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RACISMO
Prioridade de vacinação em SP reflete racismo e ódio aos pobres
Juninho Caetano

A prioridade de vacinação do plano de imunização de São Paulo demonstra que os critérios adotados sofrem um grande recorte de raça e classe. Ainda que João Dória (PSDB) se sustente encima de um compromisso com a ciência e com a saúde da população, em suposta oposição ao negacionismo de Bolsonaro, sua gestão reafirma sua demagogia e evidencia que os trabalhadores e a população negra são os mais negligenciados desde as escassas doses até os critérios pelos quais o plano de imunização está sendo conduzido.

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Como já viemos apontando e denunciando há alguns meses, contando com o suporte de dados estatísticos e pesquisas científicas, desde o começo da pandemia, o fenômeno de agravamento da piora da qualidade de vida é sobretudo sentido pelas camadas mais pobres da população brasileira, de uma forma geral. Aqui, especificamente tratamos da cidade de São Paulo, o maior contingente populacional do país e, consequentemente, uma capital mergulhada numa terrível desigualdade econômica e social que remonta ao passado escravocrata e colonial da região.

Com há de se imaginar, no capitalismo, a capacidade de "ficar em casa" é bastante restrita. A pandemia, na realidade, serviu tão somente para massificar e clarificar os efeitos da crise econômica. Pois, se antes, as populações periféricas, em sua maioria negra, já não tinha acesso a serviços públicos básicos, como hospitais de qualidade, moradias dignas, água potável e esgoto tratado, isto é, o mínimo de condições para poder garantir determinados cuidados para promover um isolamento racional e praticar hábitos que garantam segurança sanitária, agora sofrem destes problemas estruturais de forma agravada e concentram o maior número de mortes e contaminações.

Segundo pesquisa realizada por Aluízio Marino, Gisele Brito, Pedro Mendonça e Raquel Rolnik, retirada do site Labcidade (USP), "mesmo com padrões de distribuição espacial detectáveis, não foi adotada nenhuma política de prevenção territorializada para prevenir o contágio dos moradores desses bairros mais afetados. Consequentemente, vários desses bairros apresentaram focos ininterruptos de casos ao longo de vários meses (...)". Isto é, ainda que existissem suportes técnicos capaz de fazer um monitoramento científico da pandemia, a prefeitura de São Paulo (do então Bruno Covas, PSDB), negligenciou uma eficaz política pública de contenção do avanço das contaminações nos bairros periféricos.

Outro dado relevante é com relação ao efeito e a condução da politica de vacinação que adotada, vejamos que segundo pesquisa "a opção de vacinar os mais velhos primeiro, mais sujeitos a situação de agravamento da doença e morte, resultou num percentual desproporcionalmente maior de vacinados no chamado eixo sudoeste da cidade, onde se concentra uma população branca com maior média etária e mais renda", ou seja, trata-se de bairros que não foram gravemente afetados pelo vírus.

Em continuidade, esse trabalho também destaca que, para além da habitabilidade das pessoas mais pobres e mais prejudicadas pela pandemia, a rotina de deslocamento para o trabalho é decisiva na concentração do coronavírus. Com isso, mais uma vez, se evidencia o peso que deve-se dar para o sistema de transporte público e as jornadas de trabalho dos trabalhadores, principalmente aqueles que não pararam durante todos esses meses e que precisaram entrar em contato com muita exposição ao longo dos dias.

Um alerta bastante crítico que é também um dos nossos eixos de análise é que "Embora algumas categorias profissionais bastante expostas ao vírus tenham sido incluídas (a exemplo dos profissionais do serviço funerário, da área de segurança e salvamento, dos serviços administrativos de hospitais públicos e privados e motoristas, metroviários e cobradores) a maior parte das categorias de trabalhadores que atuam nos serviços essenciais ou que voltaram a funcionar a partir das medidas de flexibilização ainda não estão previstas no cronograma de vacinação". Este trecho reforça a que serviço está os discursos de suposta oposição ao negacionismo de Bolsonaro, como é o caso de Dória: pura demagogia que se apoia superficialmente na ciência e na vacinação enquanto milhões de trabalhadores continuam a enfrentar precárias condições de trabalho e contraem o vírus a partir desta realidade de exploração.

Como destacamos no início desta breve análise, São Paulo é mergulhada nas profundas raízes históricas das consequências da escravidão e do Estado colonial, responsáveis por deslocar toda população negra às subalternidade políticas, econômica e social, que só foram fortemente enfrentadas graças a luta organizada do povo negro na luta abolicionista até a formação da classe trabalhadora. O período republicano fez tão pouco mais que manter e naturalizar toda a herança e, consequentemente, utilizá-la a favor do desenvolvimento capitalista na grande capital. A pandemia, mais uma vez, reafirmou que o rosto da precarização é negro e da mulher negra principalmente, lembremos que a primeira vítima fatal do coronavírus não foi senão um empregada doméstica que entrou em contato com os patrões contaminados.

O corte racista do programa de vacinação de SP é também atestado na pesquisa, a qual descreve que "Como se pode ver no mapa a seguir, os territórios com maior incidência de Covid-19 são territórios onde mora a maior parte da população negra da cidade. Por outro lado, os territórios onde mais se vacinou até agora são onde se auto segrega a população branca de renda mais alta."

Este estudo é parte importante de retratar esse regime do golpe institucional, em que os trabalhadores sofreram imensos ataques que arrancaram direitos encima de direitos e que amargam a fome, o desemprego e a morte pela covid-19 em decorrência da magnitude que pandemia tomou no país.

Ainda assim, além da política de vacinação estar a passos largos, o povo pobre continua a ser duramente penalizado por critérios dos planos nacionais de imunização classistas e racistas. Neste sentido, reafirma-se o papel que cumpre a unidade da classe trabalhadora, com a força das mulheres, estudantes, negros, da comunidade LGBT por vacinas para todos, pela quebra de patentes, uma lei que proíba demissões e um auxílio emergencial que corresponda a um salário mínimo. E essa luta se combina a ir para ruas no próximo dia 29 contra Bolsonaro, Mourão e militares, responsáveis pela política criminosa da pandemia, mas também para questionar todo esse regime político capitalista degradado que também se suporta pelo Congresso, STF e governadores que auxiliaram e se beneficiaram das reformas promovida pelo governo.

 
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