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CARNAVAL
Carnaval de rua como resistência cultural
Jonas Pimentel

O carnaval de rua não é algo novo, mas o interesse do poder público por ele tem se alterado e tomado novas características. Na cidade do Rio de Janeiro são 505 blocos de rua cadastrados e em São Paulo 355.

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Os blocos de rua possuem um histórico de resistência cultural muito forte. Desde a luta dos negros no século XIX contra a escravidão, de defesa das cultura e religiões africanas e afro-brasileiras, de autoafirmação e organização de comunidades excluídas pela elite brasileira no decorrer do século XX, até expressões mais espontâneas da população em geral que expressam uma necessidade de festejar e ocupar espaços públicos de forma coletiva.

O samba, a congada, o maracatu, o choro, os festejos de São Benedito e diversas outras expressões culturais são, além de entretenimento, instrumentos de luta e subversão criados pelo povo. Não à toa, durante a ditadura civil-militar (1964-1985), a população ficou proibida de organizar blocos de carnaval e até mesmo as escolas de samba passaram a ser perseguidas pelo estado brasileiro.

Hoje, é possível identificar nos blocos de alguns temas e pautas de lutas que estão em curso: contra o racismo, machismo e LGBTfobia; blocos de artistas independentes; blocos de comunidades periféricas; mas também tem sido apropriados pelo estado e empresários que visam a lucratividade desses eventos.

Essa tradição dos cortejos carnavalescos e shows em coretos de praças públicas tem reaparecido no cenário brasileiro com mais intensidade a partir dos anos 2000 e principalmente nos últimos anos quando o poder público iniciou uma ofensiva de normatização e exploração de suas possibilidades econômicas.

O Rio de Janeiro, por exemplo, prevê para esse ano movimentar 700 milhões de dólares e receber cerca de 900 mil turistas, segundo dados disponibilizados pela Empresa de Turismo do Município do Rio de Janeiro (RioTur). Em São Paulo, segundo site da prefeitura, a previsão é de movimentar pelo menos R$278 milhões e terá parceria com empresários ligados ao projeto Dreamfactory, que tem a Cerveja Amstel e Caixa Econômica Federal como financiadoras.

Todos sabem que o mercado do carnaval é intenso e muito lucrativo para empresas e governo, por isso o controle das cidades é tão desejado por ambos.

Durante um cortejo carnavalesco no Rio de Janeiro no mês passado houve repressão policial aos vendedores ambulantes, o que gerou posteriormente protesto em resposta. Em São Paulo, também houve repressão policial a grupo de foliões na Vila Madalena no fim de janeiro e esse ano a prefeitura aumentou em 30% o efetivo da guarda municipal metropolitana.

O secretário de segurança pública de Alckmin, Alexandre de Morais, também disse em evento no dia 31 de janeiro que o policiamento será reforçado nas ruas da capital paulista durante o carnaval em parceria com a prefeitura. Ou seja, irá garantir a “segurança” com a mesma instituição que violou direitos elementares da população brasileira durante a ditadura, é conhecida mundialmente pelos assassinatos de milhares de jovens negros todos os anos no Brasil, que reprime manifestações de trabalhadores e juventude e até mesmo a ONU já apresentou proposta de por fim à sua existência.

Essa situação não é nova para os trabalhadores e jovens que lutam todos os dias por uma vida mais digna e que sofrem com a repressão nas periferias e nos processos de luta.

Mesmo assim a resistência segue nas ruas, nos bairros, nas comunidades através da poesia, dos ritmos e da cultura nesses dias de festa.

Em artigo publicado no Esquerda Diário essa semana apresentamos um dos blocos de São Paulo que possui esse caráter de resistência cultural e é uma das principais referências no carnaval paulistano da luta contra o racismo: o Ilú Obá de Min – que irá se apresentar nos dias 5 e 7.

Por fim, que esse carnaval de 2016 seja mais colorido, sem opressões e livre para se divertir coletivamente, por que afinal de contas, além de trabalhar o ser humano precisa de diversão e de experiências culturais positivas.

 
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