Minutos mais tarde, teve lugar um debate entre Randazzo e Hotton, cujo maior mérito foi produzir muitos memes para as redes sociais, refletindo seu tédio.

O minuto final do debate repetiu o padrão que se viu ao longo das duas horas: bate boca entre Santilli e Tolosa Paz; Espert e uma limitada den´ncia contra a casta política; Randazzo e Hotton intranscendentes.
Em seu encerramento, Nicolás del Caño redobrou o chamado a apoiar a Frente de Esquerda. "Vamos a transformar a raivae o descontentamento em luta e organização. Nós não fazemos promessas eleitorais e sim um compromisso de luta. Estamos construindo uma nova alternativa política da classe trabalhadora em todo o país, socialista e anticapitalista”, afirmou o candidato da esquerda.
Todos te chamam pra se resignar à miséria do presente. Mas podemos conquistar outro futuro. No dia 14 de novembro, vamos com a Frente de Esquerda Unidade”, finalizou em um chamado para essa importante luta.

 
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