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Balanço da greve da GM
O que poderia ter sido diferente na luta da GM?
Virgínia Guitzel
Travesti, trabalhadora da educação e estudante da UFABC
Márcio Pasqual

Depois de duas semanas em greve, os mais de 4 mil operários da GM conseguiram reajuste de 10,42%, antecipação do pagamento de metade do 13º salário de 2022, além de manter as cláusulas do Acordo Coletivo anterior, incluindo a estabilidade para trabalhadores acidentados que a GM queria tirar. A enorme disposição de luta dos operários e operárias da GM conquistou estas reivindicações, apesar da direção sindical, que buscou manter a greve isolada, aceitando a chantagem da justiça de multa de 50 mil por dia e encerrou a greve contra a decisão dos trabalhadores, sem defender o aumento do vale refeição. Esperamos com esse primeiro balanço poder apresentar as ideias do Movimento Revolucionário de Trabalhadores para que a luta da GM pudesse triunfar.

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O encerramento controverso da greve, que deixou de fora o aumento do vale refeição, tão necessário num momento de alta inflação e alta carestia de vida, foi decretado pelo sindicato à revelia do voto dos trabalhadores em assembleia, que chegaram inclusive a denunciar na imprensa local e para o Esquerda Diário a traição do sindicato. A pergunta que todos os lutadores e lutadoras que estiveram à frente desta greve ou os estudantes que apoiaram e acompanharam esse processo de luta precisamos nos fazer é: O que poderia ter sido diferente na luta da GM para que ela triunfasse?

Confiar na força e na organização dos trabalhadores de forma independente dos patrões

A força da mobilização dos trabalhadores da GM conquistou parte de suas reivindicações, e, como mostraram na votação da última assembleia realizada na quinta-feira (14), estavam dispostos a ir por mais. Essa disposição se mostrou na votação da maioria dos trabalhadores contra a imposição do TRT de volta imediata ao trabalho. E vale ressaltar que essa mesma Justiça mais uma vez esteve ao lado da GM, que apesar de ter lucrado US$ 6,4 bilhões em 2020 e ter a previsão de lucro líquido entre 6,8 bilhões e US$ 7,6 bilhões, se recusa a oferecer aumento real dos salários e garantir a alimentação de seus trabalhadores. A decisão da maioria de seguir a luta foi rechaçada pela direção do Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano do Sul, da Força Sindical, que decretou de forma autoritária a volta ao trabalho e afirmou que quem quisesse seguir a greve, que fizesse sozinho.

A traição da Força Sindical não começou com o encerramento da greve, mas desde a aceitação da implementação da Reforma Trabalhista e depois durante toda a pandemia quando foram um braço da patronal para utilizar a crise sanitária como desculpa para descarregar a crise econômica nas costas dos trabalhadores com suspensões de contrato, redução de salários, remanejamento de férias e feriados, demissões, e a própria ampliação da terceirização dentro da fábrica, que fragmenta as fileiras da classe trabalhadora e, pela divisão imposta com menos direitos, enfraquece o poder de fogo dos trabalhadores.

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Desde o início da greve, o sindicato buscou controlar todo o processo, convocando assembleias diárias meramente informativas, sem sequer direito à fala dos trabalhadores de base, sem mobilizar com métodos de luta como atos de ruas e não aproveitando os apoios e possibilidades de confluir com outros trabalhadores em luta. Em cima do carro de som, Cidão dizia que a greve não poderia se politizar, uma clara demonstração do papel da burocracia sindical de buscar separar a luta pelo aumento dos salários corroídos pela inflação da luta contra a classe dominante e seus partidos capitalistas que organizam a sociedade à serviço do seu lucro e em detrimento das nossas vidas.

Isso porque a Força Sindical é uma central sindical patronal que esteve ao lado de partidos capitalistas atacando a previdência, os direitos trabalhistas e em todo projeto de fazer com que sejam os trabalhadores a pagarem os custos da crise econômica. Por esse mesmo motivo não se enfrenta com a justiça dos patrões, porque estão subordinados a ela. Esses sindicalistas não trabalham há anos e sobrevivem vergonhosamente obstruindo as lutas e o desenvolvimento de questionamentos mais profundos dentro da fábrica.

Para enfrentar essa máfia dentro do sindicato, é preciso transformar a indignação e raiva contra a direção do sindicato em organização. A começar por organizar desde a própria base dos trabalhadores para que sua voz possa se expressar, com métodos totalmente diferentes da burocracia, permitindo o desenvolvimento da auto-organização, com a maior democracia possível das discussões sobre como lutar dentro da fábrica. Combinando esse trabalho de base à busca pela unidade entre efetivos e terceirizados, superando as divisões provocadas pela patronal com ajuda da direção do sindicato, para recuperar o sindicato para as mãos dos trabalhadores e, deste modo, manter a vanguarda dos trabalhadores organizada preparando os embates da luta de classes.

A luta da GM e o papel da esquerda revolucionária

Do outro lado dos portões da GM estavam estudantes da UFABC que organizaram um Comitê de Apoio aos Operários e Operárias dentro da universidade, com fotos em apoio, estiveram na calçada com uma faixa em solidariedade na porta da fábrica. Apesar do sindicato não ter sequer lido a moção de apoio aprovada entre os estudantes, e não ter permitido que os estudantes pudessem se juntar aos trabalhadores, a barreira física não era capaz de impedir que estes vissem o apoio concreto de estudantes e trabalhadores da universidade, além de trabalhadores de outras categorias.

Na quarta-feira (13), servidores municipais de São Paulo também aprovaram em assembleia seu apoio à greve da GM. Agora os trabalhadores da saúde, educação, serviço funerário, estão todos afetados pelo ataque à aposentadoria, e certamente poderiam ter muito mais força para lutar se estivessem numa coordenação com outras lutas em curso.

Mesmo com estes apoios externos, ficou claro que a intenção da direção do sindicato não era de ampliar a greve. Para impedir que as coisas saíssem do seu controle, o sindicato buscou manter a greve isolada, sem manifestações de rua ou diálogo com a população da região. Se a direção do sindicato é traidora e, ao invés de potencializar essa luta ela, na verdade, se colocou como seu principal obstáculo, com assédios e ameaças, o papel da esquerda deve ser fortalecer o surgimento de uma oposição e cercar de solidariedade para que os trabalhadores se sintam encorajados a lutar pelo controle da sua mobilização. Esta é talvez a questão mais importante que poderia ser diferente.

Imaginem se pudéssemos, apesar das diferenças que existem entre as organizações de esquerda, atuar em conjunto nessa luta concreta, colocando todas as forças que temos, como os sindicatos de oposição onde estamos, os cargos parlamentares que ocupamos, as entidades estudantis que somos parte, em iniciativas que fortaleçam a luta de classes, estimulando a auto-organização dos trabalhadores para retomar os sindicatos para suas próprias mãos. Essa força unificada da vanguarda era possível e poderia avançar para unificar e coordenar as lutas em curso, poderia fortalecer as tendências antiburocráticas que asfixiam o movimento operário, que além da patronal, são amedrontados pelo sindicato que se parece mais com o RH da empresa.

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É muito importante a proposta feita pelo PSTU, da conformação de um Polo Socialista e Revolucionário, que nós do MRT viemos dialogando e achamos fundamental avançar nesse debate, inclusive porque para nós as lições que colocamos aqui sobre o papel que a esquerda revolucionária poderia ter cumprido em uma luta como essa seria uma tarefa central desse polo, para que a vanguarda dos trabalhadores e dos estudantes unifique suas forças para atuar desde já nas lutas que surgem, buscando coordená-las e fortalecê-las para que não sejam derrotadas pelo isolamento, pela traição das centrais sindicais ou pela repressão.

A Juventude Faísca junto com o Esquerda Diário procurou contribuir neste sentido com a criação do Comitê da UFABC em Apoio a Greve da GM buscando um amplo chamado ao conjunto da esquerda da região do ABC e das entidades estudantis e de trabalhadores da UFABC, para cercar essa luta de solidariedade, como uma iniciativa que, na nossa visão, deve-se generalizar para cada luta que surja. Nesse sentido vemos que é preciso atuar para construir uma política com independência de classe, dos trabalhadores, sem ilusão de que as eleições de 2022 ou o Impeachment poderão resolver os nossos problemas, enquanto sofremos ataques que atingem nossas condições de vida agora, em meio à pandemia e avanço da crise econômica.

Nesse sentido, a Faísca quer abrir também um debate com as organizações do próprio movimento estudantil, pois a iniciativa do Comitê poderia ter sido fortalecida se esses grupos tivessem participado dele ativamente e incorporado suas medidas de solidariedade, como as campanhas de fotos em apoio aos trabalhadores, discussões com o conjunto dos estudantes, professores e trabalhadores da universidade nas aulas etc.

Essa ausência foi marcante em especial por parte da Unidade Popular pelo Socialismo, que dirige o DCE da universidade, mas que não participou e nem contribuiu para que as diversas entidades estudantis que dirige fossem parte ativa da solidariedade às operárias e operários da GM, que assumisse esse compromisso ao lado dos trabalhadores.

Queremos reforçar o nosso chamado às próximas iniciativas deste tipo, pois, como afirmamos em diálogo com a iniciativa de construção de um Polo Socialista e Revolucionário, é urgente o fortalecimento da luta contra Bolsonaro e Mourão, além do desafio de enfrentar com independência de classe a possível volta do PT ao governo federal em acordos com a mesma direita que impôs todos os ataques à nossa classe. Frentes de combate comum como poderia ter sido esse Comitê fortalecem os trabalhadores em luta.

 
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