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12 DE SETEMBRO
12S: MBL golpista convoca manifestação para fortalecer a direita que levou Bolsonaro ao poder
Vitória Camargo

Após ajudar a extrema direita a chegar ao poder, os golpistas do MBL (Movimento Brasil Livre), do Vem pra Rua e do Livres estão impulsionando cínicas manifestações "Fora Bolsonaro", pelo impeachment e "em defesa da democracia", para o próximo domingo, 12 de Setembro. Esses atos são expressão das disputas entre alas burguesas no Brasil que, ao final, estão unificadas para fazer a classe trabalhadora e todos os setores oprimidos pagarem pela crise política e econômica. Torna-se ainda mais urgente que as centrais sindicais rompam com sua paralisia e impulsionem um plano de luta para que a classe trabalhadora responda a Bolsonaro, Mourão e todos os ataques, de maneira independente da direita.

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Foto: Divulgação

O chamado do MBL, do Vem pra Rua e do Livres ao dia 12 se insere em um cenário de maiores tensões entre alas da burguesia. Os atos do 7 de Setembro, como uma reação de Bolsonaro às movimentações do regime político contra o governo, como analisamos aqui, buscando fortalecer sua base para ganhar terreno, foram expressivos, mas terminaram por demonstrar debilidades do bolsonarismo. Foram concentrados em São Paulo e Brasília e menores do que o esperado, além de direcionados contra Alexandre de Moraes, do STF. Abriram espaço a uma resposta mais dura por parte do regime, que pode estar se valendo do Inquérito das Fake News para mirar no clã da família Bolsonaro e ameaçá-la. O primeiro resultado foi simbolizado pela carta de recuo de Bolsonaro, articulada junto ao velho "vampirão", o golpista Temer.

O patético retorno de Temer ao centro da cena política brasileira não deixa de ser um signo da possível busca de setores do regime político por disciplinarem Bolsonaro e darem novo protagonismo a velhos golpistas, como o próprio MBL decadente. O 12 de Setembro se insere nesse cenário de disputas burguesas e, embora ainda tenhamos que ver o impacto real desses atos, pode ser uma nova oportunidade da direita e de atores do regime em avançar na política de desgaste de Bolsonaro, com objetivos eleitorais, querendo ganhar espaço nas ruas em disputa por quem dirige o "Fora Bolsonaro".

Além dos convocantes, há confirmações por parte de políticos como João Amoêdo (Novo) e Simone Tebet (MDB), da CPI da Covid, passando por Ciro Gomes (PDT) e Tábata Amaral, chegando a representantes de centrais (com exceção da CUT), do PCdoB e minoritariamente até mesmo do PSOL, com a deputada Isa Penna. Houve especulações até se Doria estaria, após proibir as manifestações da oposição no 7 de Setembro e incentivar o dia 12, mostrando, mais uma vez, como não é nenhum aliado da esquerda e dos trabalhadores.

O cinismo do MBL: com o golpismo de 2016 e os ataques

De conjunto, o cinismo é imenso. O MBL, Movimento Brasil Livre, é um movimento de juventude que tem por trás financiamento de empresa imperialista, como os irmãos Koch, o que já investigamos aqui. Embora agora convoque atos de "branco", para supostamente fugir da "polarização", alçou-se de fato como ator político nos atos "verde e amarelo" de 2015 e 2016, em apoio à Lava Jato, ao golpe de 2016 e à prisão arbitrária de Lula, ajudando a construir o regime que levou Bolsonaro ao poder, em 2018. Além disso, apoiou a campanha bolsonarista nas eleições daquele ano. Assim, já está mais do que provado pela história que seus discursos "pela liberdade" e "em defesa da democracia" não passam de mentiras.

Ao mesmo tempo, segue sendo fiel defensor de todas as reformas escravistas de Bolsonaro e do regime dos golpistas, como a Reforma Trabalhista, da Previdência e as privatizações que atacam direitos da população, como resultado econômico de seu golpismo. Nesta semana, enquanto as mulheres indígenas ocupam Brasília contra Bolsonaro e o Marco Temporal do STF, o MBL seguia como defensor de atacar suas terras, com o PL 490, a serviço do agronegócio e da devastação ambiental.

O mote dos atos "Nem Bolsonaro nem Lula" demonstra que essa direita neoliberal, golpista, fortalecida por instituições como o STF, pelos governadores como Doria e setores do Congresso, corre contra o tempo para tentar se colocar mais fortemente no pleito eleitoral de 2022, sem querer desestabilizar a agenda de ataques. Afinal, enquanto brigam com Bolsonaro por cima, estão unificados contra a classe trabalhadora por baixo.

O programa do Impeachment é continuidade dessa linha para fortalecer o regime

É por isso que, diante desses atos, é preciso desmascarar essa armadilha do regime e defender contundentemente que não é possível enfrentar Bolsonaro, Mourão e os ataques com essa direita golpista, nem confiando nas instituições do golpe de 2016, como faz o programa do Impeachment. Desde o 7 de Setembro, como parte das pressões contra Bolsonaro para que recuasse, siglas como o PSDB de Doria e o PSD de Kassab e Kalil sinalizaram que poderiam aderir ao programa do Impeachment, o que ainda assim não significaria ter maioria no Congresso, mas deu novo ânimo para que setores da direita e da esquerda levantassem mais fortemente esse programa.

Embora até este momento a maioria das figuras da esquerda e das organizações tenham se pronunciado contra a construção dos atos do dia 12, é preciso ver que esse programa do Impeachment é a continuidade dessa linha da direita de desviar o descontentamento popular contra Bolsonaro para as instituições do regime do golpe. Trata-se de pressionar Lira e o Centrão, para que decidam abrir um processo que demoraria meses, dependeria das instituições do golpe e entregaria, se bem-sucedido, o poder a Mourão. Nesse sentido, um programa que, por ora, não está em oposição à linha de desgaste, que quer a direita neoliberal e essa terceira via para as eleições, preservando todos os ataques.

É por isso que, por sua vez, mesmo setores da esquerda que justificam que não estarão no ato, pelo protagonismo aberto da direita, seguem reivindicando a "unidade de ação" com a direita pelo impeachment. O fato é que, desde já, estamos vendo que não é a esquerda e as organizações da classe trabalhadora que se fortalecem com essa "unidade de ação" e com esse programa. Pelo contrário, o próprio MBL já havia ganhado espaço anteriormente pelas mãos da própria esquerda, na entrega do Superpedido de Impeachment, com figuras que foram de Joice Hasselman, Kim Kataguiri a partidos como o PSOL, PCB, PSTU e UP.

Em contrapartida, a classe trabalhadora como sujeito independente, capaz de disputar o descontentamento com Bolsonaro, responder aos ataques que degradam as condições de vida das massas e todas as ameaças autoritárias, segue sendo o grande ausente. A CUT não comparecerá aos atos do dia 12 por motivos eleitorais, já que os atos se delimitam de Lula. Mas também vem abrindo espaço à direita e também à extrema direita, como vimos no 7 de Setembro, quando, apesar da disposição de vários setores que querem enfrentar o governo e do crescente descontentamento popular, os atos bolsonaristas se mostraram superiores à oposição nas ruas. A CUT agora anuncia de maneira abstrata manifestações de servidores contra a Reforma Administrativa, com o objetivo de pressionar parlamentares contra a PEC 32, sendo mais uma oportunidade que conscientemente não constrói para realmente poder barrar os ataques.

Junto às demais centrais e à UNE, a CUT se recusa a organizar qualquer plano de luta sério, nas bases, com assembleias em locais de trabalho e estudo, clamando para que o STF, o Congresso e governadores assumam as rédeas do país, como escreveu. Mais do que isso, vimos nos últimos meses que essa linha termina por deixar todos os que querem enfrentar Bolsonaro seriamente à mercê de interesses alheios, da burguesia, do imperialismo, do regime e seus ataques, como a própria CPI. Nessa linha, sem um plano sério, os atos se arrefeceram e se desgastaram, trabalhando para a desmoralização da base social opositora ao governo, como se a única saída fosse realmente as eleições daqui a mais de um ano.

É por isso que se torna ainda mais urgente exigir das centrais sindicais um plano de luta, construído pela base, para que o protagonismo não seja assumido pela direita golpista e ajustadora. Ao contrário de reivindicar uma "unidade de ação" que termina por fortalecer a própria direita, a frente única operária seria uma tarefa importante da esquerda, que unificasse os trabalhadores pelo fora Bolsonaro, Mourão e militares. Essa força social poderia impor uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana, capaz de responder ao regime de conjunto e, no processo, impulsionar a auto-organização em combate aos interesses capitalistas, para que paguem pela crise.

 
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