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OPINIÃO
O que pretende o Estadão ao bradar por impeachment? Resposta ao editorial
Vanessa Dias
Yuri Capadócia
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Foto por: Sergio Camargo Poder360

Em editorial do Estadão desse domingo, 11, o jornal assume postura de exigência a Arthur Lira o impeachment de Bolsonaro. O mesmo jornal que clamou em praticamente todas as políticas econômicas de Paulo Guedes, em consonância com Bolsonaro, hoje cinicamente adota o posto de “oposição”, junto a setores da direita tradicional e até de alguns “órfãos” da extrema-direita.

Segundo o editorial, a recente postura de ameaça às eleições presidenciais de 2022 caso não haja voto impresso, demonstra que “o presidente Jair Bolsonaro não reúne mais as condições para permanecer no cargo”, como se algum dia tivesse sido digno de comandar o país. A afronta às eleições de 2022 é mais um dos vários crimes de responsabilidade que, na democracia burguesa degradada, é só mais um dos broches que enfeitam os ternos de Bolsonaro, e que não servem a outra coisa senão servir como matéria-prima para a produção editorial dos jornais de “oposição” que ainda ontem apoiavam o governo.

É certo que Bolsonaro está no centro da condução de uma das maiores catástrofes sanitárias do século, no Brasil e no mundo, e que a CPI apenas trouxe luz àquilo que era óbvio a quem fosse capaz de abrir os olhos. Mas é no mínimo curioso que o jornal que em 2016 fez coro com os ataques mais frontais ao regime democrático e à Constituição de 88 com o impeachment de Dilma e as posteriores violações nas eleições de 2018 esteja hoje preocupado com o Brasil e com os direitos conquistados sob o “regime democrático que os brasileiros reconquistaram não sem grande sacrifício”.

O Estadão bem sabe que a crise política instaurada no país não é fruto do governo de Bolsonaro, somente. O nível de degradação que as instituições políticas vieram tendo nos últimos anos, particularmente desde o golpe institucional, ora ganhando contornos de crise de Estado mais ou menos explícitos, configuram uma República com cada vez mais elementos degradados. Nela, ganhou peso o bonapartismo de diferentes atores sem voto, como o Judiciário, que foi o protagonista do golpe institucional, e as próprias Forças Armadas, presente em cada Ministério, cada estatal, cada órgão, com maior número de militares da ativa no governo desde a redemocratização.

Como de praxe na mídia burguesa, o editorial finge surpresa com o golpismo das FA cujos comandantes das três armas junto com o ministro da Defesa, Braga Neto, assinaram uma nota repreendendo as afirmações de Omar Aziz, presidente da CPI, que constatou o óbvio - que os militares estão envolvidos até o pescoço nos esquemas de corrupção desse governo. Da impunidade a Pazuello à mais essa nota golpista, as FA seguem reafirmando que estão empenhadas em dar sustentação a Bolsonaro, ainda assim a mídia burguesa tal como o Estadão, e também a esquerda institucional, seguem apelando ao "bom senso" dos militares.

O que pretende, então, o Estadão ao levantar impeachment?

Seguindo o movimento de outros da direita, como os tucanos paulistas, o MBL, Joice Hasselmann, o Estadão é mais um representante da burguesia a encampar o Impeachment. Isso se dá porque os fatos que desgastam o governo já são grandes demais - 70% dos brasileiros acreditam que Bolsonaro cometeu crime de responsabilidade, são crescentes os índices de desemprego, fome e miséria social, combinado com o fator Lula, que ganharia no primeiro turno segundo as pesquisas de intenções de voto do Datafolha.

As possibilidades de revolta popular diante desse governo crescem a cada dia. Frente a isso, crescem também os movimentos de uma ala da burguesia que busca conter e cooptar a revolta popular, desviando-a para dentro das instituições, acenando com o Impeachment.

Enquanto lavam sua cara da responsabilidade de terem colaborado na ascensão de Bolsonaro, de terem se associado em cada um dos ataques econômicos do governo, com as reformas e privatizações, se posicionam como “democráticos” e “opositores” clamando para que Lira, outro sócio do governo Bolsonaro, acate à centena de pedidos.

Através das revelações da CPI, a burguesia consegue cooptar a revolta popular para acompanhar esse teatro, enquanto vai controlando o ritmo do desgaste de Bolsonaro. A mídia toma parte central nessa estratégia, girando todo seu aparato para o bombardeio em torno das revelações da CPI. Nas últimas semanas, assistimos uma verdadeira campanha da mídia com uma sequência de bombas sob o governo e Bolsonaro em particular, cargas que elevaram ao extremo a sangria do presidente. Uma iniciativa que não implica no impeachment necessariamente, mas que sim abre espaço para uma "terceira via" (ou seja, a direita tradicional) através da desidratação de Bolsonaro.

Dentre tantos crimes de responsabilidade, o editorial escolhe como a gota d’água as ameaças golpistas de Bolsonaro. Ameaças que fazem coro com o discurso trumpista nos EUA de não reconhecer o resultado das eleições, alegando fraude. Algo que vimos recentemente por parte da extrema direita novamente no Peru, com a herdeira do ditador Fujimori, se recusando a reconhecer a vitória de Pedro Catillo, e o próprio partido democrata através do governo Biden, reconhecendo a vitória do “socialista”. Ou seja, mais uma mensagem, por meio do editorial, de que a conjuntura internacional mudou e não há mais espaço para essa retórica trumpista. Mas isso não se dá em prol das massas. Se dá em prol de outra fração da burguesia. Ao contrário de ser um gesto para atender às reivindicações populares, o impeachment só aconteceria se houvesse o acordo da maior parte do regime.

Além disso, outra frente de batalha dessa ofensiva foi contra os militares, tratando de escancarar a participação de coronéis envolvidos nas negociações das vacinas. Tiros de advertência que visam isolar Bolsonaro, removendo os militares como ponto de sustentação. Por isso a revolta no editorial com a nota de unidade dos militares. É cada vez mais difícil para a mídia sustentar a existência de uma ala “legalista” de “bom senso”, na qual ela e toda a burguesia teriam pleno interesse de se aliar.

"Chega de chantagem"

A ironia do editorial intitulado “Chega de chantagem” é que seu conteúdo é repleto de ameaças. A adesão dessa ala da burguesia ao impeachment trata-se disso, uma ameaça, pois até o momento ainda não encontrou um candidato da "terceira via" com condições de se gabaritar para enfrentar Bolsonaro e Lula. O exemplo mais patético dessa estratégia foi o artigo da colunista desse mesmo jornal, Eliane Cantanhêde, pedindo para que Lula se candidate a vice e abra espaço para outro nome que propicie uma repactuação para esse regime degradado. O desejo do Estadão é claro: retornar a correlação de forças do golpe antes de Bolsonaro sagrar-se seu herdeiro ilegítimo, com um representante da direita tradicional - do tipo Michel Temer - para poder seguir com as reformas e privatizações, descontando a crise nos trabalhadores. Mesmo Lula dando todos os sinais à direita de que está disposto a fazer essa repactuação, o jornal expressa a voz daqueles que ainda não estão dispostos a aceitar o petismo de volta ao poder.

Essa movimentação do Estadão é a expressão de que não podemos ter como aliados os golpistas de ontem na nossa mobilização. O governo Bolsonaro, Mourão e os militares precisam cair fruto da ação popular, sem ilusões de que Lira e outros atores do regime estão dispostos a retirá-lo e abrir brecha para a instabilidade de suas reformas. Por isso, é preciso que as centrais sindicais convoquem uma greve geral em cada local de trabalho para potencializar a voz dos trabalhadores de que basta de Bolsonaro, Mourão, e de seus ataques, com as reformas e privatizações.

 
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