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COLUNA
Meu encontro com Trotsky part I
Ana Carolina Toussaint

Texto exclusivamente dedicado a Leon Trotsky, marxista revolucionário, sujeito político ativo, atento e convicto do triunfo internacional da classe trabalhadora. Nesse encontro os caros leitores encontrarão uma trotskista e o Trotsky diante de uma das mais audazes tarefas históricas da humanidade: A emancipação plena da classe trabalhadora das mazelas e misérias do sistema capitalista.

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Foto: Divulgação google

“Expor aos oprimidos a verdade sobre a situação é abrir-lhes o caminho da revolução!”

Nossa classe historicamente pela ótica do materialismo dialético histórico foi protagonista de inúmeros processos revolucionários que são a prova viva do potencial histórico da classe trabalhadora em ruptura com o sistema capitalista. Neste texto focarei em particular na revolução de outubro de 1917, um país marcado pelo atraso econômico e político que fazia pesar na vida dos trabalhadores fabris e camponeses o fardo de levar uma vida de miséria com as migalhas que caíam no chão dos altos escalões da burguesia czarista russa, foi o mesmo país onde foram escritas as páginas históricas mais brilhantes da luta operária e é exatamente nesse processo histórico que Leon Trotsky participou ativamente sendo um dos principais dirigentes que incansavelmente até o último segundo de sua vida lutou e acreditou na vitória internacional dos trabalhadores com a tomada do poder.

Antes de falar do Trotsky já adulto e consciente, retomemos aos anos iniciais de sua vida em Ianovka, uma cidade na Ucrânia, que o Trotsky considerava como uma aldeia, um canto perdido e cinzento. Dos oitos filhos de uma casal de agricultores, apenas quatros sobreviveram à mortalidade infantil generalizada daquela época e um desses quatros é Liev Davidovich que mais na frente se tornaria o Leon Trotsky um dos principais dirigentes do partido bolchevique e o principal organizador do exército vermelho na Rússia. O trabalho no campo incessante dos seus pais lhe permitiu uma condição de vida razoável frente às misérias ao seu redor. Bastante sensível e questionador das injustiças sociais, Trostky viveu em uma época histórica onde os camponeses eram chicoteados e marcados a ferro e muito antes de conhecer a teoria marxista revolucionária, Liev Davidovich, futuro Leon Trotsky em uma pequena aldeia mal povoada já se mostrava um inconformado com tamanha miséria, injustiça e desigualdade nas vidas dos mais abastados e oprimidos.

A revolução de outubro de 1917 na Rússia abalou as fortalezas do sistema capitalista mundial. Na américa latina, américa do norte, Ásia e a África do Sul não se ouvia outra coisa, TODO PODER AOS SOVIETES. E no ano 2017 no centenário da revolução russa a Fração Trotskista Internacional fez ecoar novamente no Brasil os processos marcantes e profundos da Rússia e o papel revolucionário de Lenin e Trotsky na tomada do poder com os sovietes e o partido bolchevique centralizado da classe trabalhadora. A burguesia nacional e internacional necessitam da exploração e opressão para existir enquanto classe, ou seja, no capitalismo a vida das mulheres negras, pobres e trabalhadoras é marcada cotidianamente pelo ódio racista, machista e patriarcal da burguesia contra nós. O destino miserável e subalterno que a burguesia reservou para o conjunto dos setores mais oprimidos da classe trabalhadora do qual eu faço parte, foi interrompido no momento que o trotskismo revolucionário penetrou no mais profundo do meu ser e me mostrou que mais do que ser forte e resistir, eu posso ao lado de milhares e milhares de trabalhadores através de um partido revolucionário centralizado construir os mais brilhantes capítulos históricos do socialismo revolucionário.

Nós devemos explicar aos elementos conscientes das massas negras que o desenvolvimento histórico os coloca na vanguarda da classe operária. O que funciona como freio para as camadas mais elevadas? São os privilégios, a comodidade que as impedem de se tornarem revolucionários. Isso não existe para os negros. Que fator pode transformar uma determinada camada social, torná-la mais imbuída de coragem e disposição ao sacrifício? Este fator encontra-se concentrado nos negros.” Trecho do artigo “Uma organização Negra” de Leon Trotsky, 1939.

Minha vida é dividida em duas etapas decisivas: a primeira etapa é dos meus anos de inconsciência, que começa lá no interior da Bahia até as margens sociais da zona norte do Rio de Janeiro e a segunda foi o meu encontro com o trotkismo e marxismo revolucionário. A burguesia gerou e pariu o racismo, desde então esse é um dos males da doença capitalista que corrói os negros por dentro e por fora. Sendo um jovem negra, posso afirmar sem grandes rodeios que a vida pra mim sempre foi corroída, na família, na escola e na favela. Certa vez, aos dez anos de idade, tinha grande carinho por uma amiga da escolinha dominical, ela era branca e eu negra, ela morava próximo a igreja e morava dentro da favela. Um determinado dia ela disse que não poderia ser mais minha amiga, perguntei porque ela respondeu que os pais dela não queria ela com gente preta moradora de favela. Aquele dia foi o primeiro dia que o racismo me feriu por dentro e me arrancou as mais amargas lágrimas e eu só tinha dez anos. Ser do interior da Bahia e morar em uma favela no centro do Rio de Janeiro foi um dos piores contrastes social-cultural que eu vivi na minha vida, no entanto, de forma alguma culpo a favela em si por isso, mas responsabilizo completamente o Estado racista e assassino.

Por sorte as balas da polícia não me atingiram diretamente, mas indiretamente até hoje marcam minha vida. As impetuosas operações policiais no morro deixam sempre marcas de sangue e balas de fuzil pelos becos e escadarias de qualquer favela. Quando tinha operação o silêncio humano reinava no morro e os únicos ruídos e sons que escutávamos eram de tiros que consequentemente levam à morte, até na hora de engolir o cuspe com medo, a saliva contida dentro da boca tinha gosto de morte. Quando a polícia entra no morro o ar tem cheio de pólvora e o helicóptero da polícia é tipo um urubu assassino que odeia os negros e corre atrás de carne morta. Tentei correr aos braços do pai, mas Deus sempre foi ausente demais, a religião era exatamente como um ópio, já dizia Marx, por alguns poucos instantes me enganava e me iludia de uma falsa ideia de um tal paraíso inexistente. E é nesse processo de desgosto e gosto ruim da vida, que pela primeira vez na minha vida esbarro com o trotskismo revolucionário em 2017. Trotsky lutou incessantemente a favor dos povos oprimidos e explorados e morreu convicto de que jovens como eu e todo o conjunto da classe trabalhadora merece uma vida plena de sentido sem opressões e antagonismo de classes. Mas para isso é preciso entender as engrenagens históricas e estruturais do capitalismo para que nenhum negro sinta o gosto de morte pela boca.

Não há solidez senão no que se alcança lutando, descreve Trotsky no livro Minha Vida, e é exatamente lutando ao lado dos trabalhadores e a juventude que me faço forte, erguida e provo que o trotskismo revolucionário é o bem mais necessário para os desafios de nossa época. Se você chegou até o final desse texto, aproveito para fazer um convite um tanto especial e bastante audaz, convido cada a fazer parte da reconstrução da IV internacional por um partido internacionalista da classe trabalhadora onde cada um de nós seremos protagonistas das lutas mais fascinantes da história de nossa classe.

 
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