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Bolívia
O governo de Arce na Bolívia diante da primeira ofensiva da Direita
Javo Ferreira, La Paz

Os setores de direita do Conade (Comitê Nacional de Defesa da Democracia), além de setores civis se mobilizaram enquanto o governo do MAS deposita confiança e embeleza as instituições armadas que massacraram a população em novembro de 2019. Os trabalhadores e o povo devem discutir como enfrentar a direita sem depositar nenhuma confiança naqueles que os massacraram ou fugiram e negociaram com a direita.

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Na cidade de Santa Cruz, houveram mobilizações nesta quinta-feira, 5 de agosto, às 18 horas. Foi realizada uma concentração, em repúdio ao encerramento do processo que buscava dizer que as eleições haviam sido fraudadas, contra o processo “Golpe de Estado” que busca responsabilizar os golpistas de 2019 e exigindo a liberdade desses mesmos golpistas detidos. Na cidade de La Paz, o CONADE também convocou uma mobilização nesta quinta-feira, pelos mesmos motivos, convocando todos os setores que incentivaram o golpe de 2019.

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Esta primeira mobilização da direita é parte de uma tentativa de aumentar progressivamente a pressão nas ruas, assim como é o bloqueio de estradas na região da Chiquitania, previsto para a próxima segunda-feira, 9 de agosto. Este bloqueio de estradas surge depois que os comitês cívicos regionais tomam esta medida de força por consequência da morte de Lino Peña, morto em um conflito por terras.

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Durante a Assembleia em Santa Cruz, o Presidente Luis Arce, na cidade de San Julián, anunciou a entrega, para as comunidades indígenas, de 26 mil títulos de propriedade em diversos departamentos do país, aumentando a ira da direita. O governador direitista de Santa Cruz, Luis Fernando Camacho, considerou este anúncio uma provocação e anunciou que resistirá a esta distribuição do governo de Arce. Em declarações à imprensa, afirmou que Arce “está provocando o povo de Santa Cruz mais uma vez, é provocador porque sabemos muito bem que estas doações de terras trazem conflitos, dores, lágrimas à família, luto como vimos no caso do Sr. Lino Peña ”. Posteriormente, Camacho ameaçou “defender as terras de Santa Cruz”, e disse que apoiaria todas as manifestações e medidas do comitê cívico.

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Diante das manifestações de direita tendendo a reagrupar forças e gradativamente ganhar capacidade de mobilização, algumas organizações vinculadas ao MAS e agrupadas no chamado Pacto de Unidade, declararam que defenderão o Governo de Arce e que não permitirão a desestabilização do Governo eleito pelo voto popular. Nesse sentido, os burocratas da COB (Central Obrera Boliviana) resolveram se declarar em "estado de emergência" diante de qualquer nova tentativa de golpe. Essas declarações não vêm acompanhadas de resoluções concretas, além disso, se contrastam com as declarações que o governo do MAS vem dando através de suas principais figuras.

Arce e o ministro do Governo Del Castillo pedem um voto de confiança nos golpistas de novembro

Enquanto a tensão aumenta com os anúncios da direita, na quarta-feira, 4 de agosto, o presidente Luis Arce, durante a posse do general Hugo Arandia como comandante do exército, afirmou que “O governo nacional é verdadeiramente grato ao Alto Comando Militar por ter ajudado e contribuído prestando as informações solicitadas pelas autoridades competentes nas investigações do golpe de estado e do governo de 2019 e 2020. A população vai valorizar estas atitudes patrióticas dos nossos militares em serviço ” . Com estas declarações, como durante o governo de Evo Morales, o MAS volta a confiar nas mesmas instituições que deram o Golpe de Estado e realizaram os massacres de Sacaba, Senkata, Ovejuyo e El Pedregal.

Na mesma linha de embelezar essas instituições repressivas do Estado, o Ministro de Governo, o “Guevarista” Eduardo Del Castillo, assumiu o cargo em um momento em que uma lei de promoção dos policiais estava sendo discutida na Assembleia Legislativa Plurinacional. Del Castillo, no dia 4 de abril, em Cochabamba, afirmou que “Agora a nossa polícia voltou para onde pertencia, ao seu povo, está se reconciliando, agora a nossa sociedade se sente mais protegida com a polícia, e isso é um passo fundamental para reconciliar a Bolívia ”.

Nesse sentido, as concessões do governo à polícia começaram com a recém-aprovada lei de promoção policial, que modifica a estrutura de comando que permite aos policiais de base iniciarem suas carreiras na patente de sargento. A lei incorpora o Ministro do Governo como parte do comando da polícia, buscando estabelecer um maior controle e disciplina da instituição, bem como um sistema de consultas aos suboficiais. Com essas concessões, os guevaristas do ministério do governo acreditam que podem controlar essas instituições anti-trabalhadoras, antipopulares e, como mostrou 2019, profundamente racistas. Eles se recusam a tirar qualquer ensinamento acerca do que aconteceu durante o golpe, talvez devido ao fato de que os dirigentes do MAS se encontravam seguros enquanto os trabalhadores e o povo estavam nas ruas sendo vítimas dessas instituições.

Esta política apoiada pelos dirigentes do MAS é uma continuação da realizada por Evo Morales e García Linera durante seus 14 anos de governo, que, como vimos em novembro de 2019, não se mostraram "eficientes".

Durante os 14 anos no Governo os dirigentes do MAS envernizaram as Forças Armadas como se fossem "antiimperialistas", venderam ao povo a ideia de que essas instituições reacionárias, hoje do Estado Plurinacional, eram instituições do povo e que a história dos massacres ocorridos durante a república e durante o ciclo nacionalista eram situações completamente distintas do presente. Com toda aquela propaganda, os trabalhadores e o povo ficaram surpresos em 2019 ao ver como os militares e policiais “anti-imperialistas” passaram a colaborar com as gangues paramilitares do RJK, UJC e outros para posteriormente prender e torturar centenas de pessoas em El Alto e consumar o golpe com os massacres de novembro. Tudo isso aconteceu enquanto funcionários do MAS e parlamentares negociavam a governabilidade com Áñez e os conspiradores do golpe, abandonando a resistência das ruas até o mês de agosto, quando a rebelião pôs um limite ao golpismo.

Organizar e preparar a mobilização independente contra a direita

Diversas organizações sindicais e sociais têm afirmado por meio dos burocratas que os lideram que "desta vez" não permitirão novas tentativas de golpe, porém nada fizeram para preparar e organizar os trabalhadores diante dos novos motins direitistas.

É urgente exigir e impor em cada sindicato, conselho de bairro, no movimento estudantil e em outras organizações sindicais e sociais, um plano de mobilização unificado contra ameaças do CONADE, de grupos e plataformas cívicas ou gangues paramilitares. Não depositar nem um pingo de confiança nas instituições repressivas que parecem seduzir apenas os dirigentes do MAS, que, como já sabemos, são os primeiros a evitar o confronto não só com a direita mas com as classes dirigentes que as financiam, como os agroindustriais. Vamos seguir o exemplo de Senkata ou Kara Kara, que mostraram a vontade de resistir ao golpe confiando apenas em suas próprias forças e em sua própria auto-organização independente. Se esses exemplos se espalharem por toda a Bolívia, a derrota do golpismo e dos conciliadores permitirá começar a discutir como abrir caminho para um Governo dos trabalhadores e do povo.

 
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