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COLUNA
Nos comandos militares, são todos Pazuellos
Thiago Flamé
São Paulo

O presidente da CPI, o senador Omar Aziz atacou a o que chamou “a banda podre” das forças armadas. Não queria, mas atingiu em cheio a honra dos ministros generais, dos comandantes das três forças, e os generais de pijama, governistas ou oposicionistas. Para defender os ladrões de vacina os comandantes militares protagonizaram a maior incursão militar na política desde o fim da ditadura.

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Foto: Reprodução / Facebook

Uma declaração conjunta dos chefes militares, acompanhada pela declaração de vários generais da reserva, pela entrevista do Brigadeiro que comanda a Aeronáutica e pelo tuite do Almirante em chefe. Bradaram em defesa da ordem e das instituições e ameaçaram implicitamente com a utilização do art. 142 da Constituição, aquele que dá brecha para a intervenção militar a pedido do presidente em caso de risco de ruptura da ordem institucional. E tudo isso para que? Para defender além de vários coronéis, um general envolvido nos escândalos de corrupção na área da saúde, sócios de várias empresas de logística da região amazônica e cuja família é suspeita de ligações com o crime organizado e milícias locais. São todos Pazuellos.

A reação das “instituições” foi débil, capituladora. Responderam com discursos enérgicos uma intromissão que, no mínimo, valeria a perda do comando, a ida para a reserva, quando não a prisão do brigadeiro que ameaçou o senador. Mas desde o golpe de 2016 que até mesmo a democracia restringida e tutelada, concedida em 1988 a contragosto e no calor do ascenso operário, está sendo pisoteada. Em 2018, quando outro comandante, o Villas Boas, até então tido como legalista, tuitou para pressionar o STF, os militares ainda estavam atuando nos bastidores, em apoio a ofensiva golpista da lava-jato em conluio com os funcionários do estado norte-americano.

Essa intromissão do estado maior das forças armadas, a fraca resposta do Senado e do STF, a tentativa de pacto frustrada pela internação de Bolsonaro, mostram que um novo deslocamento está em curso entre as instituições golpistas. O bonapartismo militar, que no golpe de 2016 atuou nas sombras para reforçar o bonapartismo judiciário, assumiu agora sem reservas e disfarces o papel do primeiro violino do autoritarismo. Inclusive enquanto escrevemos estas linhas, com Bolsonaro internado e Mourão de viagem para Angola, quem detêm de fato o poder, isso é, que manda para além dos protocolos na presidência são os três generais bolsonaristas, Braga Netto, Ramos e Heleno.

Por trás das disputas políticas entre a CPI, o STF e Bolsonaro e os militares, atuam os interesses dos setores empresariais brasileiros e da administração Biden. Os EUA pressionam o governo, não querer um aliado de Trump com na presidência do Brasil, mas ao mesmo tempo vendo a situação no Chile, Colômbia e Peru, não querem golpear demasiado as forças armadas brasileiras, um dos maiores polos da reação continental e uma das forças aliadas com que conta para conter a penetração chinesa na América do Sul.

Em meio a essas divisões e disputas estamos observando o aumento crescente da tutela militar sobre o regime político, que podem ter vários desdobramentos. Esses desdobramentos, por ora, não passam de hipóteses, e devem continuar sendo analisados à luz da correlação de forças entre as classes. Um afastamento por saúde de Bolsonaro colocaria os militares no comando, mas até mesmo uma instabilidade causada pelas forças policiais e grupos de choque bolsonaristas, em 2022 ou antes, a depender do resultado da CPI, poderia ser a deixa para a entrada dos militares em cena com o artigo 142 para “garantir a ordem” com o pretexto declarado de repelir a extrema direita, mas na realidade ampliando sua tutela sobre o próximo presidente, seja ele qual for, sobre o congresso e sobre todas as forças políticas e sociais. Um arranjo que poderia estar bem ao gosto dos imperialismos e do governo Biden, uma presidência Lula fortemente limitada pela tutela militar ativa.

O PT, que brada nas redes a necessidade de unidade até com a direita neoliberal, não fez um chamado sequer para mobilização frente a escalada na retórica militar da última semana. UNE, CUT, CTB e todas as organizações do campo petista permanecem passivas, enquanto Lula mais uma vez fez gestos de conciliação para os generais.

Não há volta atrás para as reformas neoliberais já aplicadas, não há meio de barrar as privatizações e de derrubar Bolsonaro e arrancar os militares da política, punindo os torturadores e golpistas de ontem e de hoje, sem uma enorme mobilização e uma greve geral que coloque a força da classe trabalhadora em movimento, e sem que possamos debater o conjunto dos problemas do país através de uma Constituinte imposta pela mobilização, que seja essa sim livre e soberana e não tutelada como a de 88.

 
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