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PSDB em crise
FHC declara apoio à candidatura de Doria, mas mira em rearticulação interna do ninho tucano
Willian Garcia

Em crise desde as eleições presidenciais de 2018, em que obteve pouco mais de 4% dos votos, agora o PSDB se prepara para novas eleições buscando se apresentar como “terceira via”. No entanto, suas divisões internas são a primeira dificuldade a ser superada.

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FOTO: RENATO S. CERQUEIRA/FUTURA PRESS/ESTADÃO

As últimas pesquisas eleitorais ao governo de São Paulo apontam Geraldo Alckmin como candidato favorito para retornar ao Palácio dos Bandeirantes, que já declarou que irá deixar o PSDB. Em outras posições, aparecem Fernando Haddad, Guilherme Boulos, Márcio França e, na lanterninha, Rodrigo Garcia, sucessor de Doria.

A nível nacional, Doria vai mal nas pesquisas a pouco mais de um ano da eleição. Espremido entre Lula e Bolsonaro, o governador de São Paulo dá sinais de que pode repetir o desastroso resultado de Alckmin em 2018, amargando quarta ou até quinta posição em votos. Um pesadelo para os tucanos que se acostumaram em décadas de polarização com os petistas no segundo turno.

O desafio de Doria, além de emergir como “terceira via” à presidência, é garantir a eleição de Rodrigo Garcia no estado, até mesmo contra Alckmin, que pensa em sair do PSDB e aderir ao PDS de Gilberto Kassab, ex-prefeito de São Paulo. Inconciliáveis, Doria e Alckmin devem se enfrentar para decidir quem será o próximo a atacar os trabalhadores paulistas.

Por ora, Doria segue atuando para fortalecer seu governo de ataques em São Paulo e deve usá-lo como exemplo de projeto para o Brasil, e é nesse sentido que Rodrigo Maia acaba de integrar o governo, tendo a privatização da Sabesp como primeira promessa à frente da Secretaria de Projetos e Ações Estratégicas do estado.

Um passado recente de golpismo e traições internas

As divisões internas do PSDB não são de hoje. Ainda em 2014 e 2015, quando o partido nacionalmente chegou muito próximo de derrotar o PT nas eleições presidenciais, Aécio Neves fez seu primeiro ensaio golpista ante a vitória de Dilma Rousseff, questionando o resultado das urnas eletrônicas (com argumentos muito semelhantes aos de Bolsonaro hoje). Um pouco mais tarde, em 2016, acontece o golpe institucional e o PSDB passa a integrar o impopular governo de Michel Temer.

Naquela época, o PSDB se preparava para retomar a prefeitura de São Paulo, bastião histórico do tucano. Com Alckmin no governo do estado e sem um nome forte para a capital, foi então que os tucanos lançaram mão da candidatura de João Doria, uma figura midiática e com discurso de “bom gestor” contra a prefeitura de Fernando Haddad. No entanto, Doria não se deu por satisfeito com a prefeitura.

Em 2018, Doria se lança pré-candidato ao governo de São Paulo, contrariando Alckmin, que tinha como seu sucessor no estado Márcio França do PSB. Alckmin vai às eleições presidenciais e termina com sua candidatura completamente desidratada frente ao fenômeno de Bolsonaro, que ocupa o espaço à direita. Doria, com uma oportunismo eleitoral que lhe é característico, se cola no discurso de extrema-direita de Bolsonaro antes mesmo do segundo turno, lançando o famoso “BolsoDoria”. Se elege governador em um segundo turno apertado e com o PSDB já em profunda crise.

A última alternativa de FHC

Mais uma vez dividido internamente, o PSDB agora vai às prévias para definir seu candidato à presidência da república. Disputando contra o governador Eduardo Leite (RS), o senador Jereissati (CE) e o ex-senador Vírgilio (AM), essa semana Doria recebeu o apoio de FHC à sua candidatura. Um apoio de peso, sem dúvidas, mas que pode significar uma reconfiguração no ninho tucano.

FHC está entre os mais tradicionais dos tucanos, assim como Serra e Alckmin. Longe de estar entre os mais simpáticos a Doria, busca garantir a reeleição de Leite como governador, preservando outro bastião tucano, como também evitar que Doria mantenha sua hegemonia em São Paulo por mais tempo.

O ex-presidente tucano já manifestou que em um segundo turno entre Bolsonaro e Lula, varia em Lula sem pensar duas vezes. Até encontro realizou com o ex-presidente petista recentemente. Para FHC pode ser interessante que Doria renuncie à disputa do governo de São Paulo e busque à presidência em um cenário de extrema polarização, pelo menos por hoje, entre Lula e Bolsonaro, em que há pouquíssimo espaço para a chamada terceira via. Hoje, Doria busca se alçar como “pai da vacina”, mas não tem emplacado nem mesmo em São Paulo, segundo as pesquisas, e muito menos nacionalmente.

Talvez o que se vislumbre na cabeça do ex-presidente tucano, é a possibilidade de Alckmin voltar ao governo de SP, dentro ou fora do PSDB, mas ainda pertencente fiel aos seus antigos correligionários. Sem eleger Rodrigo Garcia (recém ingresso no PSDB, ex-DEM) em São Paulo, e fazendo uma péssima campanha a nível nacional, Doria perderia força internamente. Com Doria debilitado, cresce o espaço para a reorganização dos tucanos tradicionais. Uma saída que deve custar o governo de São Paulo, o que seria caríssimo ao tucanato. No entanto, sem conseguir ter um nome forte nacionalmente, não restam muitas opções para um partido que apostou no golpismo em 2016 para encurtar sua chegada ao executivo, mas após isso só viu ele cada vez mais distante.

Como uma feiticeiro que já não pode controlar os poderes que despertou, o PSDB viu diversos setores da burguesia brasileira optando por uma alternativa à direita muito mais radical que o seu projeto. A crise da “terceira via” permanecerá, e não parece ter fácil solução.

 
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