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Editorial MRT
É urgente um plano de luta contra a fome e o desemprego
Mateus Torres

Cenas de pessoas desesperadas atrás de um caminhão de lixo num bairro nobre de Fortaleza (CE) chocaram o país, revelando pra quem ainda não tinha dimensão da barbárie que está atingindo milhões em todo o país. A fila do desemprego vem cada vez mais combinada com a fila do osso e a fila do lixo.

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Ao mesmo tempo, víamos Eduardo Bolsonaro e sua família esbanjando luxo se fantasiando de Sheik árabe, como parte de uma delegação de dezenas de reacionários do governo na cidade de Dubai. Mais um símbolo asqueroso do que essa família esbanja em cima do dinheiro público e esnoba na cara do povo brasileiro. Não se trata de um privilégio somente da família Bolsonaro, mas também da casta de políticos parasitas que recebem fortunas enquanto o povo passa fome.

Eles são os representantes no mundo político dos grandes capitalistas, estrangeiros e nacionais. Como dizia Marx, o Estado burguês é um comitê que administra os negócios do conjunto da burguesia. E lá estão eles fazendo negócios em Dubai. Ou aqui no Brasil, arruinando o meio ambiente e levando a cada vez mais catástrofes sociais como a expansão desenfreada do agronegócio, que gerou essa pandemia e gera o aumento descontrolado do preço dos alimentos, porque não lhes importa a vida do povo, mas somente os seus lucros.

A classe trabalhadora e o povo pobre já viviam na miséria antes da pandemia. Enquanto os 5 maiores bilionários tinham a riqueza equivalente à metade da população brasileira, 31 milhões viviam sem saneamento básico e 13 milhões em favelas. Durante a pandemia, piorou. De um lado, a fortuna dos bilionários brasileiros cresceu 11,6%. Do outro, quase 15 milhões estão desempregados, dezenas de milhões no subemprego, trabalho informal ou precário. Estamos morrendo de covid ou desesperados na miséria, especialmente os negros, mulheres e LGBTs. A juventude não tem direito de estudar numa universidade pública e vai trabalhar em aplicativo de entrega.

Não dá para ter ilusão na saída eleitoral ou unidade com a direita

Bastaria expropriar meia dúzia de grandes empresas do agronegócio para acabar estruturalmente com o problema da fome no Brasil, mas mesmo aqueles que se dizem contra a fome, como o PT, o que apresentam como alternativa é votar em Lula em 2022. Mas a fome ocorre agora e essas alternativas em 2022 vão ter que lidar com a crise econômica. Enquanto isso, a fome cobra seu preço dia a dia, roubando a dignidade das pessoas. Como se expressou na odiosa prisão recente de uma mãe que tinha levado comida de um supermercado para alimentar seus filhos, gerando amplo repúdio nas redes sociais e que quando foi entrevistada disse que “Só queria ser gente”. Mais um símbolo revoltante, que deve nos levar a decidir lutar e a contagiar cada um que está ao nosso redor nesse sentido. Mas desde um ponto de vista que possa resolver efetivamente os problemas, com um programa e uma estratégia para vencer, o que só pode ser em base à luta de classes e não pela via institucional.

É absurdo que neste momento grave não haja esse plano de luta nacional, que unifique a classe trabalhadora empregada e desempregada junto a todos os setores oprimidos, como os indígenas que vêm travando uma forte luta. Ao invés disso, as direções do movimento operário, como a CUT, vem literalmente desorganizando os atos de rua contra o governo. As duas maiores centrais sindicais do país defenderam, em reunião fechada, transformar o ato fora Bolsonaro do dia 15 de novembro em uma reunião de cúpula dos partidos. Trata-se de uma medida absurda para retirar forças das ruas e canalizá-las para um palanque eleitoral. É fundamental que organizações da esquerda socialista rechace essa decisão para fortalecer a exigência de manutenção das manifestações do dia 15 às centrais.

As direções majoritárias, e lamentavelmente setores da própria esquerda que se reivindica socialista, estão depositando ilusões na via eleitoral ou na unidade com a direita reacionária, que fala contra Bolsonaro para poder construir a tal “terceira via”, mas é igualmente responsável pela fome no Brasil e por todos os ataques que aprovam dia a dia contra os trabalhadores e o povo pobre. Apresentam o chamado a estes setores como se fosse a grande saída para massificar os atos pelo Fora Bolsonaro, mas o que fizeram com isso foi desmoralizar, confundir e desmobilizar, com os atos claramente se enfraquecendo. É fundamental que as organizações dos trabalhadores se apresentem como alternativa para enfrentar a fome emergencialmente, mas superando os limites de uma estratégia meramente assistencialista, que não vai resolver nenhum problema estrutural. Apesar dos esforços na pandemia de milhares em políticas de distribuição de alimentos, seguimos vendo essas cenas horripilantes e é preciso garantir uma saída de fundo, que passa por garantir um verdadeiro plano de luta contra o desemprego e a fome, por um programa de emergência para a crise.

Unidade na luta de classes e por um plano de luta para impor um programa operário de saída para a crise

Todos os setores que se colocam pela esquerda do PT e das direções burocráticas do movimento de massas precisam unir forças na luta de classes urgentemente. Isso passa por cercar de solidariedade, unir e coordenar cada processo de luta que surja, como vimos na resistência da Proguaru, e agora dos agentes escolares de São Paulo e outras greves que vêm surgindo, mas que vêm sofrendo com o isolamento. No coração do imperialismo norte-americano estamos vendo uma verdadeira onda de greves que mostra também que o caminho é a luta, greves impressionantes com expressões inclusive antiburocráticas, que devem ser seguidas com atenção por todos os trabalhadores e trabalhadoras, já que mesmo importantes políticos burgueses começam a se questionar se o que está em curso nos EUA é uma “greve geral não oficial”, mostrando que o choque das ilusões com um governo que se colocou como alternativa ao trumpismo pode dar espaço a novos combates da luta de classes. Esse é o caminho.

Leia também: Onda de greves nos EUA

Por isso, acreditamos que é urgente que todos os parlamentares do PSOL utilizem sua projeção política e recursos financeiros para agitar a necessidade de um plano de luta em exigência às direções majoritárias para que saiam da paralisia e convoquem imediatamente um plano de luta. Nós do MRT, que construímos a CSP-Conlutas e estamos debatendo com os componentes do Polo Socialista e Revolucionário, queremos batalhar conjuntamente por essa perspectiva, para surgir a alternativa de uma resposta operária e popular para a crise.

Somente com a luta de classes podemos impor demandas urgentes, como um auxílio emergencial de ao menos um salário mínimo e a derrubada de todos os aumentos feitos na pandemia (luz, água, gás, gasolina e transporte), congelando os preços nos valores anteriores à crise sanitária. Mas precisamos lutar por uma saída de fundo para os problemas do país. Isso passa por colocar pra fora Bolsonaro e Mourão, mas combinado com uma luta emergencial contra o desemprego e os salários de miséria:

Reajuste salarial mensal igual à inflação!

Se tudo aumenta mensalmente, então tem que aumentar os salários! Estamos num recorde da inflação, destruindo nosso poder de compra que já era baixo, mesmo quando deixamos nosso suor, sangue e vida nas fábricas, comércios e em cada local de trabalho, onde somos cada vez mais super-explorados. Não adianta mais fazer campanha salarial a cada ano para repor o poder de compra do salário, porque a inflação rouba todo aumento anual no mês seguinte. Precisamos de uma campanha unificada de todos os sindicatos nacionalmente para impor o reajuste automático dos salários a cada mês de acordo com o aumento do custo de vida.

Emprego com plenos direitos para todos!

Não podemos naturalizar a precarização, a terceirização e a "uberização" do trabalho. Precisamos unir nossa classe, empregados e desempregados, em defesa deste direito mínimo que é o emprego com plenos direitos para todos.

Nas empresas que tiveram que baixar a produção, não podemos aceitar que haja demissões. As horas de trabalho devem ser divididas entre todos os trabalhadores, sem redução salarial. Mas nossa perspectiva deve ser resolver o problema do desemprego em toda a sociedade, dividindo as horas de trabalho de todo país entre empregados e desempregados, começando pela redução para jornada de 6h, 5 dias na semana.

Para gerar empregos, é preciso um enorme investimento estatal em um grande plano de obras públicas para vários anos. Um plano controlado pelos trabalhadores, ligado a uma verdadeira reforma urbana, garantindo moradias, saneamento básico, transporte público rápido, hospitais, escolas, tudo o que é necessário para uma vida digna.

Esse conjunto de medidas, elementares e ao mesmo tempo que golpeiam a sede de lucro dos empresários, está orientada a fazer com que os capitalistas paguem pela crise. É preciso unificar os trabalhadores em uma frente comum de combate contra o conjunto da classe dominante, o que só pode ser feito batalhando por recuperar nossos sindicatos das mãos das burocracias. O combate ao conjunto do regime político que impõe fome e desemprego segundo os interesses dos capitalistas é fundamental. Por isso levantamos a imposição pela luta de uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana, que incremente o choque político entre as classes e abra caminho à perspectiva da batalha por um governo dos trabalhadores de ruptura com o capitalismo.

 
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