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Uberização
Greve de entregadores na Grécia derrota planos precários da E-food
Rosa Linh
Estudante de Relações Internacionais na UnB

Não apenas a grande greve de trabalhadores de entregas e o boicote dos consumidores impediram os planos da E-Food de aumentar ainda mais os trabalhadores precários, forçando-os a se registrar como autônomos, mas também fortaleceu e melhorou os contratos de todos os motoristas de entrega. Um grande exemplo de luta para a classe operária brasileira.

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No dia 23 de setembro, uma das maiores empresas de entrega de alimentos na Grécia, a E-food, anunciou que estava retirando a ameaça de forçar 115 de seus trabalhadores a se tornarem "autônomos" (freelance), e também afirmou que forneceria contratos por tempo indefinido a todos os seus trabalhadores.

Foi o resultado de uma importante luta coordenada dos entregadores junto à solidariedade e boicote dos consumidores, que culminou nesta grande vitória em um setor da chamada “economia de plataforma”, que tende a precarizar cada vez mais as condições de trabalho, embora não sem encontrar resistência crescente em todo o mundo em seu caminho.

O anúncio da empresa na quinta-feira, 23 de setembro, significou uma virada de 180 graus em relação à semana anterior, quando a E-food enviou uma mensagem aos seus trabalhadores informando que eles não renovariam seus contratos e que, em vez disso, teriam que trabalhar como freelancers.

Após a tentativa de avançar para uma maior precariedade, os trabalhadores convocaram uma greve de quatro horas da qual participaram cerca de 1.500 entregadores, tornando-se a ação mais importante do setor na Grécia.

Eles então encheram as ruas de Atenas com a cor vermelha e laranja de seus uniformes, enquanto nas redes sociais a hashtag #cancel_efood se tornou viral, à qual se juntaram milhares de clientes, eliminando o aplicativo e fazendo com que a avaliação da empresa no Google caísse de 4,5 para 1 estrela.

Após esta importante ação, a empresa não só recuou na busca de seus entregadores se cadastrarem como autônomos, mas também fechou contratos por tempo indeterminado com seus trabalhadores, sendo que antes eles eram contratados por um prazo fixo de apenas três meses, o que gerou insegurança e temor de que a empresa pudesse decidir não renovar o contrato a qualquer momento.

Apesar do anúncio da empresa, os trabalhadores mantiveram a paralisação por mais um dia, no qual voltaram às ruas para comemorar o triunfo e garantir que a empresa cumpra o que promete.

A Federação Pan-helênica dos Trabalhadores da Alimentação e do Turismo (POETT) descreveu o acordo como uma "grande vitória". “Os entregadores participaram em massa, assumiram o controle do destino e nós tivemos esse resultado”, disse o sindicato.

A força da luta foi a chave para a vitória. As assembleias nas diferentes cidades tiveram uma grande participação e obrigaram os dois principais sindicatos do setor a agirem em comum: o Sindicato de Aliimentação e Turismo controlado pelo Partido Comunista (KKE) e a “Assembleia dos entregadores” dirigida pelos anarquistas e a esquerda.

A vitória dos entregadores também é um golpe sério para o governo de centro-direita da Nova Democracia, que acaba de introduzir uma nova Lei do Trabalho que torna mais fácil para as empresas de plataforma contratarem trabalhadores autônomos em vez de com contratos formais de trabalho.

A "guerra" entre os entregadores e as empresas do setor, na tentativa de tornar suas condições de trabalho ainda mais precárias, chegará à Comissão da União Europeia no dia 8 de dezembro, quando forem anunciadas as propostas de legislação sobre trabalho em plataformas em todos os estados membros. O lobby das empresas para manter o trabalho informal e evitar que os entregadores sejam considerados trabalhadores será enorme, como tem sido em todo o mundo. Mas a luta dos entregadores está crescendo cada vez mais à medida que eles percebem que a propaganda de que essas empresas os permitiriam ser seus "próprios patrões" e escolhessem seus horários é, na verdade, uma armadilha. A luta dos entregadores gregos é um bom sinal e um excelente exemplo para os trabalhadores de plataforma em todo o mundo.

A luta dos entregadores brasileiros e as lições dos gregos

No Brasil, os trabalhadores de aplicativos são atingidos em cheio pela crise com o aumento do combustível, por exemplo, que levou 25% dos trabalhadores da Uber desistirem de trabalhar no app. O governo Bolsonaro é responsável por isso. Mas ele está junto dos governadores e o STF - esses que se dizem oposição, só que estão a favor de todas as medidas de ataques trabalhistas e dessa precarização do trabalho dos aplicativos.

A uberização do trabalho é reflexo da precarização imposta pelos ataques desse regime podre, como a reforma trabalhista, a MP 935, reforma da previdência e tantas outras. Por um lado, vemos milhões de desempregados e, por outro, milhares e milhares que trabalham 12, 14 ou mais horas por dia em cima de uma bike com uma bag nas costas. Isso atinge em cheio a juventude que cada vez mais tem de sair das universidades, não conseguindo permanecer pois a assistência é cada vez maia sucateada, ou mesmo aqueles que nunca puderam entrar devido ao filtro racista do vestibular.

Por isso, a greve na Grécia se torna um exemplo tão importante e necessário, diante de um Brasil que vive um momento muito reacionário e de profundo descarregamento da crise nas costas dos trabalhadores e da juventude, que em sua maioria é mulher e negra. Afinal, nossa classe não está derrotada.

Mas mesmo no Brasil, esses ataques não ocorreram sem resistência. O dia 1 de julho do ano passado é um exemplo disso, no qual diversas entidades, associações, grupos de entregadores se unificaram por uma causa comum e conseguiram realizar fortes manifestações que chamaram atenção de toda a população. Ou mesmo a greve dos entregadores de aplicativos em São José dos Campos, que obrigou a plataforma de delivery iFood e outros aplicativos a negociarem com os trabalhadores.

E um detalhe distinto da greve de São José dos Campos em relação a outras mobilizações de entregadores é que os trabalhadores, desde o primeiro dia de paralisação, se reuniram para votar a greve e discutir os rumos do movimento em assembleias, algo que é fundamental para que o movimento não seja cooptado e desviado por qualquer liderança ou burocracia sindical que possam estar contra a organização dos trabalhadores. Essa organização através de assembleias, garantindo que todos os trabalhadores possam opinar, tomar os rumos da luta em suas mãos e escolher suas lideranças, é parte do que há de melhor na tradição da luta dos trabalhadores ao longo da história, e é extremamente importante que uma categoria nova como a de entregadores esteja se apropriando e renovando este importante método.

Leia mais: A greve dos entregadores de São José e a importância das assembleias de base

Os grevistas também se organizam em grupos para circular pela cidade e distribuir
água e comida para quem estava nos bloqueios. Para contornar a falta de ganhos, eles organizaram também uma campanha virtual de arrecadação de fundos, que foi apoiada inclusive por famosos como Gregorio Duvivier e por sindicatos como o Sindicato dos Metalúrgicos de São José. Em resposta ao movimento o iFood teve que se comprometer a conceder uma promoção de R$ 3 para os entregadores até o próximo dia 28, o que é uma conquista parcial não pela promoção em si mas por mostrar que a mobilização e a organização dos trabalhadores consegue fazer com que a empresa seja obrigada a ceder. Além disso, já se estima que até o momento essa já tenha sido a greve mais longa dos entregadores de aplicativo no país.

Essa greve demonstra que, internacionalmente, os entregadores e trabalhadores por app estão se revoltando e organizando sua luta. A greve na Grécia e a de São José dos Campos prova que a única unidade capaz de barrar os ataques dessas empresas é confiando nas próprias forças dos trabalhadores organizados.

Em meio aos atos do dia 2, nos quais boa parte da esquerda se propõe a marchar junto dessa mesma direita que é responsável pela intensificação do trabalho precário e da uberização junto de Bolsonaro, precisamos seguir o caminho dos entregadores da Grécia! A unidade que precisamos é da classe operária, não com a direita! A força dos mais de 1500 entregadores gregos que arrancaram seus direitos com mobilização, assembleias de base e uma profunda aliança com a população mostra o caminho para fortalecer a luta da nossa classe contra Bolsonaro, Mourão e todos os golpistas.

 
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