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ANÁLISE
Ele sai, mas a devastação continua: os motivos por trás da saída de Salles
Vanessa Dias

Tomou conta dos noticiários desta quarta-feira o suposto pedido de demissão de Ricardo Salles, agora ex-ministro do Meio Ambiente do governo Bolsonaro. Salles deixa o governo em meio à investigação da PF sobre uma série de crimes bárbaros em ataque ao meio ambiente, com fortes interesses dos EUA por trás. Entenda.

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Salles é parte daquilo que há de mais podre no regime brasileiro e disso poucos têm dúvida. Representante dos maiores e mais poderosos ruralistas e latifundiários ligados ao agronegócio, ele deixa o governo em meio às investigações sobre seu envolvimento em um esquema de contrabando de maneira no exterior, suspeitas de crime de corrupção, advocacia administrativa, prevaricação e facilitação de contrabando por ambientalistas pelo avanço do desmatamento na Amazônia.

Logo de sua saída, as redes vibraram em comemoração. “Vai tarde!” e “Vitória!”, bravam o oportunismo, inclusive de esquerda, ou os mais inocentes, sem ver a política que fica. Mas, entre os motivos da saída de Salles, estão aqueles que se ligam à retirada do ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.

Explicamos. Salles não cai como resposta às reivindicações populares. Infelizmente, também não sai por nada parecido com o fim ou a superação da política de destruição da Amazônia, mas sim como como um “movimento retardatário” daquele mesmo golpe que derrubou Ernesto Araújo, o que sela agora a “destrumpização” do governo Bolsonaro.

Relembre: A ofensiva de “destrumpização” do governo Bolsonaro.

A saída de Salles contou até com o protagonismo do STF, com Alexandre de Moraes enviando o celular do ex-ministro aos Estados Unidos, para desbloqueio e retirada de informações por parte do FBI, para serem acessadas pelos governadores.

A questão é que Biden – assim como vários dos grandes imperialistas que tentam aparecer como “capitalismo verde”, supostamente preocupados em barrar a devastação da Amazônia – teve grande protagonismo na pressão exterior sob o governo Bolsonaro para a queda desses ministros. E o motivo nada tem a ver com preocupação com o meio ambiente nem nada disso, mas sim a busca por retirar o Brasil da linha de frente das exportações do agronegócio para a China – particularmente de soja e milho –, posto este que os EUA querem liderar e, para isso, precisam necessariamente atrapalhar os negócios brasileiros.

A saída de Salles é a contragosto do governo Bolsonaro, afinal era um dos ministros mais alinhados e defendidos por ele, mas não significa nem um passo atrás na política bolsonarista, que é seguir explorando de maneira inédita a Amazônia, o Pantanal e o Cerrado, favorecendo os grandes latifundiários e ruralistas do país, que querem seguir no topo do ranking das exportações para o gigante asiático.

Com sua saída, quem assume é outro poderoso do agronegócio, Joaquim Álvaro Pereira, que por anos integrou a bancada ruralista, com políticas de genocídio da população indígena e da mais completa destruição do meio ambiente e dos recursos naturais. Ou seja, Bolsonaro entrega a cabeça, mas ainda segue resistindo com a mesma política, que segue.

Essa saída de Salles surge também em meio às pressões da CPI da Covid, cujo objetivo é separar a política de Bolsonaro na saúde da igualmente atuação criminosa do conjunto do regime, que atuou durante todo o momento em consonância com o governo, apesar de uma ou outra declaração conflituosa. O governo Bolsonaro, os governadores, o Congresso, o STF, o conjunto deles atuaram em unidade, não promovendo testes massivos, não garantindo empregos, implementando retirada de direitos, deixando passar livremente toda a boiada e muito mais, enquanto faziam pose de “oposição”.

Não nos deixemos enganar. Nem a saída de Salles pode ser comemorada como o “fim do desmatamento”, nem como uma recuada do agronegócio, menos ainda como “uma vitória contra o bolsonarismo”. Isso não significa a interrupção de um poderoso setor burguês que quer defender o posto de “celeiro do mundo” com as exportações para a China, competindo com os EUA.

Enquanto não deixarmos de depositar as expectativas em CPIs e afins, indígenas continuarão morrendo diante das armas do agronegócio. E a alternativa não pode ser o “capitalismo verde”, que é igualmente assassino e devastador, tanto em seus próprios territórios, quanto nos nossos.

Nós temos que confiar somente nas forças dos trabalhadores, e é por isso que nós do Esquerda Diário estamos insistentemente batendo na tecla da necessidade de uma Paralisação Nacional urgente, que se coloque contra não só Bolsonaro, mas também Mourão e o conjunto desse regime político podre.

Leia também: Mourão e o interesse militar de lucrar com a destruição do meio ambiente.

Todos os que se colocam contra a degradação do meio ambiente, do avanço contra os indígenas, e também contra os avanços da degradação das condições de vida dos trabalhadores e da população em geral, devem se colocar a pressionar e denunciar a paralisia das grandes centrais sindicais, que controlam milhares de categorias de trabalho espalhadas por todo o país, e que se limitam ao papel de chamar uma manifestação a cada mês, a conta gotas, calculando muito bem para impedir que saia do controle, impedir que se desenvolva radicalização do movimento de massas, pois jogam todas as fichas no voto em Lula em 2022, enquanto assistimos a mais milhares de mortos pela Covid e mais outros milhares desesperados pelo aumento da fome e da miséria.

Assista: Ed Comenta – repressão contra indígenas em Brasília e o PL 490.

 
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