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Coluna
A cortina de fumaça que cobriu Brasília
Thiago Flamé
São Paulo

Grotesco, ridículo, cômico. Foram alguns dos adjetivos usados para descrever o insólito desfile militar protagonizado pela Marinha, em apoio ao governo Bolsonaro. Pode-se dizer que todo o país ficou surpreendido com a fraqueza dos equipamentos blindados da Marinha. Com certeza não os almirantes. Mas então por que encheram os céus de Brasília com a fumaça preta de máquinas tão arcaicas como a mente dos chefes militares?

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A fumaça é um bom símbolo do desfile bolsonarista, esse militarismo tabajara, que se encaixa tão nos memes dos trapalhões e corridas malucas. Nesta terça se cobriram de ridículo, para cobrir, nem que fosse numa avalanche de risadas e escarnio geral, suas variadas intenções e as consequências desse ato, que serão muito mais profundas e duradouras do que a humilhação momentânea. Tracemos algumas hipóteses sobre o que a Marinha buscou disfarçar atrás de tanta fumaça.

O movimento geral de Bolsonaro foi bem evidente e, até agora, bem sucedido. Respondeu a CPI com a ofensiva do voto impresso, precedida pela defesa incondicional que fizeram de Pazuello numa demonstração unificada das três forças com Bolsonaro contra a CPI, seguida pela declaração cínica do brigadeiro Carlos de Almeida, que ao dizer que homem armado não blefa abriu a temporada dos blefes militares. Com o desfile cômico, protegidos pelo ridículo, se avançou mais um degrau importante de militarização da política, ou de politização das forças armadas. A resposta contundente que a imprensa esperava do Congresso não veio. Bolsonaro perdeu a emenda do voto impresso, mas obteve uma inesperada maioria simples.

Mas a atividade do Congresso nesses dias de fanfarronada militar esteve a todo vapor. Foi aprovada a nova reforma trabalhista, da carteira verde amarela, que retira definitivamente todos os direitos trabalhistas para a juventude e todos que “aderirem” a essa novidade. E meterem ainda vários “jubutis”, ataques a várias categorias embutidos dentro dessa nova reforma trabalhista aprovada de forma tão sorrateira. Enquanto riamos das capacidades militares daqueles que nos ameaçam com algum tipo de golpe, seus apoiadores no Congresso avançaram legalmente num enorme golpe contra nossos direitos e seguem com as privatizações e outros ataques em troca de verbas, secretas ou não.

Nessas hipóteses então essa ação teria um duplo sentido no qual governo e comandos militares convergiram, e inclusive parte do parlamento. Num sentido mais profundo e estratégico, avançar um passo a mais na direção de um regime político mais bonapartista, mais autoritário, mais militar, uma forma de tentar conter, na base da força, as mobilizações e protestos que tendem a surgir em algum momento. Num sentido político mais imediato tirar os holofotes do Congresso, da CPI e dos ataques aos direitos trabalhistas.

Na imprensa circularam rumores de que o Alto Comando do exército não gostou do desfile de terça. Esses rumores em geral se parecem mais com mentiras plantadas em função de fazer parecer sempre que existe uma maioria no Alto Comando que não apoia esses generais ministros. Não confiamos nada nesses rumores, muito menos nessa suposta maioria. Todo o Alto Comando é cúmplice de Pazuello e de Ramos e de Braga Netto e compartilham responsabilidade por Pazuello e pelas 600 mil mortes.

Esse curso de uma participação cada vez mais ativa dos militares na política, cujo desfile desta terça foi mais um marco, conquistando posições para além do governo, na administração publica, nas empresas estatais e em várias instituições, só será revertido com mobilizações radicalizadas que questionem o conjunto do regime do golpe institucional.

 
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