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DEBATE
Afronte/Resistência e Lula: à espera de um milagre? (Resposta)
Vitória Camargo

Na última semana, publicamos um artigo em debate com o Afronte (Resistência-PSOL), cujo título era "O Afronte/Resistência (PSOL) está se preparando para entrar no PT?". Nesta segunda, após dias de polêmicas evasivas nas redes sociais, recebemos um artigo em resposta.

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Primeiramente, chama a atenção o impacto causado pelo questionamento presente no título do texto. Da parte da militância do Afronte, não faltaram adjetivos raivosos e ressentidos dirigidos a ele. Questionar (e, vejam, não se tratou nem de afirmar) os rumos de uma organização e seu projeto estratégico foi tratado como "calúnia", "despolitização", "sensacionalismo" e até "stalinismo". Tamanha reação, infelizmente frequente em parte da esquerda brasileira que costuma fugir de polêmicas abertas, nesse caso revelou algo a mais. Mostrou que a pergunta sobre sua possível entrada no PT tocou em uma ferida aberta nessa organização, escancarando o nível da contradição de sua política e de seus rumos estratégicos, não sendo em nada descabido indagar sobre uma possível adesão no futuro. Os argumentos presentes na resposta apenas reforçam isso.

O fato é que o ponto de partida da política do Afronte/Resistência é nada mais do que defender uma unidade eleitoral para 2022 nomeada como "frente de esquerda" e encabeçada por Lula, cujo grande objetivo seria pressioná-lo para que "não repita as alianças do passado e não ceda à direita". Não precisa ser um grande conhecedor da política para responder o óbvio. Como se não fosse suficiente o "passado" de 13 anos administrando o capitalismo brasileiro do PT e fortalecendo os atores mais reacionários do atual regime sem resistir com luta ao golpe institucional, ou mesmo as medidas que toma nos próprios estados que governa hoje, Lula foi ao Nordeste para buscar acordos com caciques e figuras da direita, fundamentalistas e até partidos da extrema direita, como o Republicanos de Carlos Bolsonaro. Sua declaração hoje, a um dia dos atos, apenas confirma isso: pura campanha eleitoral.

Lula já está (há anos) "cedendo à direita", como dizem os que querem fazer parecer que isso não faz parte de seu projeto. O marxismo, se essa corrente ainda o reivindica, passa pela análise concreta da situação concreta, e não pelas vontades e sonhos descabidos, sem base na realidade. E, ainda assim, a grande "pressão" à qual o Afronte se refere para que Lula não concilie nesse caso não passou de uma fotografia feliz, de braços dados, ao Lula no Nordeste... Diga-se de passagem, os artigos supostamente "críticos" que o Esquerda Online publicou sobre Lula nessa viagem, que a resposta nos acusa de ignorar, foram publicados após a abertura desta polêmica em 30 de Agosto.

Mas fazem questão de buscar mostrar que essa "pressão" não se trata de uma ingenuidade atroz. O Afronte responde: "não temos ilusão de que Lula se convencerá de um programa anticapitalista ou que deixará de ser um conciliador de classes. Mas acreditamos que muitos dos trabalhadores e jovens que hoje apostam em Lula contra Bolsonaro podem, sim, abraçar as ideias anticapitalistas e se somar às fileiras revolucionárias". Essa última parte certamente é verdade, mas não com a ajuda da Resistência, que se coloca na retaguarda de qualquer consciência política avançada. Sua lógica, aqui enunciada, é chamar de Frente de Esquerda o apoio eleitoral a Lula, a mais de um ano das eleições, sabendo que este se trata de um "conciliador de classes" com um programa burguês. Não há nisso nada que leve qualquer jovem ou trabalhador a romper com o reformismo para abraçar ideias anticapitalistas e revolucionárias, pelo contrário, há uma organização que se diz anticapitalista rompendo com qualquer traço que reste de defesa da revolução e abraçando a conciliação de classes do PT.

Chegam a dizer que "quanto mais forte a Frente de Esquerda nas lutas, maior a pressão que ela poderá exercer sobre a candidatura de Lula". Isso quer dizer que, mesmo que houvesse uma explosão da luta de classes no país, o máximo horizonte vislumbrado por essa organização seria de novo justamente pressionar Lula? Aqui está a prova cabal de que, para a Resistência e o Afronte, todos os caminhos levam… Às eleições e a Lula e ao PT, não importa o que aconteça. Mesmo que mencione a possibilidade de impeachment, que dependeria de convencer Lira junto com a direita e demoraria meses para entregar o poder ao Mourão, a saída é 2022, nas urnas.

Entretanto, essa "Frente de Esquerda" nas lutas nada mais tem sido do que o seguidismo acrítico às cúpulas das centrais sindicais e da UNE, a portas fechadas, sem base e sem auto-organização, aplaudindo a "unidade", enquanto as verdadeiras lutas de trabalhadores, os focos de resistência em curso, são isoladas e traídas por essas burocracias sindical e estudantil, com a Resistência "unida" a não fazer qualquer diferença nesses processos.

É isso o que tem deixado as ruas livres, a cada mês, para que Bolsonaro queira reorganizar sua base, como no 7 de Setembro, e todos os ataques do regime passem tranquilamente. Nada a ver com a verdadeira frente única operária, com acordos práticos, exigência e denúncia, para a luta de classes, que é a perspectiva para unificar a classe trabalhadora hoje e aí permitir que haja uma experiência com o PT e as direções reformistas, abrindo espaço para que os revolucionários se fortaleçam e mostrem que são os mais consequentes para enfrentar a extrema direita e todos os ataques. Para isso, a Resistência teria de exigir das centrais e denunciar sua atual politica, e não aplaudir essa "unidade" de cúpula como faz sempre que possível.

Veja mais: Enfrentar ameaças golpistas no 7/9 ocupando as ruas com as organizações dos trabalhadores e a esquerda

Afinal, o PT tem se mostrado inofensivo contra nossos inimigos todos os dias. Para o PT, é esse caminho da passividade que pode garantir o desgaste de Bolsonaro e a conciliação com o regime em 2022, com todos os seus ataques. O próprio Afronte é obrigado a admitir que o projeto de Bolsonaro e do golpe de 2016, em qualquer cenário, não será derrotado com as eleições em 2022, afinal há uma franja de massas da extrema direita no país e outros atores golpistas que, apesar dos conflitos por cima, foram favorecidos por Bolsonaro para fazer com que a classe trabalhadora e a juventude paguem. O que, sim, já foi derrotada é qualquer perspectiva de independência de classe por parte dessa organização, para que a classe trabalhadora esteja desde já armada com um programa e estratégia à altura de enfrentar seriamente a extrema direita.

 
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