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RUMO AO 19J
19J: Direção DCE/UnB acaba assembleia sem voto e impede união de estudantes e trabalhadores
Rosa Linh
Estudante de Ciências Sociais na UnB
Luiza Eineck
Estudante de Serviço Social na UnB

A direção do DCE da UnB composta pelo PT, PCdoB, Levante Popular, PSOL e PCB - mas também com a ajuda da UP - encerraram de forma autoritária a Assembleia Geral dos Estudantes da UnB que ocorreu ontem, 17, ignorando propostas de estudantes para votar unidade com trabalhadores para o dia 19J e, inclusive, apoio à luta e ato dos terceirizados da universidade que estão sendo demitidos.

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Na Assembleia Geral do Estudantes que aconteceu ontem, 17, a direção do DCE da UnB composta pelo PT, UJS/PCdoB, Levante Popular, PSOL (Afronte e Juntos) e UJC/MUP/PCB - mas também com a ajuda da Correnteza/UP - atuou de forma unilateral ignorando burocraticamente as propostas levadas para votação pelos estudantes. Desde o início da Assembleia colocaram seus encaminhamentos e os aprovaram sem nenhum tipo de votação e propostas alternativas às que eles propuseram. É lamentável que a Oposição de Esquerda da UNE (PSOL, PCB e UP) unifiquem suas energias para ajudar os burocratas da majoritária (PT, PCdoB e Levante) a impedirem deliberações soberanas da assembleia.

Não se divulgou a ata da assembleia, nem sequer ela foi transmitida pelo Facebook da entidade, como na última, além de não terem disponibilizado a ordem das falas. A direção do DCE convocou a assembleia um dia antes (mesmo com um intervalo de 20 dias entre os atos), não mobilizou os estudantes pela base e por cada sala de aula - e chegando na assembleia nem sequer abriu espaço para encaminhamentos e votação. Exigimos da direção do DCE que divulgue a gravação da assembleia e sua ata.

Estamos em um momento ultra reacionário, com grandes ataques que estão sendo passados como a LOA 2021, sancionada por Bolsonaro e aprovada pelo Congresso, com cortes bilionário nas federais; a reforma administrativa, aprovada na CCJ da Câmara que significará uma enorme derrota, principalmente, para o funcionalismo público; a privatização da Eletrobrás aprovada ontem no Senado, etc. Diante desse cenário, impedir a democracia de base em espaços soberanos como a Assembleia Geral são verdadeiros boicotes à nossa luta.

Mas houve um motivo bastante específico pelo qual a direção do DCE não quis colocar para votação nenhum dos encaminhamentos da assembleia: sua recusa permanente em deliberar exigências às centrais sindicais e estudantis pela unidade entre estudantes e trabalhadores. Não é de se surpreender, já que na última assembleia a direção do DCE votou contra a unidade entre estudantes e trabalhadores.

Leia mais: Direção do DCE da UnB vai contra unificar estudantes e trabalhadores no 29M

Desde antes do 29M, nós da Faísca viemos defendendo assembleias com direito à voz e voto para todos os estudantes e também a unidade de estudantes e trabalhadores. Veja nossas falas na assembleia:

Nessa medida, as propostas de encaminhamento da Faísca, da mesma forma como atuamos na última assembleia, foram os seguintes:

1 - Apoio a luta dos trabalhadores terceirizados da UnB e uma construção ativa do ato indicado pro dia 30 de junho.
2 - Votação de representantes pela UnB para que se conforme um Comando Nacional de Base dos estudantes das Federais
3 - Bloco unificado da UnB para o 19J com o mote: “Unir estudantes e trabalhadores contra os cortes! Permanência e vacina para todos! Fora Bolsonaro, Mourão e Militares!”

Porque a direção do DCE se negou a levar a frente essas propostas?

Como era de se esperar, o PT, PCdoB e Levante não queriam de jeito nenhum unidade entre estudantes e trabalhadores. Isso porque a CUT e a CTB (dirigidas respectivamente pelo PT e PCdoB) estão chamando um ato dia 18, e a UNE - dirigida pelo PT, PCdoB e Levante - não falou nada sobre. Isso não ocorre do nada, é uma política consciente. Tanto é que Lula expressa bastante seu objetivo de conciliação de classe ao se aliar com golpistas e burgueses como Maia, FHC. A unidade que as direções sindicais e estudantis querem não é na luta, mas nas eleições. Acontece que o conjunto da esquerda, como o PSOL e o PCB que compõe o DCE junto da majoritária, se adaptam a essas saídas reformistas.

Leia também: A esquerda institucional e a busca de um caminho de subordinação ao PT

Em um cenário de quase meio milhão de mortes pela COVID, cortes nas universidades, reformas e privatizações. Bolsonaro, Mourão e militares são os culpados por tudo isso, mas é fundamental dizer que todo o regime do golpe institucional de 2016, como o Congresso Nacional, os governadores e o STF - estão todos bem alinhados quando o assunto é descarregar a crise nas costas da juventude e da classe trabalhadora. Essa frente ampla, crua e simploriamente, pelo “Fora Bolsonaro” não fará nada mais do que conservar a herança dos ataques do golpe institucional de 2016. Isso porque não podemos apostar em saídas por dentro do regime, e isso não é um detalhe: todas as organizações que dirigem o DCE, de uma forma ou de outra, defendem essas saídas como depositar esperanças na CPI da COVID, um verdadeiro teatro para o regime genocida; o impeachment de Bolsonaro, como tanto defende o Juntos/PSOL. Acontece que o impeachment levaria o racista e saudoso da ditadura General Mourão à presidência. Mesmo uma cassação de chapa, o que o Juntos e o MUP/UJC/PCB, vez ou outra, gostam de dizer, mais uma vez, levaria o candidato apoiado por Bolsonaro à presidência da Câmara ao poder, Artur Lira.

Muitos dizem, também, que “não se pode esperar 2022”, mas diante da impossibilidade do tempo político para um impeachment, depositam toda sua força para canalizar os atos para saídas institucionais, no caso, a eleição de Lula em 2022. Afinal, qual seria então a saída política? Na prática, a consigna de apenas “Fora Bolsonaro” significa impeachment ou eleições. Dessa forma, a esquerda se coloca à reboque da burocracia sindical e estudantil, faz uma meia-dúzia de malabarismos discursivos, mas a saída política acaba sendo a mesma.

O MUP/UJC/PCB, por outro lado, manteve seu silêncio, apesar de ter um de seus militantes coordenando a assembleia. Não foi problema para eles, que compõem o DCE junto da majoritária sem nenhuma crise, acabarem a assembleia sem nenhuma votação já que isso é parte de sua tradição de conciliação de classe e traição revolucionária. Parece que o poder popular do PCB e a unidade popular da UP vai desde se juntar em um bloco com a majoritária da UNE para burocratizar assembleias, até coligações eleitorais com o PDT, PSB e REDE (partidos burgueses e golpistas). Ambos têm esse “verniz radical”, mas na verdade são mais do mesmo do stalinismo: passam pano para a burocracia estudantil e sindical e separam a luta dos trabalhadores e estudantes.

Veja também: A política de conciliação de classes do PCB por trás do discurso "radical”

O Afronte/PSOL não disse muito, foram amplamente coniventes com tudo o que se passava. Na última assembleia, foram os mais entusiastas a acusarem a Faísca de fake news por denunciar a reforma da previdência de Edmilson Rodrigues do PSOL - o prefeito de Belém que, segundo eles, era a “prefeitura contra o fascismo”. Pois é, mas provavelmente, ontem o Afronte estava muito ocupado defendendo maior policiamento em zonas rurais e mais “preparo” para a polícia racista e assassina.

Essa ilusão com as instituições anda de mãos dadas com a separação da luta dos estudantes e trabalhadores. É absolutamente gráfico ver a atuação da direção do DCE diante da situação dos terceirizados. Mesmo sendo uma das tantas categorias essenciais que ao longo da pandemia não teve direito a realização de quarentena, os vigilantes da UnB, que já vitimou 3 desses trabalhadores durante o período, sofrem com a demissão ilegal de 23 trabalhadores do grupo de risco, uma sequência de ataques que incluem cortes dos salários, calotes nos vales alimentação e transporte, até trabalhadores que sequer tem carteira assinada e contracheque. Ataques que se somam a relatos anteriores da falta de condições sanitárias mínimas para os trabalhadores, como o fornecimento de álcool gel e máscaras, além de demissões, assédios e perseguições.

Houve um ato na última quarta, 16, chamado pelos terceirizados e a Comissão de Estudantes e Terceirizados da UnB, no entanto, nenhuma organização que compõe o DCE esteve presente - muito menos as divulgou em suas redes o ato e a situação dos terceirizados. A UP levou alguns militantes ao ato, mas ao chegar na assembleia, teve a coragem de não se somar à reivindicação de voto para encaminhar a participação dos estudantes neste ato. Curiosamente, a UP foi a primeira a nos acusar de “sectários”.

Leia mais: UP no 29M: uma política que acaba em Mourão presidente e esperanças no STF

O que a esquerda deve defender para massificar a luta, derrubar Bolsonaro e Mourão sem esperar as eleições?

Há, portanto, uma ligação entre o boicote à unidade operário-estudantil na luta em troca de desviar as mobilizações para uma saída eleitoral pactuada com o regime golpista, e a forma pela qual as direções do movimento estudantil rechaçam a democracia de base e as burocratizam. Isso se expressa tanto na atuação da direção do DCE da UnB, quanto da UNE de conjunto, e infelizmente a “Oposição de Esquerda” se adapta a isso.

Apenas a unidade com os trabalhadores e a auto organização pode ser capaz de superar
esse cenário caótico. Nesse sentido, na assembleia defendemos que fosse dado um passo a mais na nossa organização rumo ao 19J. Que fosse conformado e votado um Comando Nacional de Base dos estudantes das Federais (o qual a direção do DCE apenas ignorou), ou seja, seriam representantes eleitos nas assembleias gerais das universidades para levar as demandas debatidas no espaço da assembleia e articulá-las à âmbito nacional, assim seria possível avançar em unificar as lutas com as demandas reais dos trabalhadores e sociedade, e com toda a juventude dentro e fora das universidades.

Com a força de um Comando Nacional e a unidade entre estudantes e trabalhadores, seria possível batalharmos por uma paralisação nacional unificada - estudantes junto dos trabalhadores da Eletrobrás em greve, os petroleiros que estão se mobilizando contra a privatização da Petrobrás, os terceirizados da UnB que estão mesmo que de forma inicial se organizando para se opor às demissões e tantos outros.

E com a nossa mobilização seria possível impor uma Assembleia Constituinte livre e soberana, que permitiria a revogação de todos os ataques, cortes e reformas, e os trabalhadores poderiam de fato decidir os rumos do país, mudando as regras desse jogo e não apenas os jogadores. Assim, poderíamos avançar no enfrentamento com Bolsonaro, Mourão, os militares e o regime golpista de conjunto, permitindo respostas mais profundas aos ataques brutais que viemos sofrendo; colocando em perspectiva um governo de trabalhadores em ruptura com o capitalismo.

Leia mais: Contra Bolsonaro e Mourão, estudantes precisam defender uma Constituinte Livre e Soberana

 
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