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Afinal, o PT quer derrubar Bolsonaro?
Diana Assunção
São Paulo | @dianaassuncaoED

Uma eventual queda de Bolsonaro agora, um ano antes das eleições presidenciais, pode ter consequências eleitorais para Lula e o PT. O que está em jogo então?

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Em meio às denúncias de corrupção no caso Covaxin e do pedido de propina a US$ 1 por dose de vacina, as movimentações que visam a retirada de Bolsonaro da presidência aumentam. Se encaminha o "super pedido" de impeachment reunindo partidos de todo o tipo, a CPI passa a ter um papel protagonista na política nacional funcionando quase como um partido político (unindo na oposição parlamentar a Bolsonaro os mais fisiológicos partidos num rol de siglas que vai da direita até o PT e o PSOL) e novas manifestações foram convocadas para o próximo dia 3 de julho. A questão é: todos que se dizem contra Bolsonaro e defendem o impeachment querem, de fato, que ele caia?

Para responder essa pergunta em primeiro lugar é preciso dizer que já é evidente um interesse por trás de toda essa movimentação: como mínimo desgastar Bolsonaro e desidratar sua candidatura para 2022 abrindo caminho a uma terceira via, leia-se, a direita. As recentes pesquisas eleitorais chegaram a indicar cenários em que Lula ganharia até mesmo em um primeiro turno. Para empresários, para a direita tradicional, para governadores, para membros do STF e do Congresso Nacional isso seria um contrassenso afinal todos estes foram impulsionadores do golpe institucional de 2016 que através de um impeachment retirou o PT da presidência e, inclusive, depois garantiram a prisão de Lula que era o candidato mais popular nas eleições de 2018 para impedir a volta do PT.

Esse enorme ataque que foi o golpe institucional em algum sentido saiu do controle porque abriu espaço para a extrema-direita. Mas saiu do controle em partes porque a agenda de ajustes que todos queriam foi levada adiante por Bolsonaro. Mas não se esperava uma pandemia avassaladora em meio a tudo isso. As contradições da política de extrema-direita de Bolsonaro com seu negacionismo mortal apontam uma situação insustentável para que os mesmos que tiraram o PT do poder queiram seguir embarcando nessa aventura. De olho em 2022 então, qual é a melhor política? Tirar o PT de novo do processo eleitoral ou ir deteriorando Bolsonaro para abrir espaço para uma outra candidatura de direita, sem maiores turbulências? Até o momento, essa parece ser a política da direita e das instituições do regime, há que ver como seguem os desdobramentos das denúncias que podem ser uma caixa de pandora cheia de surpresas.

E o PT nisso tudo? Ao mesmo tempo em que diz defender o impeachment e o grito de “Fora Bolsonaro” na realidade sabe que não seria o melhor caminho para sua política uma queda de Bolsonaro agora já que o mais conveniente é confrontar Bolsonaro nas eleições. Ou seja, para entender a política no Brasil atualmente é preciso ter claro que o PT tem um duplo discurso em relação ao impeachment: defende em palavras mas na prática não quer. Não precisamos dizer que tudo que o PT menos quer é o desenvolvimento da luta de classes e de uma mobilização por fora de seu controle que pudesse derrubar com a força das massas o governo Bolsonaro-Mourão senão já teria convocado uma greve geral através do peso que tem nos sindicatos. Por isso controla as manifestações, busca lhes dar caráter meramente eleitoral, separa a luta de estudantes e trabalhadores. É obrigado a fazer ainda assim essas manifestações, sempre controladas, porque a ideia de esperar 2022 para resolver problemas que estão em curso agora não dá conta de responder nem a sua própria base.

Mas mais do que isso um cenário de impeachment de Bolsonaro que termine antes das eleições dando lugar a um governo do General Mourão abriria espaço para o fortalecimento da chamada “terceira via” com uma candidatura de direita que possa aparecer como menos extremista que Bolsonaro e uma alternativa contra a volta do PT. Este cenário poderia prejudicar o projeto do PT que é retornar à presidência como “salvador da pátria” por isso está buscando aliados da direita como Kassab, Sarney e FHC e também mantendo toda a obra econômica do golpe institucional, ou seja, o “serviço sujo” feito por Temer e Bolsonaro para aprofundar os ataques que o PT já vinha fazendo em seu governo. Como Lula disse em entrevista a Kennedy Alencar há alguns meses “acho que no andar da carruagem, até cumprir todo o ritual do impeachment vamos chegar no ano que vem. Eu sinceramente não acho que vamos conseguir, não conseguimos que Rodrigo Maia aceitasse, acho difícil conseguir com Lira. Eu penso que sinceramente falando, abertamente falando ao povo brasileiro, eu não acredito que haja o tempo de fazer o debate sobre o impeachment”. Enquanto isso nas páginas do PT continuam os cartazes “Fora Bolsonaro! Impeachment já!” como pura campanha eleitoral sem nenhum objetivo de retirá-lo do poder agora nem de desenvolver a mobilização. Se porventura esse cenário se impor pelos acontecimentos não tenhamos dúvida que o PT, a partir da direção de sindicatos e entidades estudantis e de movimentos sociais, vai atuar para impedir o desenvolvimento da luta de classes.

Ainda assim é preciso dizer que um impeachment prosperaria apenas fruto de um grande acordo nacional da burguesia e seus funcionários parlamentares, “elegendo” de fato o general Mourão. Ao contrário, para golpear esse regime, estamos propondo lutar por uma Greve Geral para derrubar Bolsonaro e Mourão, e por meio da mobilização impor uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana, que liquide os poderes estabelecidos por essas instituições e ponha nas mãos da população a solução dos grandes problemas do país. Nada disso poderia ser feito sem organismos de autoorganização, que o PT rejeita, para enfrentar a resistência dos capitalistas e seus partidos a qualquer modificação estrutural. Nesse choque entre as classes é que se abre a oportunidade de avançar a um governo dos trabalhadores, de ruptura com o capitalismo. Infelizmente a esquerda, como o PSOL e o PSTU, além de adaptados a política sindical do PT estão também jogadas na defesa do impeachment, subordinadas ao que permite o regime e inclusive ao que defendem, hoje, setores da direita como MBL e Vem Pra Rua e por isso protagonizaram hoje uma das cenas mais vergonhosas dos últimos tempos entregando o “super pedido” de impeachment em Brasília junto com Joice Hasselmann e Kim Kataguiri.

 
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