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Viúvos da Lava Jato
Dia 12: o dia D da “terceira via” dos bolsonaristas arrependidos
Mateus Castor
Cientista Social (USP), professor e estudante de História

Trata-se de uma tentativa de relocalização de bolsonaristas arrependidos para as disputas eleitorais de 2022. Grupelhos que defendem o Escola Sem Partido, como o MBL, merecem rechaço e combate daqueles que se colocam ao lado da classe trabalhadora e oprimidos.

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Para além dos jogos palacianos e disputas institucionais, o ato convocado há algumas semanas pelos bolsonaristas arrependidos do MBL e Vem Pra Rua, ganhou nova projeção diante das manifestações bolsonaristas. Mesmo João Doria, falhando em proibir os atos da esquerda no dia 7, deixou claro a sua intenção de que o dia 12 seja a resposta da “sociedade civil” contra Bolsonaro. A trupe incel, fã de Mises, havia, primeiramente, colocado como mote “nem Lula e nem Bolsonaro” e tentou “ampliar” o seu chamado, com o impeachment como pauta única. Fez isso porque tenta atrair uma parte da esquerda, dado que não sabem ao certo quanto de base social lhes restou depois que perderam o controle da direita para o abjeto Bolsonaro.

A miséria estratégica e o desespero cético que busca se agarrar em qualquer sujeito deplorável - tudo, menos auto organizar os trabalhadores e defender uma política de independência de classe - é tamanha na esquerda reformista que há os que se animaram em marchar juntos com os meninos de Sérgio Moro. Isa Penna e intelectuais da esquerda ensaiam ocupar as ruas com os defensores do Escola Sem Partido, transfóbicos, racistas contra as cotas e machistas que invadiam escolas ocupadas por secundaristas, defensores das privatizações e ataques contra a classe trabalhadora.

A vanguarda golpista que protagonizou as manifestações verde e amarelo do impeachment de Dilma e agora cinicamente se colocam como opositores à Bolsonaro, que até ontem defendiam e ajudaram a eleger, hoje defendem o impeachment de Bolsonaro.

Mas, na política, os fins não justificam os meios; os meios, afinal, estão umbilicalmente interligados ao fim. Derrubar Bolsonaro para colocar o General Mourão - o fim objetivo de um impeachment; junto com a direita golpista, o congresso e o STF que serviu de trampolim à Bolsonaro - o meio que exige os “ritos” institucionais do regime para o impeachment; temos nessa articulação um sintoma trágico daqueles que simplesmente são incapazes de defender as posições da classe trabalhadora e oprimidos, muito menos avançar posições ou vencer Bolsonaro e o regime golpista, o qual ele integra.

Vale lembrar que Mourão, na disputa das eleições manipuladas pelo STF com a tutela dos militares (o tweet de Vilas Boas) para prender Lula, em 2018, afirmou que a “Constituição não precisa ser feita por eleitos do povo”, e que para sua elaboração bastava um conselho de notáveis escolhidos pelo presidente (seria seu cabeça de chapa, Bolsonaro, à época). Essa é a figura que assumiria no caso de um Impeachment do ex-capitão, um general viúvo da Ditadura Militar.

Sabem que este método assegurado pelo regime do golpe é um das táticas institucionais de garantir que o programa econômico neoliberal, antes comandado por Temer e agora por Paulo Guedes, continue em vigor. Para isso que esmagaram o sufrágio universal em 2016 e 2018. A ameaça do Impeachment, se não como uma ferramenta de derrubada direta, serve também para o desgaste, preparando o terreno para uma ‘terceira-via’ que busque conquistar os votos de um Bolsonaro enfraquecido e uma base desmoralizada, visto como traidor por setores consideráveis de sua base.

Porque a classe trabalhadora não está sendo um ator fundamental na política nacional?

Diante dessa situação, o PT e a esquerda lutam para que a classe operária se coloque na situação de maneira independente? Não, ela assiste a ambição de um grupelho financiado pelo mercado financeiro, que busca sua reedição farsesca, apodrecida e diminuta das “Diretas Já” - uma ironia histórica de um grupo tão central para o golpe de 2016. Cogitar a participação amanhã é reeditar o feito pelos companheiros do PSTU, Resistência/PSOL e MES/PSOL no golpe institucional de 2016. Na procura de atalhos e na ausência da tática tão primordial da Frente Única Operária, se afundam com golpistas. Caso a coragem oportunista vá até as últimas consequências, os grupos e figuras reconhecidos como de esquerda que se juntarem aos golpistas de 2016, serão a pata esquerda no lançamento de uma “terceira-via” que de extrema-direita autoritária e neoliberal só falta um Bolsonaro. Justamente, o problema agonizante dos bolsonaristas arrependidos: quem cumprirá este papel?

Até o momento, do ponto de vista super estrutural e estrutural, são as alas direitistas não bolsonaristas que procuram dinamizar e manter a disputa contra o bolsonarismo nas mãos dos partidos e instituições do regime. As fracas manifestações da esquerda que ocorreram no dia 7, puramente protocolares e desarticuladas pelas burocracias sindicais e estudantis, são determinações importantes para a preservação do contorno da disputa entre direita e extrema-direita na crise política. A entrada na cena de Michel Temer, que segurou as mãos de Bolsonaro para escrever a Nota Oficial, confirma o protagonismo de atores reacionários na crise política.

Nesse cenário, Lula orienta a paz contra os bolsonaristas, e mais uma vez demonstra o quanto seria uma figura de peso na sonhada “estabilidade política” brasileira, traduzindo: tranquilidade para investir e lucrar. Enquanto isso, a ala autoritária não bolsonarista do regime - incluindo o STF, partidos tradicionais e os golpistas gestionados em 2016 - buscam articular uma saída que dê continuidade ao programa que levou Temer ao poder com o Impeachment de Dilma e, depois, Bolsonaro, com a prisão de Lula. Para isso o dia 12 pode cumprir um papel fundamental. Ainda que, como foi dito, estejam absolutamente perdidos com o nome para uma “terceira-via”, que mantenha as bases do pacto social imposto pelo golpe em 2016.

Cálculos sobre a intensidade na defesa do Impeachment e como ela se articula com a disputa eleitoral, e também as possíveis alianças e disputas em torno de 2022, são constantemente revisadas. A Nota Oficial de Bolsonaro com a ajuda de Temer embaralha novamente as movimentações burguesas em torno do impeachment e do próximo dia 12.

Se o recuo de Bolsonaro confirmar-se no tempo, o retorno meteórico da pauta do impeachment desaparecerá tão rápido como ressurgiu, ficando marcado apenas nos corredores de Brasília como um aviso de opositores nem tão opostos e aliados nem tão próximos para que Bolsonaro se discipline e prossiga com as privatizações e reformas pelas quais foi posto no poder. Não custa lembrar o papel chave do STF para a eleição de Bolsonaro, ao impedir e prender Lula durante a disputa eleitoral em 2018.

O fato é que em maio e junho as manifestações da esquerda concretamente abriram para Lula sua campanha eleitoral, o mesmo ocorreu agora para Bolsonaro. No próximo domingo, o mesmo pode valer para os adeptos da terceira-via no dia 12.

Das preparações do próximo domingo, assim como as manifestações que ocorrerão na prática, podemos esperar que avance o atrasado e desesperado nome para a terceira via do regime golpista? Lula e o PT parecem apostar que não, por isso veem com bons olhos aqueles que lhes golpearam em 2016 como os primeiros a responder a Bolsonaro. Seria maior o desgaste intra burguês e mais força teria seu projeto de estabilização e gestão do regime golpista.

A esquerda do PSTU, PSOL, PCB, UP o que fez nesse cenário? Bastou assistir. Buscar conquistar força, através de uma política que cobre um plano de luta das burocracias sindicais e estudantis , dando exemplo através de um polo anti-burocrático, que desse apoio aguerrido para os trabalhadores em luta, como os da MRV, Carris, da RedeTV e da Sae Towers, não passou e ainda nem passa nem no radar.

Por outro lado, após a demonstração de forças do Bolsonarismo no dia 7, nenhuma mobilização séria da esquerda vem sendo organizada para responder à altura. Entre as direções das organizações da classe trabalhadora e da esquerda - e aí se incluem desde as burocracias como o PT/CUT, PCdoB, PSOL até PSTU e os stalinistas da UP e PCB -, se discute um novo ato só para o dia 2 de outubro. Quase um mês depois do 7 de Setembro. E mobilizações com poder de parar a produção, como seria uma greve geral, nem se discute. Essas organizações não buscam fazer a classe trabalhadora entrar em cena como sujeito social com poder de modificar os rumos da conjuntura política do país.

Derrotar Bolsonaro: qual meio, para qual fim?

Veja mais: Impeachment para entrar Mourão? Precisamos de uma nova Constituinte

A unidade das fileiras da classe operária. Os trabalhadores dos Correios, Eletrobras e Petrobras - atacados pela sanha privatistas de Bolsonaro e os “opositores” do PSDB e do MBL - unidos e expressando sua força com métodos da classe trabalhadora, garantindo um plano de lut através da auto organização nos locais de trabalho, é o ponto de partida para derrotar não só a figura golpista de Bolsonaro. Para derrotar o bolsonarismo, é necessário fazer ajoelhar aquilo que lhe dá força e lhe deu vida: os militares, o agronegócio, as polícias, os bilionários pastores evangélicos; o regime golpista e suas instituições autoritárias que perseguem lutadores, como o Judiciário faz com Galo e ativista sindicais.

Folha de São Paulo se entusiasma com a manifestação burguesa e neoliberal de amanhã. O Globo aproveita para voltar à velha falsa simetria de Lula e Bolsonaro para fortalecer sua terceira via. O Estadão, vendo uma debandada importante de lideranças bolsonaristas e a base desmoralizada, já buscatestar General Mourão em suas manchetes, como presidente interino ou nome para 2022, hipótese que deixa Merval Pereira em êxtase.

A independência de classe, como um princípio para a iniciativa tática, é resultado de décadas de experiência histórica da classe operária, que sempre viu a burguesia atirando em sua nuca para preservar a propriedade privada e sua localização de classe dominante. Tal constatação, contudo, não surge do além na mente das massas brasileiras, que continuam a confiar, por exemplo, que Lula resolva seus problemas através da democracia burguesa.

Defendemos, porém, uma saída que seja oposto pelo vértice da defendida pela sombra interina de Bolsonaro e nome cogitado para terceira via, Mourão. Uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana imposta pela luta da classe trabalhadora, que se unifique com setores oprimidos, como os indígenas que dão exemplo neste momento na batalha contra o Marco Temporal. Que seja colocado em pauta a anulação de todas as reformas impostas desde Temer à Bolsonaro e coloque nas mãos da população eleita pelo sufrágio-universal as decisões para o combate da fome, o desemprego, a dívida pública, etc.

Num regime como este, que alargasse os limites da democracia burguesa até os seus limites, a classe trabalhadora faria sua experiência e tiraria suas conclusões diante da burguesia, partidos e figuras execráveis que hoje se dizem defensores da democracia. Mudariam em 360 graus e recorreriam a todo autoritarismo para defender o capital e a propriedade privada dos meios de produção. Nos escombros dos latifundiários, do capital financeiro, do oficialato golpista e da toga moderadores da ordem burguesa, um governo operário de trabalhadores de ruptura como o capitalismo pode e deve surgir.

 
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