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CPI DA COVID
O cinismo da oposição à Bolsonaro na carta da CPI
Juninho Caetano

A carta da CPI, escrita logo após o discurso de Bolsonaro em rede nacional, é mais um meio que alas do regime político usam para se distanciar da responsabilidade comum ao governo dos enormes danos da crise social, econômica e sanitária. Ao usar um discurso apoiado na grande manifestação do dia 29, o centrão alimenta a necessidade de avançar o uso dos mecanismos institucionais como meio de enfrentar o negacionismo, que inclusive a esquerda aprova, para figurar uma linha de oposição a Bolsonaro e salvar os benefícios de sua composição no governo.

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Ontem, 02/06, logo após o discurso de Bolsonaro em cadeia televisiva nacional que, inevitavelmente, veio como resposta ao ato do último dia 29, no qual uma vanguarda expressiva de estudantes e trabalhadores saíram às ruas demonstrando força e disposição de luta contra a gestão criminosa da pandemia e os imensos ataques desferidos pelo governo, a "CPI" soltou uma nota para lavar a cara do centrão com um discurso "racional" e de "oposição" a Jair Bolsonaro.

Evidentemente, os nomes que ganham destaque na assinatura são os de Omar Aziz (PSD) e de Randolfe Rodrigues (REDE), presidente e vice-presidente da CPI, respectivamente. Em um discurso de tom grandiloquente, a nota informa que a atenção adotada agora por Bolsonaro às vacinas veio tardiamente, especificamente com 432 dias de atraso, isto é, o período do início até a vigência da pandemia. A nota também condena a recusa do governo em comprar, no ano passado, 130 milhões de doses provenientes do Butantã e da Pfizer, que poderiam sanar o equivalente a metade da população brasileira.

Ora, é bastante factível que Jair Bolsonaro e toda gestão de seu governo foram os responsáveis pela catástrofe sanitária, que hoje acumula mais de 460 mil mortes. Vejamos se não foi o general Eduardo Pazuello a figura executiva da organização do Ministério da Saúde durante os meses mais duros da pandemia, negando a eficácia de vacinas, atrasando compras, fornecendo medicamento que atualmente não houve eficácia comprovada contra a Covid-19 em regiões que viviam dramas sanitários, como foi o caso do Amazonas. É mais do que contundente que Bolsonaro sabotou várias possibilidades de avançar com a produção técnica e científica do país e que o obscurantismo e o negacionismo da pandemia são seus traços ideológicos, bem como de toda extrema direita, os quais levaram milhares de trabalhadores à morte.

No entanto, o sujeito hoje que "clama" por verdade e justiça, como é o caso de Omar Aziz, não é senão membro do PSD, do chamado centrão, isto é, um conjunto de partidos que são fiéis a toda política neoliberal de Guedes, que aprovaram os principais ataques aos trabalhadores, como a reforma da previdência, os projetos e a privatizações já efetivadas de empresas estatais de suma importância, como a SEDAE no Rio, que inclusive estiveram na linha de frente da aprovação da MP 936 que cortou salários e suspendeu empregos no ano de 2020, beneficiando milhares de empresários pelo país. Além disso, o centrão faz parte de um dos pilares do golpe institucional de 2016 que produziu as condições de levantamento deste regime golpista, do agravamento da crise econômica e da constante queda na qualidade de vida da população com a retirada de direitos, aumento de desemprego, pobreza e, agora, as mortes em decorrência do coronavírus.

Observemos os governados do PSD e notamos se não foi Belivaldo Chagas, no Sergipe, que expulsou moradores por meio de ação violenta da PM em Aracaju. A repressão veio logo após uma semana da medida provisória do Ministério Público aprovada que proibia despejos coletivos durante a pandemia. Outro caso emblemático é o de Ratinho Junior (PSD-PR) que no final do ano passado apostou em fechar 7 escolas públicas em Curitiba, atacando o direitos de centenas de estudantes à educação pública e isso em plena greve de fome na qual professores reivindicam melhores condições de trabalho e salário. Esses dois casos podem ser adicionados aos sistemas de saúde pública lotados nos dois estados durante toda a pandemia, fruto da gestão de ataques de ambos governadores e total descaso com a vida da população pobre e trabalhadora que sofreu sem EPIs, testes massivos, desempregos e a atual insuficiência de vacinas.

Omar Aziz sustenta-se na enorme insatisfação social com relação ao governo Bolsonaro, e recorre à saída institucional para combater o negacionismo para, assim, chegar à tão sonhada verdade e justiça àqueles vitimados pela pandemia, isto tudo por meio da CPI, que teria como corolário o impeachment do presidente. Por fora do oportunismo de Aziz, e também de Rodolfe Rodrigues (REDE) ou Renan Calheiros (MDB), ao se apoiar nas grandes manifestações do dia 29 para edificar um tom mais forte de oposição ao discurso de Bolsonaro, parte da esquerda que alimenta ilusões na CPI e nos mecanismos institucionais também compõem o coro do "centrão racional" e se validam do peso das manifestações para alargar saídas que na verdade só beneficiam o regime do golpe e, eventualmente, condenaria Bolsonaro para fortalecer a entrada de Mourão no poder e toda casta militar igualmente responsável pela atual crise, além de deixar intacto toda a direita tradicional.

Por aí se vê quão cínicos e superficiais são tanto os representantes do polo opositor a Bolsonaro, localizados no centrão, que controla dezenas de cargos estratégicos e remessas de bilhões de reais em acordos do governo com o agronegócio, como são os próprios mecanismos institucionais que servem tão somente para desviar um explosivo cenário de luta de classes contra o regime para uma via por dentro das regras deste próprio regime. Nesta esteira soma-se que os mesmo métodos da CPI, de "anti-corrupção", são semelhantes àqueles utilizados pela Lava-Jato, preservando medidas como o Teto de Gastos que impede aumento de investimento na saúde, a reforma trabalhista que avançou na precarização e as privatizações que arrancam direitos e aumentam a pobreza, agravando, portanto a crise sanitária.

Isto sinaliza mais uma vez que toda a força que devemos centralizar é na luta organizada dos trabalhadores e estudantes e impulsionar a retomada das ruas, mas não exigindo o impeachment ou fazendo pressão pela CPI, como faz o PT e PCdoB, e até setores do PSOL, alinhando-se a uma política que o centrão também faz uso, mas promovendo greves massivas, exigindo vacinas para todos, proibição das demissões, fim da violência policial e pelo Fora Bolsonaro Mourão, militares e todos os golpistas!

 
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