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MOBILIZAÇÕES CONTRA BOLSONARO
Divisão dos dias 18 e 19 é traição das centrais sindicais para fortalecer Lula e não a luta
Lara Zaramella
Estudante | Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo

No sábado (19) ocorrerão manifestações de rua em diversas cidades do país contra Bolsonaro. Ao mesmo tempo, segundo os sites e redes sociais das centrais sindicais, esta sexta-feira (18) seria uma data de mobilizações nos locais de trabalho, apesar de concretamente vermos que não foi verdadeiramente construída. Além de gerar confusão de datas, as centrais sindicais, como a CUT, buscam, com isso, separar as demandas dos trabalhadores do combate político contra o governo, para que os atos de sábado não expressem essas demandas operárias e sirvam somente a seus objetivos eleitorais de desgastar Bolsonaro e fortalecer Lula rumo a 2022.

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Imagem: Reprodução

As direções sindicais majoritárias, como a CUT e CTB, e as direções dos Movimentos Sociais, do PT e PSOL nas Frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular, estão convocando manifestações separadas não apenas pelas datas de 18 e 19 de junho, mas também pelas pautas, separando a luta contra os ataques econômicos e as condições de trabalho, da luta contra o governo Bolsonaro. Isso se configura como uma verdadeira traição que fragiliza, conscientemente, a luta dos trabalhadores, colocando água no moinho de uma ilusória saída eleitoral em 2022 com Lula.

Não só isso, vemos concretamente como esse dia de 18 de junho, de suposta luta com "pauta trabalhista", convocado pelas burocracias sindicais não passam de palavras ao vento, carregando objetivos mais de fundo para justamente separar as pautas, lutas se setores sociais do dia de amanhã, 19 de junho. Isso fica claro quando vemos que não ocorreram paralisações, assembleias nem manifestações e demais formas de mobilização nesta sexta-feira, 18 de junho.

No próprio site da CUTestá colocado como “no dia 18, as mobilizações serão nos locais de trabalho e a pauta é trabalhista. No dia 19 a pauta é pelo auxílio de R$ 600, vacina, SUS e emprego”, isso sendo afirmado pelo presidente da CUT, Sérgio Nobre, em várias notas, deixando bem clara a divisão de pautas, como se a luta econômica, em defesa de direitos e condições trabalhistas, não se relacionasse e não fizesse parte da luta contra o governo Bolsonaro e seus ataques mais gerais à sociedade, ao futuro da juventude e toda população. Essa divisão acaba enfraquecendo ambas as lutas e manifestações. E diante disso, é fundamental entendermos as motivações dessa separação por parte de suas direções.

Os atos do 29M geraram uma inflexão na conjuntura política do país, recolocando a mobilização como perspectiva para uma vanguarda importante da juventude e dos trabalhadores. Essa perspectiva é fundamental para enfrentar Bolsonaro, mas também Mourão, os militares e esse regime, que são tão letais quanto o vírus. No entanto, o potencial explosivo da juventude que saiu em luta contra os ataques nas universidades e dos trabalhadores que fizeram importantes lutas de resistência - ainda que parciais - em defesa de direitos trabalhistas e contra as privatizações, está sendo conscientemente dividido e desviado para uma via eleitoral.

Os dias de mobilização construídos por entidades e movimentos sociais, como o 29M e agora, após vinte dias, o 19J, tendem a não tratar sobre os ataques econômicos que vemos em curso e em perspectiva afetando o trabalhador brasileiro. E não tratar destes ataques, reformas e ajustes é importante à medida que as direções fazem de tudo para controlar esses dias de mobilização, servindo eleitoralmente para Lula se alçar como alternativa a Bolsonaro, controlando e capitalizando eleitoralmente a indignação expressa nas ruas contra seu governo. Para as direções do PT, qualquer desgaste ao Bolsonaro objetivamente favorece Lula, a partir do momento que conseguem canalizar toda essa insatisfação com o governo federal numa saída eleitoral em 2022, não deixando essa indignação levar à ação da classe trabalhadora, junto à juventude e aos setores que mais estão sofrendo com a crise, e impedindo que atuem como sujeitos políticos independentes e auto-organizados.

E se, para as direções, os atos e mobilizações nas ruas do dia 29 de maio e 19 de junho têm o objetivo de servir eleitoralmente a Lula, faz sentido que as pautas econômicas e lutas contra as reformas e ajustes que atacam os direitos e condições de trabalho se expressem em outro dia e espaço. Isso porque vemos que todas as movimentações de Lula são no sentido de acenar para o capital financeiro, a burguesia e os patrões, declarando possíveis alianças e demonstrando como Lula pretende administrar a obra econômica do golpe institucional de 2016, perdoando os golpistas que aprovaram diversas reformas e ataques. Desse ponto de vista, não é interessante que a campanha eleitoral de Lula fique vinculada a uma luta contra as reformas.

O dia 18J serve, então, para livrar as direções do 19J de terem que tratar sobre as reformas e a luta contra a precarização do trabalho e da vida. É com esse objetivo que as centrais sindicais chamam esse dia, sem efetivamente construí-lo com assembleias nos locais de trabalho, debates democráticos para que os trabalhadores possam colocar suas opiniões e definir como lutar contra os cortes de direitos, vinculando a uma luta contra Bolsonaro, Mourão e todo o regime político que aprova medidas que só precarizam as nossas vidas.

A partir do momento que o PT, na direção da principal central sindical do país e dos movimentos sociais, convoca dois dias distintos, dividindo pautas e lutas, buscando canalizar a força nas ruas do 29M e 19J em saídas eleitorais que favoreçam Lula, não passa de demagogia a declaração de Lula no dia de ontem, 17, de que não sabe ainda se vai ao ato do 19J, porque não quer “transformar um ato político em um ato eleitoral”. Na verdade, o conjunto da política petista visa justamente que isso seja garantido, independente da presença de Lula ou não, da maneira mais controlada possível.

É por isso que nós do Esquerda Diário e do Movimento Revolucionário de Trabalhadores (MRT) viemos debatendo com a esquerda brasileira sobre qual estratégia é necessária para que nossa luta seja vitoriosa, sem apostar em saídas institucionais e eleitorais, que passam por confiar em setores do regime político como o Congresso e o STF, que igualmente nos atacam e foram parte do golpe institucional de 2016 e da aprovação das reformas que descarregam a crise sobre nossas costas.

Leia mais: A esquerda institucional e a busca de um caminho de subordinação ao PT

Viemos defendendo a unificação das demandas e da luta dos estudantes e trabalhadores, para travar uma forte batalha em comum e enfrentar todos os ataques do governo Bolsonaro, exigindo que as burocracias sindicais e também as entidades estudantis, como a UNE, dirigida também pelo PT e PCdoB, construíssem o dia 19J desde a base, com assembleias em todos os locais de trabalho e universidades, para colocar de pé uma paralisação nacional, coordenando as lutas em curso. Essa unificação de forças e das pautas tem relação direta com o enfrentamento ao projeto de país que defendem tanto Bolsonaro, Mourão, os militares, como outros setores golpistas como os governadores, o Congresso e o STF. Diante de toda a situação catastrófica que vivemos de crise sanitária, que beira os 500 mil mortos pela Covid no país, e também a crise econômica e social com a crescente fome, desemprego e carestia de vida, é urgente que nos organizemos agora, confiando em nossas próprias forças.

 
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