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Extrema pobreza e fome
12 de outubro: 9,1 mi de crianças vivem em extrema pobreza, passando fome no dia das crianças
Redação

Essas crianças estão na faixa de 0 a 14 anos e vivem com renda per capita mensal de no máximo R$ 275 no Brasil, de acordo com cálculos da Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança. Isso no marco de 19 milhões de brasileiros em situação de fome. Dados são deploráveis, pois escancaram como Bolsonaro e os capitalistas descarregam a crise até mesmo nas crianças.

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Foto: André Coelho/2013 / Agência O Globo

Há a estimativa de que ao menos 9,1 milhões de crianças de 0 a 14 anos vivem em situação domiciliar de extrema pobreza (vivendo com renda per capita mensal de no máximo R$ 275) no Brasil, de acordo com cálculos da Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança. Isso no marco de 19 milhões de brasileiros em situação de fome.

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Na prática, isso provavelmente significa que elas estão em situação de insegurança alimentar, porque a família não terá dinheiro o suficiente para garantir todas as refeições.

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"É uma situação em que às vezes a família consegue fazer o almoço, mas não o jantar. E não sabe o que vai acontecer naquele mesmo dia", explica Cíntia da Cunha Otoni, líder da área de saúde da Fundação Abrinq. "Já existia uma situação grande de insegurança alimentar, mas se agravou muito na pandemia devido à queda na renda familiar."

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O cálculo da Abrinq foi feito com base em dados de 2019 do IBGE (da pesquisa Pnad Contínua) e leva em conta inclusive o dinheiro recebido por essas famílias via programas governamentais, como Bolsa Família e Benefício de Prestação Continuada.

Há mais de 14 milhões de brasileiros na extrema pobreza, número que vem crescendo durante a pandemia e o governo Bolsonaro. Com isso, certamente o número de crianças na pobreza extrema e com fome também cresceu neste ano. Hoje, na média, uma família que ganha um salário mínimo já gasta 55% dessa renda comprando os alimentos básicos suficientes para apenas uma pessoa adulta, aponta o Dieese.

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Enquanto 56% da população adulta brasileira viu sua renda cair desde o início da pandemia, essa porcentagem sobe para 64% no subgrupo de adultos que moram com crianças e adolescentes, segundo pesquisa do Unicef (braço da ONU para a infância) realizada em maio de 2021.

"Embora a gente saiba que as crianças não foram mais afetadas pelo vírus (da covid-19) em si, elas são as mais afetadas pelos impactos secundários que toda essa situação trouxe e pela interrupção de serviços", disse a representante do Unicef no Brasil, Florence Bauer, durante simpósio realizado no dia 6 de outubro pelo Núcleo da Ciência Pela Infância (NCPI).

Bauer destacou, também, como piorou a qualidade da comida ingerida: 29% das famílias brasileiras estão comendo mais alimentos industrializados, 22% estão consumindo mais bebidas açucaradas, e 18% estão ingerindo mais fast food, segundo a pesquisa do Unicef.

Esses alimentos são mais baratos e fartamente disponíveis. Mas costumam ser péssimos para a saúde, por não serem nutritivos e conterem excesso de sódio, açúcares e gordura.

Ou seja, além de eles não proverem as crianças com os nutrientes presentes nos alimentos in natura, eles favorecem a obesidade, diabetes e outros problemas de saúde de longo prazo.

Nas casas em situação de insegurança alimentar (ou seja, com alimentos em quantidade insuficiente), o consumo de comida saudável caiu 85% na pandemia, aponta uma pesquisa do grupo Food For Justice lançada em abril.

A carne vermelha, cujo preço subiu mais de 30% em 12 meses, segundo o IBGE, é uma das principais fontes de ferro, um nutriente particularmente importante para as crianças — e a deficiência de ferro (ou anemia) pode causar atrasos no desenvolvimento e deixá-las mais expostas a infecções.

A queda no consumo de carne desperta preocupação por potencialmente piorar uma situação que hoje já é considerada "trágica": a de que uma em cada três crianças brasileiras sofre de anemia.

"Não ter uma alimentação adequada nessa fase do desenvolvimento (na infância) pode deixar impactos na saúde para o resto da vida, pelo risco de desenvolverem problemas mais para frente (na vida adulta)", agregou Bauer.

Ela lembrou, também, que quase a metade das crianças da rede pública de ensino ficaram sem acesso à merenda escolar durante os meses de escolas fechadas. "E sabemos que, para muitas delas, essa era a principal refeição do dia."

A situação nutricional das crianças brasileiras já era preocupante. Uma ampla pesquisa nacional, feita entre 2019 e 2020 com 13 mil famílias com crianças de até cinco anos, apontou que quase a metade delas vivia em algum grau de insegurança alimentar.

Isso corresponde a 6 milhões de famílias em todo o Brasil, com maior incidência nas regiões Norte e Nordeste, segundo os cálculos do Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (Enani), coordenado por Gilberto Kac, professor titular do Instituto de Nutrição da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

"Como a coleta de dados foi realizada antes da pandemia de covid-19, avaliamos que a prevalência de insegurança alimentar pode ser ainda mais elevada", afirmou Kac, em comunicado.

A piora em todos esses indicadores sociais apontados incidiu mais fortemente em crianças negras, pardas e indígenas, e também mais nas regiões Norte e Nordeste, que já vinham de uma situação mais vulnerável.

"A gente sabe que a pobreza tem impactos fortíssimos no desenvolvimento infantil e no futuro dessas crianças. Todos esses impactos (sentidos) hoje elas vão carregar ao longo da vida se nada for feito para atenuá-los. É uma geração inteira que pode ser afetada", apontou o economista Naercio Menezes Filho, pesquisador do Centro de Gestão e Políticas Públicas (CGPP) do Insper., também durante o simpósio do NCPI.

"Crianças que têm seu desenvolvimento dificultado vão ter problemas de permanecer na escola no ensino médio, de entrar no ensino superior, de encontrar um emprego legal com carteira assinada, de empreender, e vão ter problemas ao longo do seu ciclo de vida."

O economista lembrou que, embora todos os grupos sociais tenham registrado perda de emprego durante a pandemia, a maior parte das demissões ocorreu entre as pessoas menos escolarizadas.

E esse é o grupo que também está tendo mais dificuldade em voltar ao mercado de trabalho no período atual de retomada econômica.

Isso reflete na capacidade desses pais de proverem o básico para seus filhos — e também de acreditarem que seus filhos terão condição de sair da pobreza.

Dados de uma pesquisa global da Gallup consolidados pela FGV Social apontam que, entre os 40% mais pobres do Brasil, 11% deixaram de acreditar que as crianças teriam a oportunidade de aprender e crescer na pandemia, índice quase dez vezes maior do que a média internacional nessa faixa de renda.

"Esses dados são subjetivos, mas refletem esse problema de transmissão da desigualdade entre gerações. Ferir essa percepção de que, mesmo quando se é pobre, se pode subir na vida tem o efeito de frustrar a ascensão social", explica o economista Marcelo Neri, diretor do FGV Social. "Apesar de os indicadores infantis e de educação do Brasil serem (historicamente) muito ruins, eles vinham melhorando nos últimos 30 anos. Agora, o vento que soprava a favor está soprando contra."

Essa é a miséria capitalista em pleno dia das crianças. Isso mostra como Bolsonaro e governadores atacam até mesmo as crianças, deixando intacto os lucros dos capitalistas e descarregando uma série de ataques contra a classe trabalhadora e seus filhos, empurrando estes para as assombrosas estatísticas da fome, do desemprego, da pobreza e da miséria.

Com informações de BBC News Brasil

 
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