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FORA BOLSONARO, MOURÃO E OS MILITARES
Assembleia Povo na Rua: uma live que não pode substituir assembleias de base
Marie Castañeda
Estudante de Ciências Sociais na UFRN
Pedro Cheuiche
Alice Caumo
Estudante de Artes Visuais na UFRGS

Neste texto, buscamos debater com cada estudante e trabalhador que foi às ruas nos dias 29M e 19J e que participou da “assembleia-live” Povo Na Rua-Fora Bolsonaro, que também consideram urgente que nossa luta contra Bolsonaro se massifique, assim como os militantes da UP, PCB e MES (PSOL-Juntos) que realizaram ontem esta “assembleia”, na qual poucos supostamente sorteados puderam se expressar. Como organizar uma luta massiva e democrática contra Bolsonaro, Mourão e militares?

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Esse evento aconteceu logo depois de um amplo rechaço à decisão burocrática da majoritária da UNE, composta pelo PT e UJS (PCdoB), em chamar uma nova mobilização para o sábado do dia 24,daqui um mês. Chamarem esses atos espaçados e controlados escancarou como essas organizações, com castas burocráticas encasteladas na maior entidade estudantil da América Latina e também na maiores Centrais Sindicais (CUT e CTB), têm como objetivo desmobilizar a nossa luta e esfriar nossa revolta, a canalizando para saídas institucionais e por dentro do regime golpista, costurando alianças com a direita para eleger Lula em 2022. Esta decisão ocorreu poucos dias depois que o país passou a marca de 500.000 mortos pela COVID 19, um dia depois da aprovação da privatização da Eletrobrás no Congresso, evidenciando que para que nossa luta possa mesmo ser agora, vamos precisar superar estas direções majoritárias.

É evidente que precisamos de uma saída alternativa, e após a última assembleia-live da frente Povo Na Rua, trazemos duas discussões que consideramos primordiais: qual a política levantada pelas organizações e como organizar a luta. Na nossa opinião, tragicamente, a lógica que esses partidos levam a frente nestes dois âmbitos é funcional aos interesses eleitorais do PT e do PcdoB, como impedir que isso aconteça?

Por que assembleias de base?

Assembleias são espaços essenciais e históricos de auto-organização da nossa classe, muito potentes quando são democráticas, com direito a voz e voto para todos, abertos para a livre discussão de ideias. Aquele famoso trecho do Manifesto do Partido Comunista, que diz “Que a emancipação das classes trabalhadoras deve ser conquistada pelas próprias classes trabalhadoras; que a luta pela emancipação das classes trabalhadoras significa não uma luta por privilégios e monopólio de classe, mas por direitos e deveres iguais, e a abolição de todo regime de classe;”, cabe aqui, no sentido de que é necessário que os estudantes e trabalhadores possam ter real autonomia e poder de decisão sobre como se desenvolverá a própria luta. Este é um dos considerandos finais deste potente livro clássico mais atual do que nunca, encomendado a Karl Marx e Friedrich Engels e expressa a centralidade da auto-organização democrática, onde de fato cada cabeça valha um voto e a experimentação com diferentes decisões coletivas tem o potencial de promover avanço subjetivo da consciência de classe. Nós confiamos firmemente em que a emancipação da classe trabalhadora só pode vir das suas mãos e isso é parte estruturante da nossa insistência em assembleias de base.

Em todos os lugares em que estamos, viemos defendendo que os sindicatos construam uma paralisação nacional, com estas assembleias de base em cada local de trabalho e estudo e no movimento estudantil, um comando nacional de delegados que se reúna em assembleia nacional para impedir burocrateadas escandalosas como a que vivemos esta semana pelas mãos da majoritária da UNE.

No entanto, o que ocorreu na noite de quarta-feira foi uma transmissão no youtube com a maioria das falas já decididas anteriormente, ou seja, uma live. As falas, sendo majoritariamente dos mesmos partidos que a organizaram, contaram também com alguns convidados e um pouco mais de 10 falas “sorteadas”, que mais pareciam ter sido selecionadas a dedo, buscando evitar qualquer discussão que confrontasse os posicionamentos políticos dos partidos organizadores. Entre os milhares de comentários, pedia-se o direito de fala para todas as organizações presentes, o que não foi garantido mesmo com inscrição prévia.

Assim, essa assembleia em que milhares se conectam, mas só uma meia dúzia das próprias organizações e alguns sorteados falam, não substituem as assembleias de base em cada universidade. A aprovação de que hajam assembleias em escolas, bairros e locais de trabalho precisa se efetivar. Os estudantes seriam sujeitos de definir as pautas e os rumos de conjunto da mobilização, com direito a voz e voto, muito diferente de só darem aval aos encaminhamentos apresentados pela mesa.

Outras medidas votadas foram a greve geral por Fora Bolsonaro; mas que não parte de exigir isso da CUT e da CTB que dirigem milhões de trabalhadores, o que contribui para que as centrais sindicais manobrem e não convoquem a paralisação e a luta contra as privatizações e a PL490. Tampouco houve qualquer questionamento sobre o divisionismo promovido pela CUT, que convocou dias de luta separados antes do 29M e 19J, na contramão da unificação entre estudantes e trabalhadores. Ou seja, a aparência de independência e democracia para tomar as decisões se torna inofensiva às burocracias do movimento estudantil e operário, já que a definição tirada é um “esquenta” para o dia 13 de julho, nenhuma exigência, nenhuma denúncia, enquanto a CUT e a CTB dirigem milhões de trabalhadores, assim como a UNE dirige milhões de estudantes. A última experiência de um “esquenta” foi o dia 26 de maio, que não foi construído nas bases em lugar algum, por responsabilidade fundamental da majoritária da UNE e das Centrais Sindicais, mas para qual a adaptação da esquerda colabora.

É a auto-organização nos locais de trabalho, com assembleias que organizem uma paralisação nacional, que pode impor perdas aos capitalistas, paralisar a produção e a circulação de mercadorias e fazer pesar a força social da classe trabalhadora, evidentemente a única essencial desde o começo da pandemia. É a essa força que os estudantes precisam se conectar para derrotar Bolsonaro, Mourão e militares e seu plano de ataques junto ao Congresso ao STF.

Vamos construir os dias de luta com toda nossa força e opinamos que é mais urgente do que nunca que a resolução votada de assembleias de base em cada local de trabalho e estudo se efetive, diferente do que vimos na atuação da Correnteza, Juntos e MUP, que impediram a realização de votação no final da assembleia geral da UNB, na CCSA-UFRN e na UFRGS, se recusaram a convocar assembleias na UFMG e em outras universidades, seguiram os métodos da UJS em uma assembleia-live na UNIFESP. Estas correntes também foram contrárias à exigência e conformação de um comando nacional de delegados eleitos pela base, revogáveis e responsáveis por levar adiante as resoluções democraticamente votadas, um mecanismo essencial, como já discorremos aqui e em outros materiais, para que os estudantes tenham nas próprias mãos os rumos da luta.

Não basta participar das reuniões de cúpula, sendo parte da sua legitimação e depois organizar um espaço anti-democrático e ser contrário a qualquer desmascaramento da burocracia e construção de auto-organização com o potencial de superá-la, como fazem estas correntes. Esta atuação é necessariamente funcional a esperar 2022 e fortalecer a saída eleitoral do PT, já que mantém estudantes e trabalhadores de mãos atadas, aos mandos e desmandos das direções majoritárias, mesmo que se diga que não.

Esse método burocrático de decisões sobre os rumos da mobilização tomadas por cima não se difere de como atua a majoritária da UNE, composta pelo PT e UJS (PCdoB), a qual a UP, PCB e PSOL supostamente fazem oposição. Isso acontece porque esses partidos que se dizem à esquerda do PT na verdade se adaptam ao mesmo, compartilhando de uma mesma política: vender ilusões na CPI da Covid e pressionar o congresso pelo impeachment. Todos caminhos que abrem mão de qualquer independência de classe ou confiança na força da classe trabalhadora aliada aos estudantes. Todas saídas institucionais, que colocam o militar e reacionário Mourão no poder (levando meses para acontecer, ou seja, embromação com o objetivo de desgastar o Bolsonaro rumo a 2022), confiam nos nossos inimigos que diariamente nos atacam como o Congresso e o STF, sentam com golpistas e burgueses para costurarem frentes amplas rumo às eleições e fortalecem a criminosa estratégia eleitoral do petismo.

Cada organização pode construir seu próprio espaço de debate, não há duvidas disso. A discussão de fundo é que esses espaços não podem substituir a luta para que de fato existam assembleias de base em cada local de estudo e trabalho, com direito a voz e voto. Para isso é preciso fazer com que os sindicatos e entidades estudantis por todo o país construam espaços onde sejam os estudantes e os trabalhadores os que debatam e decidam os rumos da nossa mobilização. Por isso é necessário que a esquerda, que está em inúmeros DCEs e sindicatos, convoque esses espaços de auto organização, além de se somarem à exigência à UNE e às Centrais Sindicais para que rompam com seu divisionismo e sua estratégia meramente eleitoral e convoquem assembleias de base nas quais sejam eleitos delegados que conformem um Comando Nacional que possa coordenar a nossa luta.

A nossa luta precisa impor o combate a todos os agentes reacionários desse regime, Bolsonaro, Mourão e os militares. Por isso, nós da Faísca Anticapitalista e Revolucionária viemos levantando a necessidade de uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana, imposta pela mobilização. Frente a saídas como o impeachment e a CPI que fortalecem o Congresso, uma Constituinte imposta pela nossa luta, Livre e Soberana, que possa discutir e questionar todo o pacto de dependência, a fraudulenta dívida pública, todas as reformas aprovadas desde o golpe e antes dele fortaleceria ainda mais a luta de todos aqueles, em especial da classe trabalhadora e da juventude, negras e negros, indígenas, mulheres e LGBTs contra a miséria que é o sistema capitalista. Necessariamente apostando na auto-organização para enfrentar a repressão da burguesia que se empenha em impedir estes avanços e assim batalharmos por um governo de trabalhadores de ruptura com o capitalismo. Confiamos nessa força e não na boa vontade do congresso e no caráter de um general.

A política levantada pelo MES-PSOL, PCB e UP deposita portanto esperanças em uma ilusão de gestão supostamente mais humana do capitalismo, como fica evidente pelas suas posições internacionais. Como no Peru, onde o MES é parte do Novo Peru, e apresentam apoio acrítico a Pedro Castillo, com seu conselheiro econômico Francke que garante repetidamente que não tocará os lucros capitalistas. Estes são defendidos também por Jones Manoel do PCB que afirma que o não apoio a esta figura seria uma total falta de compreensão dos funcionamentos do imperialismo e ao mesmo tempo não economiza elogios à Alberto Fernández, o presidente argentino à serviço do FMI, que ataca aposentados e estudantes para pagar religiosamente a dívida pública, enquanto seus parceiros reprimem brutalmente desempregados, moradores de ocupações, trabalhadores da saúde como aconteceu na semana passada em Buenos Aires e faz afirmações cada vez mais racistas para submeter o país ao imperialismo do Estado Espanhol. Isso se expressa também nas afirmações de Sâmia Bonfim (MES-PSOL) e Leonardo Péricles (Presidente da UP) de que a herança da Ditadura de Pinochet estaria derrotada com a eleição da Convenção Constituinte chilena, um processo cheio de armadilhas e amarras aos tratados internacionais, que mantém os presos políticos da rebelião chilena e impunes os policiais e mandantes que assassinaram, estupraram e cegaram manifestantes. Estes exemplos evidenciam como a aposta contra a extrema-direita e direita precisa estar na luta de classes e na auto-organização da classe trabalhadora e nós como juventude queremos estar ombro a ombro e não trilhando um caminho de derrotas de reforma do capitalismo.

 
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