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Internacional
A luta dos povos indígenas é luta de classes e internacional!
Rosa Linh
Estudante de Relações Internacionais na UnB

Desde a linha de frente contra o Marco Temporal no Brasil, os Comitês de autodefesa indígena na rebelião colombiana, a aliança operária-indígena em Neuquén na Argentina, até a resistência ao golpe na Bolívia. A luta indígena é secular e parte fundamental da luta de classes na América Latina. Ecoam as palavras de Trótski: os mais oprimidos são aqueles que com mais força lutam contra o velho.

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Longe da imagem racista de “preguiçosos que não trabalham” que os capitalistas vendem, os povos originários, oprimidos a mais de 500 anos em toda América, possuem uma história guerreira e de lutas absolutamente inspiradoras.

São séculos de assassinato pelo latifúndio, dos grileiros, madeireiras, garimpeiros e dos capitalistas no geral. A escravização e o genocídio perpetuadas pelo "descobrimento” são resultado da acumulação primitiva de capital, ou seja, a pilhagem, exploração e roubo dos recursos sob trabalho forçado e escravo dos povos originários e dos negros. Foi isso que alçou a burguesia como classe dominante na Europa e, depois, mundialmente com o imperialismo monopolista. Toda essa resistência é marcadamente anti-imperialista, fruto da própria natureza de exploração e expansão desenfreada do capitalismo nas antigas colônias e no que depois se tornaria a periferia do sistema capitalista.

Mas tudo isso nunca aconteceu sem luta. Basta lembrar, no Brasil Colônia, da Guerra Guaranítica (1753-1756): as tribos Guarani pegaram em armas contra as tropas espanholas e portuguesas, como consequência do Tratado de Madrid (1750) que definiu uma linha de demarcação entre o território colonial espanhol e português na América do Sul. Ou os povos guerreiros Guaicuru, como os Cadiuéus, assim como os povos Guarani do Paraguai: ambos lutaram na Guerra do Paraguai para defender suas terras, apesar das traições tanto do escravocrata Império Brasileiro como da elite latifundiária paraguaia.

É essa tradição que compõe a história da luta de classes latino-americana e, até hoje, possui fortes fios de continuidade. Por exemplo, a bandeira wiphala dos povos andinos quéchuas e aimarás é um símbolo histórico de resistência. Não à toa, os golpistas financiados pelo imperialismo a queimaram quando assumiram o poder na Bolívia. A unidade entre camponeses, indígenas e operários foi fundamental na heróica resistência ao golpe de Estado no país, fruto da tradição combativa que, por exemplo, construiu organismos soviéticos na Revolução de 1952.

O povo mapuche no Chile foi protagonista na rebelião de 2019, com sua bandeira se tornando símbolo da revolta contra Piñera e todo o regime político herdeiro da ditadura pinochetista. Em Neuquén, uma província argentina, os trabalhadores da saúde encenaram uma das lutas mais duras da onda de resistência operária no país. Fizeram greves sem o apoio de nenhuma direção sindical, organizaram-se em assembleias e as coordenaram entre hospitais, fizeram marchas com a comunidade e com quase 30 piquetes em toda a província de Neuquén, paralisaram a produção de gás e petróleo em Vaca Muerta por 22 dias. Eles conseguiram isso com uma profunda aliança com as comunidades Mapuche e ao povo das cidades petrolíferas.

Na recente rebelião na Colômbia, a “minga” indígena foi decisiva para combater o governo Duque e suas reformas ultraneoliberais. Um elemento de muita radicalidade foi a conformação da Guarda Indígena, um organismo de autodefesa formado por povos originários da região de Cauca, impulsionada pelo CRIC (Conselho Regional Indígena do Cauca). A Guarda chegou a Cali para apoiar a Greve Nacional e logo foi escolhida como inimiga pública número um do establishment colombiano, da polícia racista e das bandas paramilitares de ultradireita.

Hoje no Brasil, mais de 10 mil indígenas de mais de 100 povos distintos organizaram o acampamento Luta Pela Vida na última semana - a maior mobilização indígena desde 1988 no país. Seu exemplo de combatividade, com o bloqueio de estradas em todas as regiões do país, é histórico e aponta o caminho para barrar o Marco Temporal, mas também todas as reformas e ataques à classe operária e os oprimidos.

É tarefa dos revolucionários tomar com toda solidariedade a luta indígena em suas mãos, atuando na luta de classes para fomentar coordenações entre a luta indígena, estudantil e operária, superando a burocracia sindical e dos movimentos sociais, apostando na auto-organização.

É fundamental defender intransigentemente o direito à autodeterminação de todos os povos originários. Cada povo sabe quais são suas terras, pois as habitam há séculos; onde foram expulsos com massacre e genocídio, onde estão enterrados seus antepassados - não o judiciário, o legislativo ou qualquer instituição dos Estados burgueses latino-americanos, herdeiros escravocratas da opressão colonial e capitalista.

Todos os povos indígenas devem ter seu direito à terra, sem nenhuma burocracia jurídica arbitrária. Isso, evidentemente, se choca frontalmente com os interesses capitalistas, como o agronegócio. Por isso, é preciso uma forte aliança com a classe operária, na qual se defenda a reforma agrária radical, com a nacionalização do solo e a expropriação de todo latifúndio sem indenização. Só os trabalhadores enquanto classe podem levar até o final as demandas democráticas que as burguesias nacionais atrasadas e capachas do imperialismo nunca fizeram. Apenas com a derrubada revolucionária do capitalismo é que se poderá garantir todos os mínimos direitos democráticos dos povos indígenas e pavimentar o caminho para uma sociedade em harmonia com a natureza, sem exploração e opressão, que valha a pena ser vivida. A luta indígena é luta de classes e é internacional; é um componente fundamental para pensarmos como avançar a revolução socialista em toda a América Latina, rumo a conformação de uma União de Repúblicas Socialistas Latino-americanas.

Afinal, como dizia Leon Trótski: “aquelas que lutam com mais energia e constantemente pelo novo são as que mais sofrem com o velho

 
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