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Estados Unidos
A derrocada no Afeganistão e a primeira grande crise de Biden
Jimena Vergara

Em seu discurso nesta segunda-feira, Biden teve que reconhecer a verdade que mostram as dramática imagens em Cabul, a derrota daGuerra contra o Terrorismo, o último projeto hegemônico do imperialismo ianque.

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FOTO: EFE/EPA/SHAWN THEW

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ofereceu na segunda-feira um discurso fervoroso justificando sua decisão de retirar as forças armadas norte-americanas do Afeganistão para terminar com o conflito bélico mais extenso da história dos Estados Unidos.

Isso se deu em meio a críticas de setores de ambos partidos do regime, que opinam que a decisão é um duro golpe na credibilidade e no poderio estadunidense a nível global. Só ontem, dezenas de vídeos do aeroporto de Cabul tomado por uma multidão buscando fugir do país comoveram a opinião pública internacional, que viu com assombro os talibanes tomarem o controle da capital em menos de uma semana.

A retirada apressada e a rápida queda de Cabul selaram a derrota da guerra contra o Terrorismo, o último projeto hegemônico que o imperialismo ianque encarou após 2001, pelas mãos do republicano George W Bush.

Ao anunciar a operação “Liberdade Duradoura”, o então presidente prometeu que, além de lutar contra os terroristas, os Estados Unidos entregariam alimentos, remédios e suprimentos básicos, e destacou que “o povo oprimido do Afeganistão” reconheceria o que ele chamou de a generosidade dos Estados Unidos.

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Biden, apesar de ter recebido uma onda de críticas de amigos e desconhecidos, se manteve firme em sua decisão de pôr fim à guerra e repudiou as críticas de aliados e adversários sobre os acontecimentos do fim de semana:

A decisão que tive que fazer como seu presidente foi a de seguir o acordo de redução de nossas forças”, disse Biden, “ou escalar e enviar mais milhares de tropas estadunidenses de volta ao combate e avançar para a terceira década de conflito”.

Biden teve que reconhecer a verdade que mostram as dramáticas imagens em Cabul: uma luta frenética para evacuar a embaixada norte-americana diante do avanço dos combatentes talibãs, que lembrou obscuras analogias com a retirada de Saigon ao final da guerra do Vietnã.

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Porém, se justificou dizendo que a Casa Branca havia planejado a possibilidade de uma tomada rápida por parte do Talibã, e expressou seu orgulho pelo fato os diplomatas e outros norte-americanos terem sido evacuados. Também disse que, se a situação piorasse, o aeroporto estaria em processo de ser assegurado por milhares de tropas norte-americanas.

Talvez o mais chocante do discurso tenha sido quando culpou o ascenso do Talibã à incapacidade dos líderes militares e políticos do país para defenderem a si mesmos:

Os líderes políticos afegãos se renderam e afundaram o país”, disse, e acusou os militares de terem deposto as armas após duas décadas de treinamento pelos estadunidenses e centenas de bilhões de dólares em equipamentos e recursos investidos por parte dos Estados Unidos.

Mas não se pode tapar o Sol com um dedo. Os Estados Unidos foi derrotado e humilhado pelo Talibã e o mundo viu essa derrota “em tempo real”, comprimindo em cinco dias a tragédia de duas décadas do povo afegão.

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Além disso, a declaração do atual presidente de que o plano nunca foi “construir uma nação” dá por terra com a ficção de que a invasão ao Afeganistão foi para terminar com o terrorismo e “levar a democracia”. Isso é ainda pior considerando que Biden votou em 2001 a favor da resolução que permitiu a invasão por Bush.

Até mesmo Obama, que foi eleito sob a promessa de terminar com as guerras do Iraque e do Afeganistão, e de quem Biden foi vice-presidente, aumentou o envio de tropas no Oriente Médio com o objetivo de sufocar a insurgência talibã e fortalecer as instituições afegãs.

O impacto político do colapso do governo afegão - um governo fantoche dos Estados Unidos e com baixa legitimidade - no final de semana parece ter tomado a Casa Branca de surpresa, reagindo de maneira tardia diante das críticas de democratas, republicanos e do próprio Donald Trump.

O senador Mitch McConnell, chefe da minoria republicana no Senado, qualificou de “colapso monumental” o que aconteceu no Afeganistão, e disse que a responsabilidade recai diretamente no atual presidente.

Seth Moulton, legislador democrata e ex-capitão da marinha, disse que a administração havia cometido “não só um erro de segurança nacional, como também um erro político”. “Há meses peço ao governo um plano de evacuação de refugiados” disse o congressista democrata de Massachusetts. “Fui muito explícito: precisamos de um plano. Precisamos de alguém responsável. Sinceramente, no entanto não vimos o plano”.

Por sua vez, Donald Trump, que orquestrou a negociação com o Talibã para a retirada das tropas, disse que: “O resultado no Afeganistão, incluindo a retirada, teria sido totalmente diferente se a administração Trump estivesse no cargo. Para quem ou para quê Joe Biden vai se render agora? Alguém deveria perguntá-lo, se conseguir o encontrar”.

Para além de como Trump, os republicanos ou Biden capitalizem o impacto político da crise criada pela situação no Afeganistão (que hoje parece ser desfavorável ao primeiro mandatário), a realidade é que Biden não fez mais que executar a agenda de Trump.

O discurso de hoje, onde insistiu dezenas de vezes em que a permanência no Afeganistão não é do interesse da segurança nacional dos Estados Unidos e que não vai pedir aos norte-americanos para morrerem lutando as guerras civis dos outros, poderia ter sido dado pelo próprio Donald Trump, mas com muito mais pimenta.

O que ninguém fala, seja republicano ou democrata, é que, após 20 anos de ocupação imperialista com apoio bipartidário, deixaram para trás um país devastado, que agora resta sob o controle do terror do Talibã. Os EUA é o principal responsável pelos crimes de guerra cometidos nesses 20 anos. Mais ao fim, Biden reconheceu em frases breves as razões estratégicas da retirada: permanecer no Afeganistão implicava em desviar recursos de seu interesse mais estratégico que é o confronto crescente com a China.

Nada parece muito estável para esse governo em matéria de geopolítica para o futuro.

 
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