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Centrão e Governo
Ciro Nogueira na Casa Civil e o alto preço que Bolsonaro paga em busca de sustentação
Willian Garcia

Desde as eleições da presidência da Câmara nós do Esquerda Diário viemos analisando que Bolsonaro havia tido uma vitória pírrica com Arthur Lira (PP) contra Baleia Rossi (MDB). Isto é, uma vitória que cobraria um alto preço. Bolsonaro se apoiou no centrão para garantir blindagem na presidência. Mas o fato é que o centrão cobra sempre em dobro, e a conta chega todo mês.

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Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo

Primeiro, Bolsonaro precisou fazer uma reforma ministerial e reequilibrar as forças dentro do governo entre militares e centrão, colocando Flávia Arruda (PL) na Secretaria do Governo como forma de atender aos interesses do centrão por maior espaço, mas também para estreitar a articulação governista dentro da Câmara.

Agora Bolsonaro precisa mais uma vez reequilibrar as forças, pois se é verdade que conquistou margem de manobra dentro da Câmara com Lira, Flávia Arruda e o conjunto do centrão, o mesmo não se pode dizer sobre o Senado, onde vários de seus projetos estão parados e tem sofrido desgaste com a CPI da COVID, ainda que conte com a blindagem de Rodrigo Pacheco (DEM). Por esse motivo, também, Bolsonaro tirou da Casa Civil o general Luiz Eduardo Ramos, que afirmou que foi pego de surpresa com a decisão, e colocou no lugar Ciro Nogueira (PP).

Ciro Nogueira é tão ou mais poderoso que Lira dentro do PP. Trata-se de um velho cacique do centrão, cuja família está na política desde 1930. Um político que viu sua fortuna saltar de R$ 2 milhões para R$ 23 milhões em oito anos de Senado, entre os anos de 2010 a 2018. É um nome forte e de tradição do centrão e que já esteve na base aliada de variados governos, inclusive nos petistas. Ciro Nogueira em 2018 chegou até a chamar Bolsonaro de fascista e dizer que votaria em Lula, faz isso como um membro genuíno do centrão que muda de lado de acordo com as cifras que lhe são oferecidas. Agora, entra para fazer parte do corpo de ministros de Bolsonaro.

Uma nova mini-reforma ministerial visando as eleições de 2022

Com a nova reforma ministerial, Ramos deve ir para a Secretaria-Geral, que hoje é ocupada por Onyx Lorenzoni (DEM), nome de confiança de Bolsonaro. Para que Onyx não fique de fora, Bolsonaro deve recriar o Ministério do Trabalho, que hoje tem status de pasta no ministério de Paulo Guedes. Com essa reformulação, Ramos perde poder saindo da Casa Civil, o que pode gerar incômodo entre os militares, e que alguns analistas afirmam que pode representar uma disputa entre esses setores, mas que para Bolsonaro é um preço a se pagar buscando garantir a unidade com esse que é o partido mais poderoso do centrão hoje, o PP.

Trazendo um partido chave do centrão para dentro do governo, Bolsonaro pode garantir com maior facilidade a aprovação da verba para o novo Bolsa Família como sua grande aposta em reverter a queda de popularidade do governo, e ter alguma esperança em se recompor tendo em vista as atuais pesquisas de popularidade e intenções de voto. No entanto, o próprio Ciro Nogueira já disse que as pesquisas eleitorais de hoje ainda dizem pouco de 2022 e que há de esperar o impacto que a nova medida social pode ter no país, e em especial entre os mais pobres.

No entanto, Bolsonaro e centrão não são uma sinergia isenta de contradições, ao contrário. O próprio tema do voto impresso, que voltou a ser usado para amparar ameaças golpistas, agora por parte de Braga Netto, voltou a ser rechaçado por ACM Neto do DEM, que até então se configura entre um dos aliados que Bolsonaro buscava ter.

O fundamental é que a nova “dança das cadeiras” no governo tem a ver com a urgência de estancar uma crise de popularidade que vem se agravando com a pandemia e a fome no país, e mais ainda com os sucessivos escândalos de corrupção que golpeiam o planalto. Sem isso, sem garantir relativa fidelidade do centrão às pautas do governo, Bolsonaro tem pouca margem de manobra para superar a crise. O que há de se analisar daqui para frente é o quanto Bolsonaro consegue seguir comprando setores do fisiologismo e ainda assim seguir mantendo seu discurso de rejeição à velha política representada, melhor do que ninguém, pelo centrão. Como ele mesmo disse, ele veio do centrão, e a necessidade de se reencontrar com seus progenitores é um sinal de maior debilitamento do governo, expresso em sua busca de conquistar aliados a todo custo.

 
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